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Em Jardim, professor Lúcio ressalta desafios e oportunidades da Rota Bioceânica

“Durante o evento “O Desenvolvimento de Jardim e Região do Pantanal na Rota Bioceânica: Educação Azul, Economia Azul, Sustentabilidade Global”, realizado na terça-feira (9), o professor Dr. Lúcio Flávio Sunakozawa (foto), coordenador do curso de Direito da UEMS e pesquisador do Centro Observatório das Rotas da América Latina (CORAL) e da Rede UNIRILA, apresentou uma análise ampla sobre os impactos da Rota Bioceânica para o Mato Grosso do Sul e a região do Pantanal.
Sunakozawa ressaltou que a rota, com previsão de consolidação até 2026, é um projeto transnacional que afetará diretamente as cadeias produtivas do estado. “Estamos acompanhando essa questão através de grupos de pesquisa da UEMS, em parceria com 15 universidades do Brasil, Paraguai, Argentina e Chile, além de instituições de outros continentes. Trata-se de um grande projeto bioceânico, com repercussões que vão muito além das fronteiras locais”, destacou.
Estrutura e gargalos logísticos – Segundo o professor, embora os benefícios sejam evidentes, há preocupações quanto à infraestrutura rodoviária e aduaneira. Ele alertou que, caso haja um fluxo diário de milhares de carretas adicionais, as rodovias sul-mato-grossenses podem não suportar a demanda. “As estradas precisam ser urgentemente duplicadas, recapeadas e modernizadas. O Brasil ainda trabalha de forma reativa na gestão pública, sem prevenir gargalos futuros, e isso pode comprometer a fluidez da rota”, afirmou.
Outro ponto sensível apontado por Sunakozawa é a legislação aduaneira, que considera um dos principais entraves ao avanço da integração comercial. “Hoje, os empresários brasileiros enfrentam dificuldades enormes na exportação por falta de harmonização das leis aduaneiras. Eu costumo dizer que, antes mesmo da pavimentação física, precisamos da ‘pavimentação jurídica’ da rota”, disse, referindo-se a artigo de sua autoria publicado na Europa. Observatórios e cooperação acadêmica.
O professor também destacou a contribuição do Observatório das Rotas (CORAL) e da Rede Universitária da Rota de Integração Latino Americana (UNIRILA) na produção de conhecimento estratégico. “A UNIRILA e o projeto ‘UEMS na Rota’ são hoje os mais ativos no mundo acadêmico dentro da temática. Só a UEMS reúne mais de 130 pesquisadores doutores em áreas que vão do direito e economia até saúde, turismo e meio ambiente. Essa produção é essencial para subsidiar políticas públicas e tomadas de decisão”, explicou.

Integração continental – Sunakozawa lembrou que a Rota Bioceânica do Mato Grosso do Sul, oficialmente denominada Rota 4 pelo Ministério do Planejamento, é parte de uma malha maior de cinco corredores bioceânicos que conectam diferentes regiões do Brasil ao Pacífico. Para ele, nenhuma rota pode ser pensada de forma isolada. “Há saídas pelo Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Foz do Iguaçu, além de alternativas pela hidrovia do Rio Paraguai e futuras conexões ferroviárias. O mercado internacional é que vai definir os caminhos, de acordo com custos e competitividade. Nosso papel é preparar o estado para aproveitar as oportunidades e mitigar os impactos sociais e ambientais”, destacou.

Desafios sociais – O pesquisador chamou atenção para os possíveis efeitos colaterais da rota, como aumento da criminalidade transfronteiriça, tráfico de pessoas e pressões sobre saúde e educação nos municípios estratégicos. “A academia vem alertando que as políticas públicas precisam ser mais dinâmicas e preventivas. O desenvolvimento é fundamental, mas deve vir acompanhado de ações de proteção social e ambiental”, concluiu.

(por Letícia Monteiro, da Rota Bioceanica News)

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