Aos 12 anos, Ana produz telas para ajudar a pagar o tratamento do irmão
Vendo a angústia dos pais, que já não tinham mais de onde tirar dinheiro para comprar os medicamentos do irmão mais novo, Ana Paula Duarte Furtado sugeriu colaborar. Aos 12 anos, ela produziu telas e rifou a arte por amor ao menino, diagnosticado com grau severo de autismo.
A ideia surpreendeu os pais em 2016, pela maturidade da menina, que até então pintava por hobby. Mas a ajudinha não só garantiu naquela época as duas caixas do remédio de R$ 350,00 cada, como foi o impulso que a mãe Helenice Duarte Furtado, 41 anos, precisava para também colocar o seu talento à venda: os doces.
“Nossa única fonte de renda era o meu marido, Paulo. Em 2016, o Pedrinho desenvolveu um problema no estomago, pois selecionava os alimentos que comia devido ao autismo. Tínhamos nos endividado com o tratamento dele. Pegamos dinheiro com a família, empréstimo no banco e comprometido toda a renda da casa, mas ainda faltava comprar os remédios. Não tínhamos mesmo de onde tirar mais aquele dinheiro e foi quando Ana nos ofereceu suas telas”, detalha.
Na época, Ana ainda fazia aulas para aperfeiçoar o dom, que veio do pai. “Eu tinha que fazer alguma coisa, ajudar de algum jeito”, disse a menina, hoje com 14 anos.
Depois que a situação passou, Helenice não queria que a filha se sentisse pressionada ou mesmo responsável em ajudar e foi quando começou a aceitar encomendas de bolos e sobremesas.
“Não trabalhava, pois tinha que cuidar das crianças e Pedro inspirava mais cuidados. Participava de um grupo de mães com filhos autistas e eu sempre levava uma sobremesa. As meninas que me incentivaram começar a vender os doces. Comecei ali, com pequenas encomendas e elas foram me indicando para pessoas. Hoje graças a Deus não fico uma semana sequer sem encomenda”, conta.
Mas, mesmo com uma renda extra, nem sempre dá para pagar tudo. Helenice explica que o autismo tem altos e baixos e até hoje Ana é quem socorre os pais quando precisam.
“Esses dias mesmo, sabe aquele finzinho de mês? Então, Ana tinha vendido uma sequência de quadros e o pai dela disse ‘filha se você me arrumar o dinheiro assim que eu receber o pai te devolve’. E foi o que aconteceu, mas de novo Ana nos surpreendeu”, disse a mãe.
Ana aceitou o dinheiro de volta, mas o usou para pagar a parcela do seu aparelho dental e ainda comprou todo o material escolar. “Outras meninas poderiam usar o dinheiro para comprar a roupa da moda ou mesmo gastar com bobeiras. Nunca exigimos nada da Ana, ela sempre teve seu espaço. Mas, involuntariamente ela sempre esteve ali, para nós e principalmente para o irmão”.
Helenice se referia a forte ligação que Pedro e Ana tem um com outro. A irmã mais velha, não foge à regra, é super protetora enquanto o irmão a inclui na agenda que precisa ser rigorosamente cumprida. “E assim vamos. Um pelo outro sempre”, finaliza Ana.
(Por Guilherme Henri, do Campograndenews)