Quando veem folhear o caderno colorido, cheio de fotografias, entregue no último dia de aula ao filho Miguel, de nove anos, os olhos da bióloga Andressa Karina Piacenti Amaral, 38, se enchem de lágrimas. Mãe de um menino autista, este ano ela viu de perto como pequenos gestos se tornam exemplos gigantescos e tornam os dias mais coloridos.
Professora e auxiliar educacional especializada que acompanha Miguel na escola e a professora regente em sala de aula entregaram ao menino uma lembrança no último dia de aula, como forma de carinho e agradecimento pela caminhada juntos em 2019. O caderninho personalizado com fotografias do aluno durante o ano, cartinhas de amigos e diversas lembranças que provam a beleza das diferenças fizeram mãe, pai e filho se emocionarem no encerramento do ano letivo.
Em um ano difícil para a educação inclusiva, em que Campo Grande tentou dispensar o auxiliar educacional especializado, o APE, que acompanha alunos com necessidades educacionais especiais na Reme (Rede Municipal de Ensino), a ação dentro de uma escola particular, que também faz parte de uma rede que ainda caminha devagar na inclusão, também deixou a mãe surpresa, mais do que isso, esperançosa.
“Foi um ano difícil e estávamos sem saber se ela continuaria ou não acompanhando o Miguel. Seu gesto de entregar o caderninho veio como um carinho enorme que encheu nosso coração de gratidão, em tempos em que a gente sofre com o preconceito quase semanalmente”, diz a mãe, Andressa.
O caderno foi elaborado e entregue pela professora de apoio Paula Rocha e a professora regente Simony Ortiz, do Colégio Dom Bosco. “Elas são pessoas que transformaram a vida do Miguel nos últimos dois anos. A professora de apoio faz adaptações lindas para ele e tem uma paciência enorme, porque em alguns momentos ele pode entrar em crise, além de ser uma pessoa maravilhosa”.
Miguel é autista diagnosticado desde os 5 anos e por enquanto não é alfabetizado. Paula não economiza na estimulação dentro da escola e tem feito diversas atividades que afloram o desenvolvimento de Miguel.
“Quando a gente pensa em escola é o ambiente que mais tem que acolher, e a inclusão precisa começar na escola. Os gestos dessas professoras provam como é fazer a diferença. Não é só a formação do cidadão. A escola faz diferença na vida”, comenta Andressa.
A mãe viu no caderninho colorido não só um carinho, mas um norte para a família, o filho e a escola vencerem o preconceito. “Eu queria uma educação inclusiva para o meu filho e encontrei”, afirma. “Não vou dizer que tudo é perfeito, de tempos em tempos é preciso sentar na escola e debater a inclusão, mas sinto que estamos no caminho certo. Nós precisamos de escolas com profissionais que lutem por isso, que acompanhem essa caminhada, não só pela obrigação de cumprir uma lei, mas de lutar com carinho por saber a importância e transformação através da inclusão”, explica.