Em Cuiabá, entidade “transforma” materiais recicláveis em cadeiras de rodas

Galpão da Associação Paz e Bem, em Cuiabá, que recebe materiais recicláveis – Fotos: Alair Ribeiro

Em 2017, o advogado Fábio Pacheco, de 39 anos, teve a ideia de unir a preocupação com o meio ambiente e a vontade de ajudar o próximo. Foi quando decidiu criar a Associação Paz e Bem, no Parque Residencial Tropical Ville, em Cuiabá.

Entre outras ações desenvolvidas no barracão, ele e os voluntários arrecadam materiais recicláveis para conseguirem comprar cadeiras de rodas.

As doações são enviadas a cadeirantes que não possuem condições financeiras para aquisição, por meio do Projeto “Mão na Roda”.

De acordo com ele, o nome do projeto não faz referência às cadeiras de rodas. Ele contou que muitas pessoas ficavam surpresas e o agradeciam por criar um local onde material recicláveis poderiam ser deixados.

Apenas no ano passado, em uma campanha com parceria da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Mato Grosso (OAB-MT), 11 toneladas de papel foram arrecadados. Após o processo de prensa e venda para reciclagem, os livros e apostilas se transformaram em 8 cadeiras de rodas.

Materiais recicláveis são vendidos e dinheiro é usado para a compra de cadeiras de rodas

ábio explicou que, em Mato Grosso paga-se pouco pelo quilo de material reciclável, motivo pelo qual é necessário acumular grandes quantidades para alcançar o valor necessário.

As cadeiras de rodas doadas pelo projeto são compradas em São Paulo. Duas transportadoras parceiras – Solidez e Águia Sul – fazem o transporte gratuito até a Associação Paz e Bem, na Capital.

“Em São Paulo, conseguimos pagar, em cada cadeiras de rodas, R$ 275. Já em Cuiabá, a mesma cadeira não sai por menos de R$ 640”, disse.

Algumas doações marcaram a existência do projeto, como para uma criança indígena e uma senhora de 105 anos. Para Fábio, não existe pagamento mais valioso do que os sorrisos e abraços com que os cadeirantes recebem a doação.

“A falta da cadeira de rodas não impacta só o cadeirante, tem toda uma família por trás. Então, quando fazemos essa doação, sabemos que estamos mudando muito mais do que a vida de uma só pessoa”, avaliou.

Criação da associação 

Fábio contou que, apesar da entidade levar o nome de uma saudação franciscana, não possui ligação direta com entidades religiosas.

O advogado afirmou que sempre sentiu vontade de ajudar pessoas carentes e, através de uma organização, imaginou que seria mais fácil chegar às camadas mais vulneráveis da sociedade.

“Na Paróquia Nossa Senhora de Guadalupe sempre fazem trabalho de doação de alimentos, roupas e cadeiras de roda. Vimos a necessidade de ajudar também, mas pensamos em favorecer não apenas as questões sociais, como também o meio ambiente”, contou.

Antes de conseguir alugar um galpão no Residencial Tropical Ville, em Cuiabá, o advogado relatou que os materais recicláveis eram abrigados em uma residência. Atualmente, Fábio não sabe precisar quantos quilos estão alocados no prédio.

“O papel, por exemplo, é um material muito volumoso. Guardamos em sacolas gigantes, com aproximadamente 15 kg cada. Mas, para uma cadeira, precisamos de, pelo menos, 1,5 toneladas de papel”, explicou, afirmando que o quilo do papel é comprado por até R$ 0,20 centavos.

Além do Projeto “Mão na Roda”, a Associação Paz e Bem também desenvolve outras ações sociais. Em parceria com o grupo de teatro Cena Livre, a entidade conseguiu doar quase 800 litros de leite entre 2018 e 2019.

“Quando os primeiros venezuelanos chegaram em Cuiabá, nós já tínhamos móveis, roupas e alimentos. A Águia Sul, que também tinha um projeto social, veio até o galpão e levou tudo para essas pessoas que estavam precisando. Também já doamos um enxoval completo para uma grávida”, contou.

Impacto ambiental 

O advogado ressaltou que, em 2018, a Associação Paz e Bem recolheu 49.150 kg de papel, além de mais de milhares de metros cúbicos de plástico que deixaram de ser jogados na natureza.

“Um estudo diz que a cada tonelada de papel reciclável 22 árvores são preservadas, então, apenas no ano passado foi o equivalente a mais de mil delas. Isso sem contar o plástico, latinha, garrafas PET, ferro e tudo mais que recebemos”, disse.

Atualmente 12 voluntários fazem parte da entidade para realizar os processos de coleta e triagem. Porém, Fábio explicou que o número da equipe se tornou pequeno com o passar dos anos.

“Para uma cadeira, precisamos juntar pelo menos 1,5 toneladas de papel”, contou Fábio

De acordo com ele, a associação recebe uma grande demanda para a coleta de materiais recicláveis – função que a equipe de voluntários não consegue desempenhar.

“Temos condomínios que fazem a coleta seletiva e querem entregar o material para nós, porém, se eu não tiver pessoal para fazer a triagem, não adianta. Começamos a receber muitas propostas para coletar recicláveis, mas tivemos que recuar para respeitar nossos limites”, disse.

O advogado contou que, pela falta de voluntários, passava os finais de semana ajudando a equipe na triagem dos materiais recicláveis. O serviço muitas vezes começava pela manhã e seguia noite adentro.

Além disso, com o próprio carro, Fábio também costuma fazer, por conta própria, a coleta de alguns materiais.

Utilidade Pública 

Em maio deste ano, um Projeto de Lei que declara de Utilidade Pública a Associação Paz e Bem foi apresentado na Câmara de Vereadores de Cuiabá. Fábio contou que a expectativa é conseguir o título nacional, para fazer com que a entidade ajude ainda mais pessoas.

“O título de Utilidade Pública é condição necessária para que a Associação Paz e Bem amplie suas parcerias e seu rol de apoiadores, garantindo assim maior pujança em sua atuação”, ressaltou.

Questionado sobre os próximos passos da organização, Fábio afirmou que um dos planos é idealizar a reciclagem do vidro. De acordo com ele, o descarte de objetos feitos de vidro tem se tornado um problema ambiental em Cuiabá devido à falta de locais adequados.

O galpão da Associação Paz e Bem, em parceria com o grupo Teoria Verde, também faz a coleta de óleo de cozinha. Além disso, doações de recicláveis também podem ser realizadas na própria sede.

Fábio ainda ressaltou que a entidade precisa de voluntários para conseguir continuar realizando o trabalho socioambiental.

(Por Bruna Barbosa, do Midianews)

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