Flamarion é o 1º trans a ser submetido a mastectomia na rede pública de MS
O tatuador Flamarion Patrizio Diniz, 24 anos, é o primeiro homens trans a passar por cirurgia de mastectomia pela rede publica de saúde em Campo Grande, que passou a integrar a lista das capitais habilitadas a fazer o procedimento em pacientes transexuais.
A retirada dos seios foi feita no HU (Hospital Universitário). A cirurgia foi realizada no Centro Cirúrgico da Maternidade no HU, passo que antecedeu espera de cerca de dois anos. O ginecologista e obstetra Ricardo dos Santos Gomes explicou que Flamarion passou por acompanhamento que inclui tratamentos clínico, psicológico, psiquiátrico e hormonal. Depois da análise, é feito relatório para avaliar o risco cirúrgico.
A mastectomia começou por volta das 13h e durou pouco mais de uma hora. Ele foi transferido para o quarto e deve receber alta ainda esta semana.
A mãe dele, a bancária aposentada Iza Diniz, estava ansiosa com a cirurgia, um marco em processo que começou quando Flamarion ainda era menina, mas não se identificava com o gênero. “Meu filho era infeliz, agora começou a ficar completo”.
Iza disse que entendeu a necessidade do filho em passar pela cirurgia e que esta é a primeira etapa de redesignação que ainda passará por outros procedimentos. “Amo meu filho, ele é meu orgulho”. O nome Flamarion é tradição familiar.
Habilitação – Desde janeiro de 2017 o ambulatório transexualizador do HU realiza atendimentos psicológicos e, desde abril do mesmo ano, oferecia o tratamento hormonal. Até então era preciso pagar ou esperar na fila por até 5 anos para fazer o procedimento em outro estado
Agora, o hospital passou a integrar a lista das cidades aptas ao procedimento, que inclui Goiânia, Porto Alegre, Recife, São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Os pacientes que desejam realizar a cirurgia de redesignação sexual são primeiramente acolhidos por assistentes sociais, depois passam por consultas com psicólogos e, posteriormente, para o tratamento hormonal. Para homens trans (que nasceram mulheres) é utilizada testosterona injetável. Já nas mulheres trans (que nasceram homens) é aplicado estrogênio e um antiandrogênico (espironolactona ou ciproterona).
Ricardo Gomes explica que a habilitação deve desafogar a lista nacional, já que os casos em Mato Grosso do Sul serão atendidos dentro do próprio estado.
O médico diz que, segundo os movimentos sociais, há 300 pessoas trans em MS, entre homens e mulheres. Destes, 130 estão fazendo acompanhamento em unidade de saúde e fazem acompanhamento médico.
Do total, quatro homens trans já aguardam vaga e devem passar pela mastectomia, única cirurgia disponível para redesignação em Campo Grande, por enquanto. “Processo é sério, não é do dia para noite, é demorado, justamente para que a pessoa possa ter certeza que é aquilo que ela quer”.
(Por Silvia Frias e Clayton Neves, do Campograndenews)