Nada de flores: como é o 8 de março de quem combate violência contra as mulheres?
Nesta sexta-feira (8) é comemorado o dia da Mulher e é comum que as mulheres recebam flores, cartões ou até presentes dos maridos, namorados, amigos e até das empresas em que trabalham. Apesar da ‘aura’ de comemoração, para quem lida com casos de violência contra a mulher, a data traz reflexão e é um dia de luta. Só no mês de janeiro, a Casa da Mulher Brasileira atendeu 1.364 vítimas de violência.
Coordenadora da Casa da Mulher pelo Governo Federal e assessora técnica da Secretaria Nacional de Política para Mulheres, Tai Loschi acompanha histórias de violência contra a mulher há quase 15 anos. Mesmo em um dia como este, os casos de violência continuam chegando à delegacia, mas para a especialista, esta sexta-feira (8) é um dia de reflexão sobre o machismo, a violência e o feminicídio. Para ela, os números já são uma prova de que o problema existe.
“Esta foi a primeira Casa da Mulher Brasileira, inaugurada em 2015 e que agora completou quatro anos. Neste período foram 51 mil mulheres atendidas, são mais de mil atendimentos por mês e cerca de 45 por dia”, explica. Para a coordenadora, o surgimento de um local apenas para o atendimento da mulher é a prova de que os casos não ficarão esquecidos e de que a violência de gênero saiu do guarda roupa.
“Se não ficar comigo, não vai ficar com mais ninguém”
Para quem lida com casos de violência diariamente, o conselho é que as mulheres procurem ajuda no primeiro alerta de que o relacionamento é abusivo. “No primeiro desentendimento, procure ajuda. Sim, porque depois começam os xingamentos, os empurrões, a ameaça e a injúria”, diz Loschi.
Segundo a especialista, há uma frase famosa que é praticamente uma sentença de morte para as mulheres. “Se não ficar comigo, não vai ficar com mais ninguém”, esta é a frase que acende um alerta vermelho e está presente em todas as histórias que envolvem feminicídio.
A especialista em gênero conta que nos casos de agressão ou de feminicídio, há um padrão que deve ser notado: o agressor sempre procura destruir a ‘parte’ da mulher que ele acha a mais bonita. “Você já ouviu falar de um assassinato que o marido ou namorado esmaga o crânio da mulher ou a deixa desfigurada? Isso mostra que ele admirava o rosto dela. Quando ele é atraído pelos seios, ele a atinge naquele local. Quanto ele admira suas costas ou nádegas, ali que ela vai sofrer, normalmente com facadas”, conta.
Neste Dia da Mulher, a importância está em chamar a atenção para as políticas públicas. Segundo Loschi, é preciso que haja transversalidade, ou seja, que a temática da violência contra a mulher esteja presente na área da saúde ou da educação. Como exemplo, ela cita palestras para crianças em escolas.
Por que eles batem e matam
Tão comuns no dia a dia e nos noticiários, histórias de violência contra a mulher quase sempre envolvem um namorado, marido ou um ex companheiro. Dados do Mapa da Violência Contra a Mulher em Campo Grande apontam que o ciúme está entre as principais causas para a agressão. Ainda há a ideia de que o homem é dono da mulher.
Entretanto, motivos fúteis também estão presentes nas agressões. Segundo Loschi, os homens podem ficar irritados por outras razões, mas escolhem a mulher para descontar as frustrações, por serem mais frágeis. “São coisas que ninguém imagina, até se o time dele perde, é ela quem sofre. Por que ele não bate no dono do bar? Não, ele vai para casa e bate nela, que é mais frágil. Já no caso do feminicídio, é um crime de ódio, inafiançável”.
Nos quatro anos na Casa da Mulher, Loschi afirma que já presenciou muitas histórias que a chocam até hoje. Teve um caso em que o homem matou a mulher com 18 facadas, foi feminicídio. Na entrevista coletiva, ele foi perguntado sobre o que fez e disse: eu só me lembro de quatro”, relembra.
Para mulheres que queiram denunciar uma situação de abuso ou violência, os telefones para atendimento são 67 4042-1324, 190 ou 180.
(Midiamax)