Maria Firmina dos Reis, a abolicionista negra que se tornou a primeira romancista do Brasil
Maria Firmina dos Reis foi a primeira mulher a publicar um romance no Brasil. Úrsula, escrito com o pseudônimo “uma maranhense” em 1858, é considerado precursor da temática abolicionista na literatura brasileira, anterior, por exemplo, à poesia de Castro Alves – o épico Navio Negreiro é de 1858. Nesta sexta-feira, a abolicionista negra e educadora brasileira, falecida em 1917, tem seu 194º aniversário lembrado em um doodle do Google, desenhado pelo ilustrador Nik Neves, de São Paulo.
“Meteram-me a mim e a mais trezentos companheiros de infortúnio e de cativeiro no estreito e infecto porão de um navio. Trinta dias de cruéis tormentos e de falta absoluta de tudo quanto é mais necessário à vida passamos nessa sepultura até que abordamos as praias brasileiras. Para caber a mercadoria humana no porão, fomos amarrados em pé e, para que não houvesse receio de revolta, acorrentados como animais ferozes das nossas matas, que se levam para recreio dos potentados da Europa”, escreveu em Úrsula.
Nascida na ilha de São Luís, no Maranhão, em 1822, pouco depois de o Brasil ter declarado independência de Portugal, Maria Firmina dos Reis era filha de pai negro e mãe branca. Criada na casa de uma tia materna, teve contato com a literatura desde cedo. Seu primo, Sotero dos Reis, foi um popular gramático na época. Tornou-se professora de escola primária em 1847, após ser a aprovada em concurso público na cidade de Guimarães, no Maranhão.
Maria Firmina publicou poesia, ensaios, histórias e quebra-cabeças em jornais e revistas locais, além de compor canções abolicionistas. A literatura era seu instrumento de denúncia dos males escravidão, contraditória a fé cristã professada pela sociedade, que não se constrangia em lucrar com a venda de seres humanos. “É horrível lembrar que as criaturas humanas tratam seus semelhantes assim”, escreveu a autora em Úrsula.
Em 1887, publicou na Revista Maranhense o conto A Escrava, no qual descreve uma participante ativa da causa abolicionista. Seu trabalho, no entanto, caiu no esquecimento e só foi redescoberto na década de 1960. Úrsula foi reimpressa desde então.
(Fonte: El País)