Luana Rolim de Moura, 26 anos, primeira vereadora com síndrome de Down no Brasil

Luciana, vereadora down, Rio Grande do Sul,

A fisioterapeuta Luana Rolim de Moura, 26 anos, repete uma frase da qual se diz autora:

— Não subi pelo elevador, e sim pelas escadas.

A gaúcha fez história na política nesta semana. Com a licença do titular por problemas de saúde, foi empossada vereadora em Santo Ângelo-RS, nas Missões, e se tornou a primeira pessoa com síndrome de Down a ocupar cadeira em um legislativo municipal. O ineditismo é confirmado pela União dos Vereadores do Brasil (UVB) e pela Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down.

A jovem teve 633 votos em 2020 e ficou na suplência. Apesar de votação maior do que a de alguns eleitos, não ganhou a vaga devido ao quociente eleitoral do seu partido, o PP.

Em entrevista, Luana não escondeu a felicidade. Reforçou, no entanto, que o cargo é de grande responsabilidade e que fez uma lista de iniciativas para melhorar a cidade:

— Estou escrevendo em uma agenda vários projetos que envolvem a síndrome de Down e outras deficiências. Preciso combater o preconceito, porque a nossa sociedade ainda é preconceituosa, e trabalhar por mais acessibilidade.

Devido à pandemia, os trabalhos no Legislativo ocorrem de forma remota, e sua titulação foi por meio de transmissão pela internet. Registrada pela família, uma foto da jovem com o braço estendido marcou o momento. A camiseta usada no evento tem um pedido abaixo da síndrome gerada pela trissomia do cromossomo 21: “Conhecer para respeitar”.

— Ela é meu exemplo, minha estrela. Uma pessoa insaciável na busca de conhecimento — emociona-se o pai, o servidor público aposentado Pedro Tadeu Rolim de Moura, 75 anos.

Luana é filha única. Gosta de dançar, caminhar com a mãe e gasta horas em frente ao computador em pesquisas sobre os mais variados temas. O gosto pelos estudos a levou à graduação em Fisioterapia, em 2019, pela Faculdade Cnec. Trabalhou um ano no Centro de Emagrecimento e Qualidade de Vida Mara Personal.

— Dedicação, disciplina e comprometimento da Luana com os alunos e pacientes mostrou o quanto ela é especial — diz a educadora física Mara Helena Osório da Silveira, sua antiga chefe.

Orgulhosa, a parlamentar conta que já foi procurada até por um jornalista de Miami, nos Estados Unidos, além de receber contatos de diferentes veículos nacionais. Admite que ter deficiência representa um desafio, mas rebate:

— Não existem barreiras. Quem tem síndrome de Down pode tudo.

— A gente não precisa nem brigar pra ela estudar, sabe, como muitos pais — acrescenta Moura, não menos orgulhoso que a própria vereadora.

Por mais de uma vez durante a entrevista, a fisioterapeuta lamentou o preconceito que ainda sofre.

— Os pais, não quero que eles escondam em casa a pessoa com síndrome de Down. Quero que eles tenham mais amor a seus filhos.

A vereadora diz ter perdido as contas de quantos elogios recebeu nos últimos dias. Para o presidente da Câmara de Santo Ângelo, Nader Hassan Awad (PSD), a posse representa “uma vitória da democracia, com uma visão de inclusão e inserção social”.

Ídolo de gerações que acompanharam o futebol nos anos 1990, Romário — atualmente senador pelo Podemos do Rio de Janeiro — enviou a GZH uma gravação em homenagem à gaúcha:

— Quero parabenizar você, Luana. Desejo sucesso no seu mais novo desafio. Você hoje é a primeira, mas tenho certeza e fé em Papai do Céu que muitas como você virão pela frente.

Romário conheceu Luana em um evento no Senado em 21 de março de 2019. A data marca o Dia Internacional da Pessoa com Síndrome de Down. O carioca tem uma filha com o mesmo diagnóstico e milita por igualdade para quem tem a alteração genética.

— Tenho uma filha com síndrome de Down, que me motiva a acordar todas as manhãs e saber que preciso ser um homem melhor — complementa.

Provocada se tem planos de alçar voos maiores, como Câmara dos Deputados ou até mesmo a Presidência, ela ri mais uma vez. E pede calma:

— Presidente, quem sabe, um dia. Mas vamos ver, né? (Fonte: GZH)

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