Crônica: Gicelma Chacarosqui escreve Dr. Amor
Por Gicelma Chacarosqui
DR. AMOR
Meu propósito não é repetir sua história. É apontar a fábula do destino trágico do Dr. Amor, quem sabe seu epitáfio…
Certa manhã, final de expediente ouço as meninas murmurarem: “Uauuuuuuuuuuu, que perdição”, dizia uma, outra emendava, “não é um pedaço de mal caminho é o caminho maligno inteiro”. Olhei para a Faculdade de Ciências da saúde e enxerguei ele, lindo, soberano, a vontade, vindo graciosamente com o jaleco jogado de forma despojada nos ombros… O andar parecia de onça, leve, gracioso, deliciosamente soberbo. Que linda imagem, tão jovem, tão alto, tão lindo, com a vida toda a gritar por ele na glória da plenitude…Sim, uauuu, que coisa maravilhosa, apelidei aquele esplendoroso aluno, de Medicina, de Doutor. AMOR.
Hoje, abrindo as páginas dos jornais virtuais, enxerguei meu Dr. Amor, recém formado Médico, como mais uma história dramática e barbara e cheia de hipóteses. Morreu matado, de forma cruel, espancado, com as mãos e pés atados, talvez estrangulado, em cima de uma cama qualquer. Mais um apaixonado? Os apaixonados traidores da fronteira não inspiram epitáfios piedosos. Apenas um corpo em decomposição, achado após dias de procura… Mais uma morte matada, em uma história fantástica de fronteira, a ser desvendada…Da plenitude à mortificação, e às delicias da especulação.
Ninguém ignora o mistério, as heterodoxias e inclusive as infâmias de uma história torpe, insólita, que comove a cidade dourada, que de boca em boca não murmura outra coisa, senão a narrativa do Jovem Doutor Amor e sua vida de fera ou vítima. Ah, que espelho monstruoso esse do destino que faz com que os jovens tenham temor, mas não tenham receio. Aguardemos o anverso e o reverso dessa moeda que já foi tão esplendorosa…