Policial que resgatou surda defende Libras no currículo escolar
Neste da 6 de julho é comemorada a promulgação da Lei Brasileira da Inclusão. Há cinco anos, com o advento da lei, as esperanças se renovaram no sentido de se ampliar a defesa e assistência cidadã aos deficientes de uma maneira geral. Mas há muito o que fazer e um dos desafios é a prática da inclusão pela “sociedade normal”. A inclusão de disciplinas no currículo escolar é um dos gritos para que se forme gerações verdadeiramente comprometidas com a atenção e amor para com as pessoas com deficiência.
O pedido para inclusão no currículo escolar são de especialistas da educação inclusiva, como forma de moldar desde a infância o sentimento de integração, atenção e amor ao próximo. Este pedido foi feito, também, por uma policial militar que atende ocorrências com pessoas com deficiência.
EXPLORAÇÃO E MAUS TRATOS
No dia 25 de junho, um fato em Campo Grande-MS chamou a atenção no Brasil. Um caso de exploração de uma mulher surda, que estava sendo mantida em cárcere privado pela própria irmã, onde era feita de escrava para a execução de serviços domésticos, além de ser cuidadora do pai doente. Seu grito de socorro foi de forma silenciosa, escrevendo um “X” na palma da mão e enviando para outro familiar que reside no interior do Estado. O X na palma da mão é da campanha “Sinal Vermelho” do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para denunciar a violência doméstica no Brasil.
O pedido foi recebido e encaminhado para as autoridades, que foram verificar a denúncia. A responsável pelo resgate da deficiente explorada foi a policial militar Gizele Guedes Viana, de 45 anos. A sargento tem uma irmã surda e levou para as ruas a experiência de interpretar o anseio de quem não fala. Gizele aprendeu a Língua Brasileira de Sinais (Libras) para dar suporte na comunicação com sua irmã Laura, 13 anos mais jovem que ela.
Na ocorrência de Campo Grande, a sargento Gizele colocou seu aprendizado mais uma vez, interagindo com a vítima pelo olhar e pelos sinais. Gizele contou, na ocasião do resgate, que a vítima nem precisou falar, bastou o olhar. “Tenho facilidade em entender. “Quando vou fazer esses atendimentos é uma satisfação poder ajudar e compreender. Muitos amigos nossos ficam perdidos na ocorrência e não entendem. É algo bem delicado, eu sempre vou de coração aberto. Nesta [a da irmã explorada], quando fui conversar do lado de fora para saber melhor da situação, foi como se eu tivesse passado a minha vida inteira conversando com ela”, diz.
Como familiar de deficiente auditivo, a policial fala que seu desejo é poder fazer com que mais deficientes se sintam compreendidos. “Eles precisam ter o entendimento por parte dos ouvintes”, e o caminho defendido é “Libras no currículo escolar”.
“Quando vou fazer esses atendimentos é uma satisfação poder ajudar e compreender. Muitos amigos nossos ficam perdidos na ocorrência e não entendem. É algo bem delicado, eu sempre vou de coração aberto. Nesta [a da irmã explorada], quando fui conversar do lado de fora para saber melhor da situação, foi como se eu tivesse passado a minha vida inteira conversando com ela”, diz.
LAURA É O ORGULHO DA FAMÍLIA
Laura tem hoje 33 anos, é formada em Recursos Humanos, e não esconde o orgulho que sente da irmã. Sobre o atendimento, especificamente desta vítima, ela diz que “foi muito bacana”. “Muito orgulho da minha irmã e muito feliz”, escreveu Laura em mensagem.
Das três filhas da família Guedes Viana, Laura foi a única que conseguiu terminar o ensino superior. “Eu e minha outra irmã deixamos para trás, e ela continuou. Pra mim, ela é orgulho, tenho uma admiração imensa pela Laura”.
A “temporona” da casa nasceu em 1987, quando a mais velha nem pensava em seguir carreira na Polícia Militar. Aos oito meses de vida, Laura foi diagnosticada com surdez profunda, o que fez com que a família se mudasse de Bela Vista para Campo Grande e aprendesse, além de Libras,a olhar a vida pela perspectiva da caçula.
(Da redação com Paula Maciulevicius Brasil, do Campograndenews)