“Ser pai hoje é brigar todo dia com o macho que esperavam que fosse”

O filho Bruno, de 14 anos, André (pai) e Andreza, de 19 anos. (Foto: Arquivo Pessoal)

Se sempre foi difícil ser pai, imagina como é ter filhos empoderados? Hoje, ninguém aceita mais qualquer ordem. O problema é que culturalmente o homem sempre foi criado para ser o “macho alfa” e quando vira pai da mulherada da geração “meu corpo, minhas regras”, fica ainda mais complicado se adaptar.  André é um exemplo de quem precisou encontrar ferramentas para aceitar e compreender as escolhas da galera ultra conectada.

Pai do Bruno, de 14 anos, e Andreza, de 19, o empresário, escritor, publicitário e ator, André Luiz Alves, de 53 anos, foge do comportamento hostil de muitos pais que foram condicionados dentro de um universo machista para trabalhar e prover dentro de casa.

André exigiu de si conhecimento aliado à vontade de entender o mundo dos filhos. Nem rígido e nem permissivo demais, diariamente, busca equilíbrio para um diálogo. “Essa nova geração é frágil, não sabe lidar com as frustrações e isso acaba se tornando algo muito delicado. Sempre procurei criar um espaço de apoio e diálogo, com isso minha filha sempre teve esse espaço e consegue conversar de tudo comigo”.

Foi nesse caminho que a menina teve a liberdade de contar ao pai que estava namorando aos 14 anos e, aos 17, assumiu a bissexualidade. É fácil imaginar que as informações causaram uma confusão na cabeça do pai que, admite foi difícil compreender tudo no mesmo instante. “Ela namorou três anos e meio um menino, de repente chega pra mim contando que é bissexual e que estava apaixonada por uma menina. Eu tive que pedir um tempo para entender aquela situação”.

Foi através do conhecimento que André encontrou respostas para educar e compreender a escolha dos filhos numa geração diferente da sua. (Foto: Marina Pacheco)

Em seguida, André mostrou a filha que ela tinha com quem contar em todas as fases da vida, porque percebeu que a falta de diálogo poderia ser devastadora na vida dela e de qualquer adolescente. “Quando ela se relacionou com uma garota, logo em seguida, duas meninas gays cometeram suicídio. E em todos os velórios que eu fui ao lado dela, vi que não havia pais acompanhado aqueles adolescentes, o que me deixou preocupado”.

Ele também não condena os pais que passam pela mesma dificuldade, mas acredita que é dever conversar e compreender sobre a liberdade de escolha dos filhos. “Isso tudo é um processo. Ter lido e acompanhado as ideias de Paulo Freire, por exemplo, me fez ser uma pessoa que tem a inclusão como meta de vida. Nesse caminho entendi o que é emponderamento, o seu poder e importância de se libertar das amarras da vida”.

André diz ser um pai que  não criou os filhos em cima de dogmas, mas ensinou o que é diversidade religiosa. “Eu não posso exigir isso dos meus filhos, impor que eles tenham que ser de uma religião desde pequenos, porque isso é um decisão deles”, acredita.

Ao mesmo tempo que arte e os estudos teóricos lhe ensinaram como caminhar ao lado dos filhos, Andreza e Bruno são quem mais se dedicam a ensinar André, todos os dias. “É claro que eu tive uma base e a arte me ajudou muito a compreender a diversidade. Mas é na minha conversa com eles que eu aprendo. Andreza, por exemplo, me ajuda todos os dias a compreender discussão sobre o aborto”.

Atualmente a filha está grávida, o pai não esconde a felicidade em ser avô e, ao mesmo tempo, já se surpreendeu quando ela disse ser a favor da legalização do aborto. “Geralmente, é difícil eu pegar um tema e ficar em cima do muro, mas sobre isso ainda não tenho opinião formada. Continua enraizado aquela criação de que aborto é crime, por outro lado, vejo que o corpo é da mulher e ela tem todo direito. Então os filhos me ensinam e vejo as discussões atuais como algo muito importante, porque a gente como pai aprende muito”.

É claro que toda mudança tem um preço, no caso de André o que não falta é cobrança e ele briga todos os dias com o “macho” que esperavam que ele fosse. “Se já me cobraram? Muita vezes, inclusive, já chegaram ao ponto de me chamar de libertino. Mas eu não quero proibir, eu quero educar”.

André conta que não teve a mesma oportunidade com o pai quando era pequeno, por isso idealizava construir uma nova história com os filhos. “Eu concedi a meus filhos a liberdade de escolha. Não vou negar que fiz exigências, pedi a eles que não usassem drogas e que estudassem. Por que acho que a educação é a base de tudo e chance de elevar a sociedade a uma nova condição de vida”, finaliza.

(Fonte: Thaila Torres, do caqmpograndenews)

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