Adolescente de MT busca a cura e atribui câncer ao excesso de agrotóxicos

Duda é paciente do Hcan e está na fase de manutenção: consultas de seis em seis meses

Eduarda dos Santos tem 12 anos. Desde os 8, a garota vaidosa, de riso fácil e cheia de sonhos combate um Dermatofibrossarcoma Protuberons, tipo raro de câncer. A principal suspeita dos médicos é que o tumor tenha se desenvolvido devido ao contato excessivo com agrotóxico. Duda como é chamada pelos familiares e amigos é paciente do Hospital de Câncer de Mato Grosso (Hcan) e está na fase de manutenção, quando o paciente se consulta de seis em seis meses.

A história dela vem a tona no momento em que a Câmara Federal discute endurecer as regras para a venda dos produtos orgânicos e flexibilizar a regulação de agrotóxicos no país. Entidades alertam para os riscos do uso indiscriminado do veneno nas lavouras. No meio das discussões vítimas, como Duda, lutam para se livrar de doenças, como o câncer, desencadeadas também por defensivos.

Duda é guerreira. Mora em Várzea Grande, com a irmã mais velha. Os pais estão em uma fazenda de gado em Pontaporã (MS). Quando a doença foi diagnosticada, morava em fazenda com a família em Alta Floresta (a 830 km de Cuiabá), que produzia soja. Aviões pulverizadores passavam na rotina lançando uma chuva de venenos encima da casa dela e das lavouras. “Nossa casa ficava bem perto da lavoura e quando o avião passava minha mãe corria comigo para dentro de casa”, lembra a adolescente.

Mas a tentativa de proteger a filha não foi suficiente. Um nódulo surgiu na região do tórax e foi crescendo. No espaço de um ano ficou do tamanho de uma laranja. A menina foi submetida a uma cirurgia para retirada do nódulo e a biópsia detectou o tipo de tumor. Como não havia casos da doença na família, o fator ambiente foi apontado pelos médicos como o principal agente desenvolvedor do tumor.

“O caso da Eduarda é complicado. Ela teve várias recaídas”, conta a irmã mais velha, Patrícia Almeida, 30. “Agora ela irá passar pela terceira cirurgia, pois o tumor volta. Aparece em outro local”, relata. “Ela tirou o primeiro tumor de 5 cm do tórax, retirou um que parecia uma íngua do pescoço de 4 cm e agora deve fazer nova cirurgia para retirada de um novo nódulo de 4 cm da região do pescoço”, cita.

A menina nasceu encarando desafios. Aos 10 dias passou por uma cirurgia no olho direito devido à catarata congênita, apesar disso perdeu 100% da visão desse olho. Ela nasceu com uma doença da pele (Nevo verrucoso) que é uma lesão amarronzada com verrugas próximo aos olhos e bochechas e deseja fazer tratamento dermatológico para clarear a região, mas a previsão é que só poderá fazer tratamentos estéticos após alta do Hcan, exceto massagens linfáticas, que estimulam células cancerígenas. Um dos efeitos colaterais da quimioterapia se deu na dentição da garota, que é acompanhada por profissionais do Centro Estadual de Odontologia para Pacientes Especiais (CEOPE).

Nenhum dos problemas afetou a auto-estima de Eduarda, que muitas vezes ensinou a família a encarar as dificuldades. “Uma das vezes que estava 20 dias internada no HCan, bem debilitada por causa da químio, vi minha mãe chorando. Falei para ela, mãe a vida só é dura para quem é mole, e nós não somos”, lembra. Na época Eduarda tinha 9 anos. Estava carequinha por causa da medicação e sem sobrancelhas, mas o sorriso sempre foi constante.

A irmã dela lembra que Eduarda ficou hospedada na casa mantida pela Associação de Amigos de Criança com Câncer (AACC) no Alvorada, em Cuiabá. E certa vez recebeu a visita de uma voluntária da alta sociedade que estava com depressão. A alegria da menina encantou esta senhora que convidou mãe e filha para irem ao shopping.

Lá perguntou para a pequena Eduarda: qual presente que você quer ganhar? Pode escolher qualquer coisa que vou comprar. A menina do alto dos seus 10 anos disse: quero brincar com você na piscina de bolinhas. “Os olhos dessa mulher se encheram de lágrimas e ela tirou o salto alto, o lenço chique e foi brincar toda feliz com a Duda”, conta Patrícia.

Longe dos pais para seguir o tratamento, Eduarda sonha em ser veterinária e voltar a viver na fazenda. Devido ao tratamento ficou afastada da escola, mas este ano, veio morar com a irmã, o cunhado e a sobrinha de 2 aninhos. Agora está matriculada no 5º ano, na Escola Estadual Milton Figueiredo, onde fez muitos amigos e pode fazer o que mais gosta, ler. “Quando estava internada o que mais me deixava triste era não poder ir a escola, aqui na AACC meu lugar preferido era a biblioteca, sempre vinha”.

A irmã afirma que a casa de apoio da AACC é fundamental para quem está em tratamento no Hcan, principalmente para famílias do interior. “Hoje a Duda mora comigo, mas no início ficou aqui com minha mãe, além de ser mais próximo da unidade, facilita muito”.

AACC-MT

Com o objetivo de garantir às crianças e adolescentes em tratamento contra o câncer o direito de alcançar a cura com qualidade de vida, a AACC-MT foi criada há 19 anos. A casa de apoio oferece hospedagem, alimentação, transporte (para hospitais, laboratórios, aeroporto, auxílio a exames e medicamentos) e suporte psicossocial e lúdico-pedagógico.

São 20 leitos para pacientes e outros 20 para acompanhantes, com grande rotatividade. O custo mensal gira em R$ 170 mil e a casa sobrevive de doações e campanhas.

Depois de dois anos a AACC volta a ser beneficiário da campanha MC Dia Feliz. “Passamos por auditoria e processos internacionais. O retorno da parceria é uma chancela de confiança do instituto a AACC-MT”, avalia a gestora da AACC e coordenadora da campanha, Perolina Cezar.

Ela explica que ao todo, 73 projetos de 60 instituições serão beneficiados com a arrecadação da campanha em todo o país. Os recursos obtidos com a venda de tíquetes antecipados realizada pela a AACC-MT, venda dos produtos promocionais com a marca McDia Feliz e sanduíches Big Mac (exceto alguns impostos) vendidos no restaurante do Shopping Pantanal beneficiarão o projeto “Serviço Social a Serviço da Vida”.

Tíquetes antecipados

A AACC-MT já está com os tíquetes antecipados disponíveis para a venda. Comercializados ao valor de R$ 16,50 cada um, o tíquete poderá ser trocado pelo sanduíche Big Mac na data do McDia Feliz, sábado, dia 25 de agosto. Os moradores da Grande Cuiabá, interessados na compra de tíquetes antecipados, podem entrar em contato direto com a AACC-MT, na Rua do Cajú, 329. Informações 3025-0800

(Fonte: Alcione dos Anjos/RDNews)

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