Aos 30 anos, Emanuelle é a mulher transexual que virou modelo de loja feminina
Que o mundo da moda começou a abraçar a diversidade não é novidade, mas ver grandes lojas nadar contra a corrente ainda é um desafio. Em Campo Grande, uma boutique de moda feminina é exemplo que merece ser compartilhado. A loja tem enfrentado uma série de críticas por escalar uma modelo campo-grandense transexual para trabalhar na marca, mas não abre mão da contratação. A escolhida é Emanuelle Fernandes, de 30 anos, que não esconde o orgulho pela conquista e o respeito à sua identidade.
Em suas redes sociais, a modelo compartilhou um clique durante um ensaio fotográfico para a nova coleção da loja Da Villa Store, localizada na Vila Planalto e no Shopping Norte Sul Plaza, na qual foi contratada como modelo oficial. A legenda foi em tom de gratidão pela oportunidade num cenário onde transexual recebe diversos “nãos”.
Nos últimos anos como modelo, Emanuelle contabiliza quatro lojas de Campo Grande que recusaram trabalhar com ela após saber da transexualidade. “Quando acontece da loja ver o meu perfil ela se interessa. Mas quando falo que sou transexual, ela perde o interesse. As lojas se fecham e demonstram que não há interesse no meu trabalho”, conta a modelo.
Seu talento e a beleza despertaram o interesse da proprietária da loja de moda feminina, que já conhecia a modelo como cliente, e entrou em contato oferecendo um teste. Emanuelle, logo de cara, falou que era uma mulher transexual, e foi surpreendida pela proprietária. “Ela me disse que isso não faria diferença e eu seria respeitada como mulher transexual. No primeiro dia de fotos ela me abraçou. Desejou-me todo sucesso do mundo, e disse que estava feliz. Naquele momento eu pude sentir total sinceridade”, lembra a modelo.
Mais do que um novo trabalho, a contratação de Emanuelle é um avanço na luta por representatividade, afinal, não é nenhuma novidade que marcas contratem modelos LGBTQI+ apenas para parecer inclusiva, enquanto nos bastidores o preconceito e a intolerância são sufocos recorrentes vividos pelos profissionais.
Na loja campo-grandense, Emanuelle sentiu a diferença. “Estou sendo respeitada, reconhecida como modelo transexual e valorizada pelo meu trabalho”.
Além disso, ficou feliz pela postura da proprietária da loja. “Eu fiquei surpresa. Porque isso é uma luta minha diária, mas não é uma luta dela, e ainda não é uma luta de muitas. Mas enquanto vemos inúmeras lojas que não contratam mulheres transexuais, indígenas ou negras, ela decidiu fazer diferente e de um jeito muito sincero”.
A reportagem conversou com Enice Lapinski, de 57 anos, empresária há seis anos e dona da boutique. Ela diz que sempre admirou o talento de Emanuelle, por isso, viu nela o profissionalismo, independentemente da identidade de gênero. “Pra mim é natural, ela é nossa cliente, ela é elegante, tem uma postura admirável e eu quis dar uma oportunidade a ela. Aqui não temos preconceito. Independentemente do que os outros pensem, ela continua sendo uma pessoa profissional e foi contratada pelos seus talentos”, afirma.