Professora negra condena 131 anos da falsa abolição no Brasil
A população negra no Brasil tem os piores indicadores sociais quando o assunto é vida e trabalho. Em função das condições desiguais e até degradantes em algumas situações, relegam essa parcela da população a um quadro de quase escravidão, semelhante ao que os negros viviam na época imperial no Brasil. A análise é da professora Luzia Aparecida do Nascimento, que preside a Unegro Pantanal Rondonópolis, que é a entidade de Negros pela Igualdade.
Segundo Luzia, a data de 13 de maio – que no calendário oficial é atribuída a abolição da escravatura no Brasil – não dá para ser comemorada, pois ela não representa a libertação do povo negro. Promulgada em 1.888, a chamada Lei Áurea completa neste dia 13 maio 131 anos. “São 131 anos de falsa abolição do negro no Brasil” afirma Luzia, acrescentando que a luta não é contra os brancos e sim contra o sistema opressor e desumano.
Ao falar da falsa abolição, a líder feminina diz que não basta apenas os negros ficarem livres das correntes que os mantinham presos pelos seus senhores, pois são necessárias outras condições de vida e trabalho para que o ser humano tenha o mínimo de dignidade. “O sistema de vida imposto neste período mantém as pessoas sem poder aquisitivo para o mínimo de qualidade de vida, presos a uma corrente que escraviza a todos que não tenham os meios de produção, especialmente o povo negro”, analisa.
“VITIMISMO”
Luzia Nascimento é contundente ao condenar a onda do “vitimismo”, que qualifica quem reclama das condições de vida como pessoas sem capacidade e, no caso dos negros, estes são citados como sendo os próprios racistas, absolvendo a perversidade do sistema. “Somos um povo capaz e provamos isso todos os dias, o que necessitamos é de oportunidades, fato que os números oficiais mostram com clareza o que vemos no nosso cotidiano: a desigualdade brutal nos indicadores social e humano”, observa.
NÚMEROS DA DESIGUALDADE
A mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 2017, mostra que há forte desigualdade na renda média do trabalho: R$ 1.570 para negros e R$ 2.814 para brancos.
O desemprego também é fator de desigualdade, sendo mais alto entre pardos (13,8%) e pretos (14,6%) do que na média da população (11,9%).Dados também da PNAD só que mais antigos, de 2015, mostram que apesar dos negros e pardos representarem 54% da população na época, a sua participação no grupo dos 10% mais pobres era muito maior: 75%.
Já no grupo do 1% mais rico da população, a porcentagem de negros e pardos era de apenas 17,8%. A taxa de analfabetismo é mais que o dobro entre pretos e pardos (9,9%) do que entre brancos (4,2%), de acordo com a PNAD Contínua de 2016.
Quando se fala no acesso ao ensino superior, a coisa se inverte: de acordo com a PNAD, a porcentagem de brancos com 25 anos ou mais que tem ensino superior completo é de 22,9%. É mais que o dobro da porcentagem de pretos e pardos com diploma: 9,3%. Já a média de anos de estudo para pessoas de 15 anos ou mais é de 8,7 anos para pretos e pardos e de 10,3 anos para brancos.