Avanço do vírus: Pernambuco estuda lockdown e já pediu apoio do Exército

Governador de Pernambuco, Paulo Câmara, pede para população ficar em casa

Com queda na adesão ao isolamento social e a crescente sobrecarga no sistema de saúde, Pernambuco estuda aplicar lockdown, ou seja o bloqueios total nas cidades, por causa do avanço do novo coronavírus. Segundo autoridades sanitárias do Estado, o governo já pediu apoio do Exército e apresentou a proposta à Assembleia Legislativa e ao Ministério da Saúde.

“Hoje, o governador Paulo Câmara (PSB) chamou uma reunião com os demais poderes do Estado para discutir a necessidade de intensificação de isolamento social. A gente está desenhando esse processo e estudando como fazer para garantir que ele seja exitoso”, afirmou o secretário estadual da Saúde, André Longo. “É muito importante, neste momento, achatar a curva para que a gente possa chegar no pico da epidemia com o número menor de casos e de mortes.”

De acordo com Longo, o governo de Pernambuco enviou ofício ao Comando Militar do Nordeste, solicitando apoio em medidas restritivas contra a covid-19. O Estado teria pedido, ainda, auxílio do Ministério da Saúde para aplicar o lockdown.

“Nós fizemos questão de fazer esse pedido para que houvesse uma manifestação pública por parte do Ministério da Saúde, reconhecendo as dificuldades de Pernambuco”, disse o secretário. “Infelizmente, a gente ainda não tem a unidade que permita trabalhar, todos juntos, para construir o lockdown ou a quarentena necessária. E, após isso, construir a saída com critérios.”

Segundo o boletim epidemiológico desta segunda-feira, 4, Pernambuco registrou até o momento 8.863 diagnósticos e 691 mortes por covid-19. No Estado, 98% dos 435 leitos de UTI estão ocupados. “Não temos outra saída senão aumentar o isolamento social”, disse o secretário.

Na análise do governo, a situação mais preocupante é do Grande Recife, considerado epicentro da pandemia. “O balanço indica que 90% dos casos de maior gravidade estão localizados na Região Metropolitana do Recife, que tem também cerca de 85% dos casos de óbito”, afirmou Longo.

Monitoramento em Pernambuco aponta quedas consecutivas na adesão ao isolamento social, segundo o governo. Na última medição, feita na semana passada, o índice estava em 46% – bem abaixo dos 70% preconizados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Recentemente, também foram registradas filas e aglomerações em agências bancárias e lotéricas para a retirada do benefício oferecido pelo governo federal.

Secretário municipal de Saúde do Recife, Jailson Correia afirma que o relaxamento preocupa. “O Recife tem participado também desse debate (sobre lockdown)”, disse. “Existem estratégias voltadas para atuar cirurgicamente nos bairros em que há menor adesão, com trabalho reforçado de fiscalização e educativo, mas naturalmente há um limite.”

Na capital, 73 dos 94 leitos de UTI estão ocupados por pacientes com coronavírus. “Não estamos descartando nenhum outra medida necessária no momento”, afirmou Correia. “Qualquer medida que venha a ser colocada em prática depende da uniformidade de pensamento, coordenada com todos os entes federativos.”

Ainda de acordo com as autoridades sanitárias, tanto o Estado quanto a capital estudam tornar obrigatório o uso de máscaras nas ruas. No momento, a prática é apenas uma recomendação.

Cientistas sugeriram ao governo ‘lockdown parcial’

Desde a semana passada, com a taxa de ocupação de leitos acima dos 90%, grupos de cientistas de Pernambuco têm sugerido ao governo o endurecimento da quarentena. Em reuniões mantidas para discutir panoramas da crise com autoridades sanitárias, os pesquisadores defendem a aplicação de “lockdown parcial”.

“Em outros país, houve um fechamento radical, com as Forças Armadas nas ruas e as pessoas sendo multadas por sair de casa, mas a realidade social e econômica é incompatível com a nossa”, disse José Luiz de Lima Filho, diretor do Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami (Lika), da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

“Fazer o bloqueio total no Recife seria extremamente difícil e poderia causar uma revolta popular, com efeito muito pior”, afirmou o pesquisador. “Mas precisamos reduzir o número de carros e de ônibus nas ruas, fazer barricadas para diminuir o deslocamento entre as regiões: tudo isso é possível”, afirmou.

Para Lima Filho, aglomerações recentes e o afrouxamento do isolamento social tem impactado diretamente no aumento de casos, principalmente no Recife. “Hoje, estamos com risco grande de ter colapso no sistema de saúde”, disse. “Se fizermos agora uma coisa mais rígida, vamos ganhar lá na frente com a abertura social mais rápida.”

(Estadão)

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