Médico da família vira balconista de farmácia em Rondonópolis

Simpático e humano, Jandry encara balcão de farmácia para sobreviver com dignidade no Brasil

De médico venerado pelos pacientes de um dos maiores postos de saúde da cidade de Rondonópolis a balconista de farmácia. Essa foi a transformação sofrida por Jandry Torres, 36 anos, médico cubano que veio para o Brasil pelo programa Mais Médicos e que, de 10 meses para cá, virou atendente de farmácia para garantir o sustento dele, da esposa e dos dois filhos: um 9 e outro de 13 anos.

A ocupação atual é por conta do resultado do Revalida, exame imposto pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) do Brasil para que o profissional da área possa exercer a profissão. É uma certificação complementar para o profissional se habilitar para a profissão, parecido com os formados em Direitos no Brasil que, depois de formados, têm que passar pelo exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), para poder assinar suas próprias ações. “No caso do Revalida é mais difícil, porque a análise da prova não é feita apenas por médicos e sim por outros profissionais que, muitas vezes, não interpretam a prova somente na ótica das respostas da Medicina e sim da disciplina Saúde no Brasil”, analisa Jandry, que já prestou o exame e ficou apenas a pouco mais de um ponto percentual necessário para se habilitar para atuar no Brasil.

Antes, Jandry prescrevia os medicamentos para as pessoas e hoje ele apenas vende o que seus colegas de profissão receitam, às vezes com ressalvas interior, pois como é formado e pós-graduado numa das melhores  escolas de medicina do mundo – a cubana – , sabe muito bem qual remédio combate verdadeiramente a doença. Por ser comprometido com a saúde, Jandry quando médico da família em Rondonópolis dedicava atenção e respeito aos pacientes, sem nenhum tipo de discriminação ou preconceito.

Como vendedor de farmácia, Jandry recebe menos de 30% do valor que ganhava como médico da família em Rondonópolis
A postura humana dedicada aos pacientes no Posto de Saúde da região da Vila Mamed, Jandry Torres tornou-se uma referência na cidade. Muitas vezes, quando o paciente não podia ir até o posto, o médico ia na casa do doente, antes ou depois de seu expediente de trabalho. Com o fim de seu tempo no Programa Mais Médicos, seu contrato não foi renovado, Jandry teve que deixar o posto. Como havia conquistado admiração e reconhecimento de centenas de pessoas, elas ficaram revoltadas com o anúncio de sua saída e um grande movimento foi feito no município pela sua permanência na unidade saúde. Mas sua saída foi consumada assim mesmo.
O carinho do povo brasileiro, especialmente os rondonopolitanos, fez com que Jandry Torres tomasse uma decisão que mudaria sua vida pessoal, profissional e familiar: ficar no Brasil e não retornar para Cuba. “Sou grato ao meus país de origem, me formou e me pós-graduou em Medicina. Mas, depois que formei família, tenho que pensar no lado econômico para sobrevivência digna e Cuba não dá essa perspectiva”, pontuou o médico.

Depois de decidir não retornar à Cuba,  o primeiro passo para ficar no Brasil foi pedir visto definitivo de permanência na Polícia Federal e o seguinte, mais penoso e incerto, buscar trabalho para dar sustento à sua família. “Tinha que ser algo relacionado à saúde”, disse o médico cubano, acrescentando que um mês depois da decisão estava ele de balconista numa rede farmácias, em Rondonópolis.

Jandry deu entrevista no estúdio de Valter Arantes, um dos amigos dele no Brasil ( Foto: Valter Arantes)
LÍNGUA, MAIOR DESAFIO
Indagado sobre os principais desafios em terras brasileiras, Jandry observou que o idioma ainda continua sendo uma grande dificuldade. Apesar de estar há quase cincos anos no Brasil, nossa complexa língua portuguesa ainda é um desafio a ser rompido, principalmente em função de suas variações verbais. “O Português é muito parecido com o Espanhol, a gente compreende até bem, mas temos dificuldade para falar, em função principalmente dos sotaques e da conjugação verbal.  E isso é um implicador no relacionamento com as pessoas, de nos fazer entender e ser entendido”, pondera o cubano.
Apesar das dificuldades com a língua, ele afirmou que conseguiu se adaptar bem em Rondonópolis e a maior vitória foi fazer amigos, citando especialmente as pessoas da Vila Mamed, onde ele trabalhava, além de outras pertencentes a círculos sociais diferentes. “Uma das qualidades do povo brasileiro é sua predisposição para fazer amizades e isto foi muito para mim aqui”, assinalou Jandry.
(Matéria editada para acréscimo de informações)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *