Casamento entre homens mais que dobra em MT e entre mulheres também cresce
Em maio de 2013, logo que o Conselho Nacional de Justiça obrigou todos os cartórios brasileiros a realizar casamentos civis entre casais do mesmo sexo, a médica Eliana Siqueira, 54 anos, começou a planejar a oficialização da união com a companheira, a assistente social Cristina Souza, 34.
Na época, elas estavam juntas há cinco anos. Haviam se conhecido enquanto trabalhavam no mesmo hospital. A oficialização da união era um sonho delas desde o primeiro ano de namoro. “Sempre soubemos que essa era uma forma de termos nossos direitos assegurados”, rememora a médica.
A garantia de direitos também motivou o marqueteiro Fábio Costa, 33, a se casar com o companheiro, em setembro de 2017. “Estávamos juntos há dois anos, havíamos construído a nossa vida juntos e vimos no casamento uma forma de oficializarmos nossa união para que pudéssemos ter segurança”, revela.
A decisão que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo foi proferida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em maio de 2011. A medida somente se tornou obrigatória em todos os cartórios dois anos depois.
Desde que o casamento entre pessoas do mesmo sexo passou a ser permitido, as uniões começaram a acontecer em todo o Brasil. Para os homossexuais, a decisão foi a conquista de um direito que, outrora, era restrito aos heterossexuais.
Em Mato Grosso, o número de casamentos entre pessoas do mesmo sexo cresceu no ano passado, apontou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre homens, a união, em comparação a 2016, cresceu 275%. Já entre casais de mulheres, o aumento foi correspondente a 61,54%. Os dados constam em estatísticas do registro civil, divulgadas pelo IBGE nesta quarta (31).
Conforme o levantamento, foram registrados 15 casamentos entre homens no ano passado, em Mato Grosso. No ano anterior, foram quatro registros. Enquanto no âmbito estadual o crescimento foi correspondente a 275%, na Capital o aumento foi de 200%. Em 2017, foram nove uniões entre homens em Cuiabá, enquanto em 2016 foram apenas três.
Em relação a uniões femininas, foram 21 registros no ano passado no Estado. Em 2016 foram 13 uniões. Já na Capital foram 10 casos e em 2017 e no ano retrasado não houve registros.
Conforme a pesquisa de estatística do registro civil, houve um aumento de 10% no número de uniões do mesmo sexo em todo o Brasil, no comparativo entre o ano passado e 2016.
Sonho realizado
Em 24 de maio de 2014, Eliana e a companheira oficializaram a união em um cartório de Cuiabá. “Ficamos muito felizes. Sabemos que para chegarmos até aquele momento, havia tido muita luta. Era uma conquista. A união não é apenas um título no papel, é uma forma de ocuparmos os espaços de modo igualitário e também de termos os mesmos direitos como um casal heterossexual”, pontua.
Ela se recorda que, antes da permissão para a união civil, era comum que casais homossexuais passassem a vida toda juntos sem ter os direitos respeitados. “Era comum que uma das partes morresse e o outro não pudesse ter direito a nada. Isso era muito triste”.
Fábio Costa também temia encontrar dificuldades em ter seus direitos assegurados durante os dois anos em que namorava o marido. Eles se conheceram em um pub da Capital e moravam juntos logo no primeiro ano de relacionamento. A decisão do casamento foi tomada em meados de 2017. Em setembro, se uniram formalmente.
“Depois que nos casamos, além dos nossos direitos, percebi que as pessoas passaram a encarar nossa relação com mais seriedade. Parece que antes não levavam a sério. Parece que por causa de um documento, mudam a visão que têm de uma relação entre duas pessoas do mesmo sexo”, declara.
Ele relata que depois que se casou, passou a fazer carteirinhas de clube em parceria com o marido e até apresentou a certidão de casamento em outros locais, como quando iniciou novo emprego. “As pessoas estranham quando veem que são dois homens casados, mas nunca tive problemas por causa disso”, diz.
Medo do futuro
Em meio aos avanços conquistados, Eliana teme que a eleição de Jair Bolsonaro (PSL) à presidência da República traga retrocessos. De extrema-direita, o presidente eleito teceu duras críticas a homossexuais ao longo de sua carreira. Há movimentos LGBTs que acreditam que ele pode tentar retirar alguns dos direitos da categoria, entre eles o casamento civil.
“Mas prefiro acreditar que ele não irá tirar nossos direitos. Porque é muito triste perdermos algo que lutamos tanto para conseguir. Seria um retrocesso muito grande”, diz.
Para ela, o Brasil atualmente vive um período de intensa intolerância, mas ela torce para que essa situação mude nos próximos meses. “Muitas pessoas se aproveitaram das declarações do Bolsonaro para liberar seus preconceitos. Isso é muito complicado. Mas espero que essa fase melhore”, declara.
(Por Vinicius Lemos, do RDnews)