Na UFMS, borracha de pneu é testada em placa cimentícia para melhor conforto térmico
Sustentabilidade, reciclagem, eficiência energética, conforto térmico, redução de custos. São muitos os ganhos que se pode prever com o reaproveitamento ou reuso de resíduos de borracha de pneus em fins construtivos.
Nessa linha, o estudo de compósitos cimentícios com resíduos de borracha de pneus inservíveis para fabricação de placas de vedação de edificações está sendo conduzido pela mestranda e técnica em edificações da UFMS Enilda Maria da Silva Garcia de Freitas.
O reuso de resíduos de borracha de pneus inservíveis, ou seja, quando deixa de ter uso, na forma natural, já descartado, poupa recursos naturais e tem potencial de material construtivo eficiente, além de ser uma maneira de dar destinação final ao produto.
“Sabemos que parte desses resíduos de borracha de pneu é utilizado como combustível alternativo em fornos de cimenteira. Já que estamos dando essa destinação, porque não explorar a potencialidade que a borracha de pneu possui de baixa condutividade térmica em novas tecnologias nos ambientes construídos?”, questiona a pesquisadora.
Nessa pesquisa são estudadas “as dosagens de argamassas compostas pelas matérias-primas cimento, areia e resíduos de borracha de pneus inservíveis na confecção de placas de vedação com características de isolamento térmico”.
A principal preocupação é verificar o ganho em conforto térmico. “Na maior parte das pesquisas são verificadas as propriedades mecânicas quando é substituído agregado miúdo, a areia, pela borracha de pneu, mas sabemos que compósitos cimentícios com a borracha de pneu tem melhores características de isolante térmico quando comparados com composição semelhantes sem a borracha de pneus inservíveis. Queremos verificar o desempenho térmico em moradias sociais”, diz a mestranda da Pós-Graduação/Mestrado em Eficiência Energética e Sustentabilidade, orientada pela professora Ana Paula Milani.
Mistura
O pneu passa pela trituração e então é feita a separação, em uma esteira magnetizada, da borracha da fibra de aço. São utilizadas partículas de borracha menores semelhantes à granulometria de agregados naturais – areia.
Nas placas, a borracha é adicionada no volume total dos materiais constituintes sem que haja a redução da quantidade de cimento ou areia. “Nessa pesquisa estamos fazendo a adição e não a substituição, com ganho no volume total”, afirma.
A proposta é integrar as placas cimeníticias no sistema de vedação horizontal superior, em conjunto com o forro.
“Na maioria dos projetos habitacionais de interesse social – com dois quartos, sala e cozinha, banheiro, corredor de circulação e área de serviço externa – não há preocupação com as condições climáticas locais. E um dos responsáveis da elevação da temperatura interna de uma residência é a cobertura, por meio da exposição à radiação solar. Essas casas populares, muitas vezes, não possuem lajes e sim forro de PVC, sendo em alguns casos mais quente dentro do que fora da residência”, explica Enilda.
Produzidas no Laboratório de Materiais da Construção Civil da UFMS, onde já foram realizadas pesquisas com resíduos de borracha de pneus inservíveis comandadas pela professora Sandra Bertocini – como pode ser visto em Campo Grande no piso da ciclovia da avenida Afonso Pena – as placas passarão por ensaios no laboratório da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A ideia é produzir peças de 30×30, com espessuras de um a três centímetros, que serão avaliadas em ensaios de condutividade térmica.
A expectativa é ter um produto que atenda as normas brasileiras – NBR de componentes semelhantes do meio construtivo, e que possa reduzir o desconforto térmico e apelo aos eletrodomésticos refrigeradores.
Com o resultado, Enilda espera obter um produto que possa ser fabricado e que venha a atender principalmente as moradias populares. “Ainda há um preconceito, quando se trata de soluções inovadoras com materiais alternativos oriundo de resíduos, mas é algo disponível, economicamente bom, sem falar que estamos aliando a sustentabilidade com eficiência energética no ambiente construído e com um grande ganho na área ambiental”, completa.
(Assessoria)