Antes que setembro acabe: Artigo de pesquisadoras aborda prevenção ao suicídio

* Por Julianne Caju e Giselle Nunes

Foi inspirado no Dia Mundial de Prevenção do Suicídio (10/09) que o mês de setembro foi escolhido como o mês de alerta para os cuidados da saúde mental, para quebra de tabus sobre doenças emocionais e os transtornos mentais. É uma ação que ocorre mundialmente desde o ano de 1994. No Brasil foi instituído em 2013, com o lema “Se precisar, peça ajuda”, a cor amarela, a fita e o girassol compõem os símbolos da campanha.

A demarcação do período para a chamada de consciência, para o pedido de cuidado com a saúde mental e a solicitação de rede de apoio para a abertura de conversas sobre a temática são caminhos importantes para desmistificar as doenças mentais e também para salvar vidas. Para além disso, consideramos oportuno ampliar nossos olhares. Mais do que trazer soluções e respostas, apresentamos questionamentos que podem levar a outros caminhos para o grande desafio do cuidado com a saúde mental e com o bem-estar.

Para começar: essa campanha de setembro amarelo está a serviço de quem? As pessoas vivem e enfrentam muitos desafios o ano inteiro. Ousamos dizer que as pessoas que fogem do padrão heteronormativo, as que são colocadas às margens, que tem seus direitos desrespeitados, as que convivem diariamente com abusos e violências das mais diferentes formas sofrem todos os dias. Será que todos os problemas são realmente da ordem da saúde mental?

Outras perguntas que precisamos nos fazer: será que a nossa sociedade é a grande produtora de adoecimento psíquico das pessoas? Por que as pessoas que estão fora do que é dito como “padrão” não são apoiadas, acolhidas e amadas como elas são e devem ser? Por que o sofrimento é colocado como algo a ser combatido, muitas vezes com soluções rápidas e pouco efetivas? Por que temos dificuldades de perceber a raiz dos incômodos e das causas dos sofrimentos das pessoas?

Mais questões que podem nos ajudar a sair das nossas bolhas: O que o sofrimento faz com as pessoas? Quais são os reais produtores de adoecimento mental e físico das pessoas? Como os marcadores, raça, cor de pele, gênero, orientação sexual, crença, classe, idade, geração, dentre outros atravessam a saúde das pessoas? O sofrimento é individual ou é causado por contextos, fatores, abusos e violências? O que acontece com uma pessoa que tem sua identificação, sua escolha e sua decisão de vida negados e ignorados? Como apreender as questões que envolvem o sofrimento a partir das leituras sociais?

Ainda, mais problematizações que podem indicar outros olhares e sensações: Quais corpos recebem cuidado e atenção, de fato no atendimento e tratamento da saúde mental? Por que ainda alguns corpos são escolhidos e outros preteridos? O que significa a expressão: “O outro/ aquele outro?” Quem são as pessoas que são colocadas às margens da nossa sociedade e são lidas como fora da curva? Por que isso ocorre?

E também essas questões: ainda vivemos numa sociedade que prevalece “modelos” e “padrões” de ser, viver e pertencer enquanto cidadãos? Como as dores são lidas pela nossa sociedade e quais são eleitas como legítimas? De onde e quais perspectivas ocorrem essas escolhas? Quais grupos sociais têm segurado o zelo e o bem-viver? O que, de fato, nós precisamos: politizar o sofrimento ou despatologizar a vida?

São muitas as perguntas que perpassam o nosso nascer, viver e o morrer. Há tantas questões que atravessam o nosso existir! O mês de setembro é importante, mas precisamos de mais conversas, mais alertas e mais cuidados todos os meses do ano, porque a vida é cheia de mistérios, é envolvida por muitos contextos e fatores sociais.

 

*Julianne Caju é Jornalista, Professora e Pesquisadora.

*Giselle Nunes é Psicóloga, Professora e Pesquisadora.

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