Casos de pneumonia e câncer servem para quebrar crença de que narguilé não faz mal, diz médica
Os casos de pneumonia e câncer, de Mara Barbosa e Nayara Moura, nas últimas duas semanas servem para quebrar a crença de que narguilé não faz mal, avalia pneumologista e coordenadora médica do programa Inspirar, de combate ao tabagismo, Keyla Maia. O uso de narguilé é apontado como um dos fatores para o desenvolvimento e agravamento das doenças.
“O narguilé faz tão mal quanto o cigarro comum. Dependendo da frequência de uso, vai fazer mais mal porque uma hora de narguilé corresponde a produto de cinco maços de cigarros. O que aconteceu com essas pessoas serve de alerta para quebrar a crença de que narguilé não faz mal. Todo mundo usa, muitos pais compram para adolescentes. Então vamos ficar espertos”, avalia.
Além da falta de noção de risco, a socialização é um dos fatores que contribui para que adolescentes e jovens adultos passem a utilizar narguilé. As cores e exoticidade também chama atenção. “O que mais leva os adolescentes a usar narguilé é a socialização. Eles gostam de fazer coisas juntos e o narguilé é uma coisa muito bonita e exótica. Pode ter várias cores, apetrechos e sabores”.
A médica alerta que o narguilé pode ser a porta de entrada para dependência química de outras drogas. “Entra esse aspecto social, de brincar e lúdico, mas na verdade o adolescente está exposto a uma droga potente. A partir daí ele vai desenvolver a dependência química, partindo para produtos que sejam menos trabalhosos e possa consumir mais rápido”.
Não somente câncer e pneumonia, o narguilé pode causar na maioria dos casos alergia respiratória, como sinusite, faringite e asma, em adolescentes. Em seguida, são as infecções respiratórias que também ser desenvolvidas, como a tuberculose. Já em casos mais graves, geralmente adultos, é possível diagnosticar enfisema pulmonar e tumores.
Relembre os casos
Na última terça-feira (14), Nayara Moura relatou que pode ter desenvolvido câncer pelo uso de narguilé nos finais de semana ou sempre que frequentava uma festa. Aos 22 anos, ela perdeu 12 quilos em menos de um mês e isso levantou a suspeita de que algo estava errado.
Segundo ela, o diagnóstico lhe abalou muito, entretanto, seu medo maior não seria a doença. “Eu era muito vaidosa, só que o meu medo não era da doença, por incrível que, pareça eu tinha muito medo de perder o meu cabelo”. Nayara explicou que também começou a sentir falta de ar, dores nas costas, suor noturno.
“Eu nunca fui fumante, eu usava muito o narguilé aos finais de semanas, em festinhas. Sempre tinha, eu sempre estava usando”, lembra. Foi então que surgiram os primeiros sintomas na jovem. “Comecei a ter muitas tosses quando eu usava o narguilé, mas na minha cabeça, nunca que seria ele [narguilé] que estaria me fazendo mal”.
A jovem então fez um raio-x no pulmão. Assim que o médico viu o resultado, ela foi encaminhada rapidamente para uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O tumor já media 12 centímetros e o pulmão estaria coberto por uma espécie de massa. “Recebi essa notícia eu tinha 22 anos, hoje estou com 23. Já tem uns oito meses que eu estou nessa luta constante”. Nayara diz que o tratamento com quimioterapia deve prosseguir até março deste ano. Atualmente, ela mora em Dourados (MS).
Já no dia 9 de janeiro, Mara Barbosa foi quem fez um alerta em seu Facebook quanto ao uso do narguilé. Ela está internada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Ipase, em Várzea Grande, região metropolitana de Cuiabá, com água no pulmão e infecção no rim direito, que teriam sido causados por uma pneumonia.
“Já trocaram toda a minha medicação pra dor e agora eu estou tomando até morfina, um remédio que deveria ter durabilidade de seis horas, só que em mim o efeito não fica mais de quatro horas. Para eu não viciar, eles vão dando tramadol, dipirona e outros remédios pra dores, que só ajudam aliviar”, acrescentou.