Amanda: Jovem indígena é aprovada em 1º lugar em Medicina da UEMS

A determinação de Amanda Caetano Amorim (foto), de apenas 20 anos, é surpreendente para uma pessoa tão jovem. A indígena, moradora da aldeia Córrego Seco, em Aquidauana, foi aprovada em primeiro lugar no curso de Medicina, na UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul) no primeiro vestibular que prestou, em janeiro deste ano.

Determinada, Amanda sempre soube no que ia se formar. “Eu sei desde quando comecei a ler, com 6 anos. Tive uma professora que dizia que por sermos indígenas, muita coisa era negligenciada para gente. Na época ela era acadêmica de Pedagogia e dizia que sempre era mais difícil para gente. E eu via muito disso”.

A jovem fez o ensino médio no IFMS (Instituto Federal de Mato Grosso do Sul) e lá já mostrou para que veio. Amanda fez o curso técnico integrado em Informática e participou de diversos cursos e eventos na área. Inclusive, ficou em terceiro lugar com seu projeto de pesquisa. “Apresentei na Febrace em 2020, no começo da pandemia. O projeto é a previsão de estudantes com risco de evasão utilizando técnicas de inteligência artificial”.

Ela estudou bastante e se dedicou para o vestibular e teve exemplos dentro de casa para isso. “Meu pai sempre sonhou em ter curso superior e minha mãe queria fazer Enfermagem. Na minha família, só tenho dois tios com nível superior. Minha irmã está no 4º ano de Direito na UFMS”.

Após muitos estudos, a conquista veio: o primeiro lugar na UEMS em um curso tão disputado, como Medicina. Amanda conta o sentimento de ver seu nome na lista, em primeiro. “Nossa, eu chorei demais. Sempre foi um sonho pra mim, desde sempre. Parecia que não era real, nem era comigo. Ainda parece que está errado de tão surreal que é. Mas eu fiquei muito feliz mesmo, nem parece que eu consegui, mesmo eu tendo estudado minha vida toda pra isso”.

Ela ainda disse  que foi para o IFMS para ter o ensino médio ‘massa’ exatamente para tentar passar em Medicina. O curso é em Campo Grande, e Amanda vem morar com a irmã, que está terminando Direito. “Estou esperando o resultado do Sisu, também tentei Medicina pela UFMS”.

No Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), a jovem tirou 900 na redação e pontuou 620 no restante das áreas. “Mas eu não entro com esse resultado. Na UEMS, estou em 10ª lugar de duas vagas. Pelo Enem, na UFMS, estou em 2º lugar de uma vaga”.

Ela se preocupa à toa, na verdade, porque já conseguiu ser aprovada pelo vestibular. Parte da sua grande conquista, ela dedica à orientadora do IFMS, Maria Ferreira Cristaldo. “Ela foi um alicerce pra mim no Instituto. Eu ia da aldeia pro IFMS todos os dias nos 2 anos e meio de presencial e se não fosse ela, eu não teria conseguido ficar e terminar”.

Amanda prestou o vestibular e o Enem grávida de Maria Luiza, que vai nascer em abril. “Nem sei como vou conciliar a maternidade com a faculdade, mas tudo que eu faço agora é por ela, para ela ter um futuro bom. Eu sempre vi a medicina como uma profissão linda e desde criancinha eu sonhava com isso e parecia tão distante. Pensar que meus primos e minha filha vão ter algo pra se inspirar”.

A jovem quer se especializar em Pediatria, mas logo que se formar, vai atuar como clínica geral nas aldeias. “Afinal, Medicina é cuidar dos outros”. (Fonte: O Pantaneiro)

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