Até amamentar pode ser bem complicado quando ninguém liga para mãe surda
Quem é surdo, desde que nasceu ou por outra circunstância, além de lidar com todas as dificuldades que a deficiência apresenta, ainda precisa lutar para viver momentos importantes no dia a dia. E, desta vez, não estamos falando de acessibilidade somente nas escolas ou na universidade. A lista de lugares sem nenhum comprometimento com a pessoa surda cresce e está entre os principais problemas.
Essa discussão veio à tona no fim de semana durante o 1º Encontro de Mulheres da Comunidade Surda realizado pela Afapsms (Associação de Famílias, Amigos, Profissionais e Pessoas Surdas de Mato Grosso do Sul), reforçando o que é necessário para acabar com qualquer barreira que atrapalhe a vida de pessoas surdas.
Foram dois dias de palestras, experiências e histórias no palco sobre tudo o que os surdos enfrentam, principalmente, as mulheres.
Se o problema é saúde, nas redes públicas de atendimento elas não conseguem se comunicar com ninguém. Ao precisar de segurança, na delegacia não há policial ou funcionário que saiba a língua. Se um casal de surdos passar mal dentro de casa, como conseguirá pedir socorro? O questionamento levou o público a pensar em medidas para que essas e outras situações sejam sanadas. “Um aplicativo, por exemplo, facilitaria a vida da comunidade surda”, explica a professora Aparecida Lopes, de 50 anos, uma das fundadoras da associação.
No palco, Ângela Maria Franco, narrou a falta de sensibilidade e informação quando ela quis acompanhar a filha no parto e ver o neto nascer. Ela chegou a ouvir da equipe de enfermagem que só atrapalharia, mas exigiu a presença de um intérprete.
“Era um prazer ver meu neto nascer e entender tudo o que estava acontecendo, porque os meus partos foram muito difíceis. E foi angustiante porque não temos essa acessibilidade nos hospitais de Campo Grande. É um direito da mulher surda ter uma intérprete ali para passar a informação. Eu consegui ter uma intérprete, mas nós não podemos para de reclamar porque muitas mulheres passam por essa situação sem nenhuma ajuda”, declarou Ângela.
A primeira noite no hospital exigiu força de Ana. “Eu ficava com meu bebê no colo e com medo de algo acontecer, por isso, passei a noite inteira sem dormir com medo dele passar mal e eu não ver, como iria pedir socorro? Vivi todas as dificuldades e, sobre a amamentação, eu via todas as mães amamentando, mas ninguém me explicava como era, então sentia muitas dores”, lembra.
Para o presidente da associação, Adriano Oliveira Gianotto, as atuais leis não amparam 100% a comunidade surda, por isso, é preciso discutir medidas para a mudança. “Esse primeiro encontro evidenciamentos mulheres que lutam, que precisam de leis porque elas têm muitas barreiras pela frente. Já fiz um projeto e vamos debater sobre essas propostas para melhorar a condição de atendimento”, garante.
Composta hoje por seis surdos e seis ouvintes, a associação iniciou ano passado, através de mães que viram a luta de seus filhos por direitos. “Meu filho é pré-adolescente, mas não eu tinha um local para que meu filho tivesse o convívio também com os surdos. Porque ele já convive diariamente na escola, em casa e na rua com ouvintes, então acho que é muito importante os surdos terem o contado com a identidade cultural dessas pessoas”, explica Aparecida.
(Por Thailla Torres, do Campograndenews)