Adriana entrou em “quadra” no nascimento e nunca mais parou de competir
Quem vê a paratleta Adriana Rolon, de 36 anos, rondando por Campo Grande mal sabe a história por trás dessa pequena grande mulher. Prematura de seis meses, Adriana entrou em quadra no nascimento e, desde então, disputa espaço na competição da vida. Com deficiência nos braços e nas pernas, a acadêmica de Educação Física coleciona medalhas na bocha adaptada, mas precisa de ajuda para trocar seu kit de bolas.
A bocha adaptada é dividida por classes e, por isso, Adriana decidiu tatuar sua equipe BC4 no braço. De sorriso fácil, a paratleta é pura força de vontade e os dribles nas dificuldades começam no nascimento.
Adriana veio ao mundo de forma prematura aos seis meses. O pequeno bebê não pôde ser medido devido à deficiência nos braços e pernas, mas pesava pouco mais de um quilo. Devido à fragilidade e visível processo de desenvolvimento, a recomendação era de permanência na incubadora por mais três meses, fato não obedecido pelo médico da époc
“Eu fiquei só mais 25 dias e o médico me deu alta. Ele disse a minha mãe que poderia me levar para casa para esperar a hora, pois um bebê ser certeza de vida não poderia tomar a vaga de outro. Minha mãe com 18 anos na época teve de ouvir isso”, lembra Adriana.
A paratleta conta que a família sempre foi muito católica e que por sua vida fizeram até promessa à Nossa Senhora de Caacupé, santa paraguaia.
“Elas não cortariam meu cabelo até os 7 anos e assim foi. Assim que completei 2 anos, minha mãe me levou ao mesmo médico e novamente ele perguntou a minha mãe o que ela faria comigo, pois eu não sentaria, não falaria e só vegetariana. E minha mãe disse que não importava, pois eu era seu pedaço. Assim que saímos do consultório, minha avó que sempre acreditou em simpatia, já colocou um pintinho para piar na minha boca. Hoje falo mais que o homem da cobra. Uma cirurgia no quadril também já me permitiu sentar”, conta Adriana.
Reviravolta – Aos 36 anos, Adriana se reencontrou com o médico, mas desta vez foi numa conversa totalmente diferente.
“Minha mãe trabalha no posto de saúde e me ligou contanto que ele estava de plantão naquele dia. Ela perguntou se eu queria vê-lo e eu fui. Ao entrar na sala estiquei minhas mãos e minhas pernas e perguntei se ele se lembrava de mim e ele respondeu que não. Eu disse que eu era o bebê de 1982 nascido de 6 meses, que ele havia desenganado. Ele se espantou e não sabia onde enfiava a cara. Ele pediu desculpa e justificou que naquele tempo não tinham recursos suficientes. Deixei o consultório em paz”, lembra Adriana.
Por não ser aceita em escolas regulares, Adriana foi alfabetizada pela mãe em casa. Mas em 1991, aos 8 anos, Adriana foi levada até à Secretaria Municipal de Educação. “Minha mãe indignada me colocou sentada na mesa da secretária da época e exigiu uma vaga. Eu provei que não tinha deficiência cerebral. Eu escrevi meu nome, o da minha mãe e o da secretaria para provar que minha deficiência só atingia meu corpo. A secretaria conseguiu uma vaga imediatamente. Eles me matricularam na pré-escola, saí do pré-escolar lendo e segui até fim do ensino fundamental”, conta.
Adriana tentou trabalhar em vagas destinadas a pessoas com deficiência, mas precisou voltar à escola e terminar o ensino médio para tentar se encaixar no mercado de trabalho. Adriana iniciou a faculdade de Educação Física com 80% de Fies. Mesmo assim as parcelas foram pesando e a paraatleta precisou trancar o curso.
“Sem estudo a gente não é nada. Tive que voltar a estudar. Mesmo com 80% de financiamento pagava mais de R$ 480, mensal. Na UCDB atleta ganha bolsa. Se eu soubesse teria iniciado lá”, frisa.
O primeiro esporte praticado por Adriana foi a natação, para o desenvolvimento ainda criança. A bocha chegou a sua vida em 2007.
“Na época eu tinha muita força no braço, porque minha cadeira não era motorizada. Fui ao meu primeiro campeonato e não me classifiquei, porque na bocha não é a força que manda. Fiquei brava e disse que não queria mais saber. Continuei estudando, fazendo cursos e procurando emprego. Mas não consegui nada, porque as empresas não contratam cadeirantes. Contratam deficiente, mas deficientes que andam. Hoje decidi me profissionalizar na bocha. Hoje sou paratleta, me dedico a bocha”, disse.
A dificuldade de conseguir apoio abrange quase todas as categorias esportivas no Brasil. E assim como outros atletas tentam arrecar recursos no semáforo, Adriana não ficou atrás. Ela faz o que chama de “semáforo solidário”. Como a cadeira é baixa, a paratleta adaptou um coletor de dinheiro, com um pau de selfie e um coador de pano.
“Alguns carros são muito altos, como as caminhonetes. Eu não alcanço quando eles ajudam, aí fiz a adaptação”, conta Adriana.
Kit novo – O problema é que o kit de bocha de Adriana completou cinco anos e as bolinhas estão se abrindo. O material não dá mais para ser usado. “Estou perdendo o material de dentro que é o polietileno. E esse kit que eu tenho que usar vem de Portugal é importando e custa mais de R$ 2 mil. Um colega conseguiu comprar e com frete pagou R$ 2,8 mil. Não tenho condições de comprar e não gostaria de parar as competições”, conta.
O kit de bocha vem uma maleta e 13 bolas, sendo seis vermelhas, seis azuis e uma branca que é a bola alvo. Na última terça-feira (5), Adriana conseguiu um kit emprestado e mesmo sem conhecer os materiais passou numa seletiva para a disputa regional que acontece em julho, em Uberaba, Minas Gerais.
Se você deseja ajudar Adriana com algum valor, segue as contas: Poupança da Caixa: Agência 1568; Operação 013; conta 00047171-6 ou Banco do Brasil: Agência 7114-5; conta corrente 10350-0.
(Por Danielle Valentim, do Campograndenews)