No MT, dentista cria passador de fio dental para pessoas com deficiência

Aparelho resistente e sem prazo de validade foi desenvolvido para pacientes com restrições motoras – Foto: Alair Ribeiro

Sem um dos braços, uma paciente do dentista Marcelo Coelho de Carvalho se sentia constrangida ao ter que pedir para alguém passar-lhe o fio dental. E, em uma conversa, pediu que ele criasse algo que lhe permitisse fazer a higienização dos dentes sem depender da ajuda dos outros.

O primeiro aparelho foi feito com resina epóxi apenas como um teste, em 2013. Depois, durante o Mestrado na Faculdade de Medicina e Odontologia São Leopoldo Mandic, em Campinas (SP), Carvalho desenvolveu o aparelho final em uma impressora 3D. Esse projeto passou por diversas versões e levou em torno de um ano para ficar pronto.

“Eu precisava desenvolver um projeto para o Mestrado e me veio a ideia de fazer esse aparelho em um tamanho anatômico ideal, em um aparelho único que pudesse acessar todas as regiões [da boca]”, explicou.

Marcelo também se preocupou com o tamanho do passador. Precisava ser apropriado para adultos e crianças. Além disso, o especialista destacou que o aparelho deve ser sem pontas e polido para não ferir a cavidade bucal.

O dentista explica que a principal vantagem do aparelho é que não é necessário colocar a mão dentro da boca para alcançar as regiões mais profundas.

“Tem certos pacientes que podem oferecer riscos para quem passa o fio dental. Às vezes a pessoa pode morder”. O passador de fio foi desenvolvido para pacientes que apresentam deficiência motora e não conseguem utilizar a técnica de passar fio dental com as duas mãos.

“A aplicação pode ser para idoso, paciente em hospital, paciente com AVC, paciente que só tem um braço”, esclarece o especialista. Outra qualidade do aparelho é a sua durabilidade e resistência. Segundo Carvalho, o dispositivo não tem prazo de validade e pode ser feito de polímero, acrílico, desde que ofereça resistência.

A assepsia é bem simples: com álcool o aparelho pode ser higienizado. É atóxico e não acumula bactérias.

Prevenção às doenças

A região interdental – espaço entre cada dente – é uma área em que as cerdas da escova não alcançam, então é uma região propícia para o desenvolvimento de doenças, de acordo com o dentista.

“Para você desestabilizar essa progressão, precisa usar o fio dental para remover a bactéria. Se o paciente não usa o fio dental, ele tem uma predisposição para desenvolver a cárie”, expõe.

Marcelo afirma que trabalhar com a prevenção é mais eficiente do que a terapia curativa, que seria fazer uma restauração, tratamento. “Sempre a prevenção em primeiro lugar, por isso que o aparelho é importante”.

Marcelo Coelho de Carvalho desenvolveu o projeto durante o mestrado

O especialista aponta que o fio dental em forquilha é um perigo para a saúde bucal. De acordo com ele, reutilizar a mesma faixa de fio dental em diversos dentes diferentes pode acabar espalhando bactérias para as regiões saudáveis.

“Com aquelas forquilhas, você vai passar a mesma faixa de fio em dentes diferentes. Então você vai passar bactérias de um dente para outro”, alertou.

Com esse passador de fio, o usuário gira o fio e sempre passa uma faixa nova em cada região, sem contaminar as outras áreas da boca.

“Sempre que você usar, você tem que dar corda no aparelho. Não tem nada complicado, é só puxar um pouco o fio”, explicou Marcelo.

Distribuição

Apesar dos pontos positivos, o aparelho ainda não é disponibilizado para os pacientes. O dentista produziu apenas 50 passadores de fio, que foram doados para a clínica da faculdade em Campinas testar e realizar pesquisas.

Ele aguarda a análise do Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) para adquirir a patente, mas o processo está em trâmite há cinco anos.

  No entanto, Carvalho diz que as especificações técnicas estão disponíveis na sua dissertação de Mestrado para os interessados em replicar o modelo.  Segundo ele, o aparelho pode custar entre R$ 50 e R$ 100 para fazer a prototipagem.

A tese de mestrado pode ser acessada aqui.

(Bianca Fujimori, do midianews)

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