Mulher negra: Audiência discute propostas para políticas públicas em Dourados
Audiência pública promovida na noite de terça-feira (22) na Câmara Municipal de Dourados reuniu representantes do poder público e da sociedade civil organizada para debater os desafios da mulher negra na sociedade. Propositor da atividade, o vereador Olavo Sul (MDB) propôs que as discussões não ficassem somente no plenário. Diante dos debates sobre o tema “Diálogos interseccionais entre mulheres negras”, foi definido que será elaborado um documento com propostas para ser encaminhada à Coordenadoria de Políticas Públicas para Mulheres de Dourados, órgão vinculado à prefeitura.
Presidente da Comissão Indígena e Afrodescendente na Câmara, Olavo Sul promoveu a audiência com a proposta de construir propostas para serem encaminhadas ao poder público. Ele destacou a luta das mulheres negras ao longo dos séculos e dos avanços que, embora pequeno, já mostram resultados, como a Lei de Cotas que dispõe sobre reserva de vagas para negros e indígenas em concursos públicos promovidos pela Prefeitura de Dourados, sancionado no mês passado.
Os debates foram mediados pela professora Kelly Cristina Silva Vieira, do Simted (Sindicato Municipal dos Trabalhadores em Educação) e contou a participação das professoras doutoras Maria de Lourdes dos Santos (pró-reitora de ensino e graduação/UFGD), Claudia Cristina Ferreira Carvalho (Coordenadora de estudo afro-brasileiro/UFGD) e Cintia Santos Diallo (Coordenadora do Centro de Estudos, Pesquisa e Extensão em Educação, Gênero, Raça e Etnia/UFGD), além da advogada Alyne Joyce Santos Koehler (Comissão da Igualdade Racial OAB/Dourados-Itaporã), a psicóloga Letícia da Costa Nunes (Conselheira do Comafro e representante das religiões de matriz africana), a professora Lucimar de Souza Arguelho; Luhara (Dra Honoris causa e coordenadora Conesul coletivo de mulheres negras), a bióloga Rosana Alexandre da Silva (Conselho de Defesa das Mulheres) e a psicóloga Valnice Farias Gomes (psicologia e relações raciais). Também esteve presente a psicóloga Andreia Bonito Silva (coordenadora de políticas públicas para mulheres de Dourados).
A luta da mulher negra e os desafios ainda presentes foram lembrados no debate. A professora doutora Maria de Lourdes destacou que a cota racial no concurso e vestibular é um avanço, contudo, no dia a dia, o currículo de uma mulher negra sempre será renegado diante de uma mulher branca, por mais que ela tenha todas as capacitações necessárias. “Os negros sempre serão vistos como suspeitos”, enfatizou.
Nessa mesma frente discorreu a professora doutora Cláudia Cristina, ao destacar que o racismo estrutural é muito presente, o que faz manter a desigualdade. Isso reflete nos indicadores de educação, com evasão escolar, e também na saúde, com menor acesso a tratamentos e cuidados. Outro dilema apontado por ela foi a violência obstétrica, além da dificuldade da mulher negra estar presente no curso de medicina, o mais disputado no país.
A advogada Alyne Joyce destacou as conquistas recentes e o longo trajeto para as mulheres negras trilharem. Citou como exemplo a Comissão de Igualdade Racial recém criada na OAB, mas que já está trazendo avanços, principalmente na área da educação, com palestras sobre o combate ao racismo.
A professora Luhara lembrou que é preciso que, cada vez mais, as mulheres negras ocupem espaços de decisão, para isso será preciso muitos avanços. Entre eles a criação de Conselho de Direitos Humanos voltados à questão racial e o fórum sobre direito e religião, para discutir racismo estrutural e religioso muito presente na sociedade.
Todos os apontamentos discutidos na audiência pública serão encaminhados à Coordenadoria de políticas públicas para mulheres de Dourados. A proposta, segundo o vereador Olavo Sul, é fazer com que o poder público possa atender as reivindicações das mulheres negras, de forma a implementar ações afirmativas nas mais diferentes áreas.
(Assessoria CMD)