Com a ajuda do filho, homem que perdeu perna dá a volta por cima e volta aos campos
Da noite para o dia, a vida de Joel Lídio Faustino, 40 anos, sofreu uma reviravolta que o motorista jamais pensou que viveria. Joel foi atropelado por um carro enquanto trafegava de motocicleta pela Avenida Cafezais, em Campo Grande e o responsável pelo acidente fugiu e nunca foi identificado.
O motociclista foi levado em estado grave para a Santa Casa da Capital e no outro dia, acordou sem perna. “Eu fiquei desesperado, a primeira coisa que pensei é que nunca mais poderia jogar futebol. Eu sempre fui apaixonado por futebol e me vi naquela situação, foi muito difícil”.
O apoio do filho foi fundamental na vida de Joel, que conseguiu dar a volta por cima e hoje, voltou aos campos e continua praticando o esporte que tanto ama. “Eu consegui uma prótese e hoje eu consigo jogar bola normalmente. Meu filho vinha sempre com a bola e pedia para eu treinar ele, quando um amigo meu foi em casa de prótese, meu filho ficou muito animado e falava olha aí pai, agorinha você vai ficar bom também. Hoje eu sou o único técnico de futsal amputado em Campo Grande”.
Confira a entrevista completa com Joel:
Pergunta: como aconteceu o acidente?
Resposta: eu sofri um acidente de moto no dia 1° de maio de 2009, na Avenida Cafezais. O cara me atropelou e foi embora, até hoje ninguém sabe quem é, não conseguimos identificar, só sobrou um pedaço do para choque que a polícia identifica como um Del Rei, mas até hoje nada foi confirmado. Fui levado para Santa Casa em estado grave, perdi a perna, dente, abriu a face, foi grave e até o médico falou que se eu acreditava em Deus era para me apegar, porque ele nunca viu uma coisa dessas porque fiquei só quatro dias internado e tive alta. Sumiu tudo que eu tinha, hoje eu sou um milagre de Deus.
Pergunta: como foi acordar no hospital e perceber que tinha perdido a perna no acidente?
Resposta: eu acordei 12 horas e fui levantar, a tendência é as duas pernas subirem, vi que subi uma só e a outra estava enrolada com faixa e me desesperei. Quando acordei chegou a enfermeira e a primeira coisa que veio na minha cabeça era que nunca mais eu ia jogar bola. Eu fiquei desesperado, a enfermeira me acalmou.
Pergunta: como foram os primeiros dias em casa?
Resposta: depois recebi amigos, familiares. Os primeiros dias foram muito difíceis, antes fazia tudo sozinho e do nada você se vê assim, sem saber para onde ir, onde adquirir uma prótese. Um amigo meu, o Nunes perdeu a perna em uma picada de cobra, ele soube e me deu essas informações. Ele ia me visitar e meu filho falava olha aí pai, daqui uns dias você vai ficar assim bom. Eu não chorava na frente dele, mas chorava escondido, é uma situação que você não espera, a família toda sofre.
Pergunta: colocou prótese depois de quanto tempo sem a perna esquerda?
Resposta: depois de um ano, eu consegui colocar a prótese. Meu amigo Nunes passou a informação, depois que aprendi como fazia, eu comecei a atender um, depois dois. Daí criei o projeto ‘Amigos do Joel’ para ajudar as pessoas que passam por isso.
Pergunta: os amigos continuaram te dando apoio após o acidente?
Resposta: um pouco da amizade, aqueles amigos baladeiras, amigos que estão do lado até por interesse somem, aqueles que no decorrer do tempo você deu pouca atenção, são os verdadeiros, iam me buscar em casa. Para muitos você se torna um incômodo, as pessoas vão buscar em casa e tem que levar cadeira, então para muitos você é um incômodo. Mas aqueles parceiros de verdade continuam, você pode contar a qualquer momento. Eles me levantaram, fizeram almoço para me ajudar, no tempo eu estava desempregado, estava no último mês de seguro, quando recebi o último eu acidentei. Contei com ajuda dos amigos até mesmo para pagar contas, até dar entrada no INSS demora.
Pergunta: o que você tem a dizer para aqueles que se encontram na mesma situação que você enfrentou em 2009?
Resposta: hoje, o que eu tenho para falar para quem passa por essa situação é não desanimar, porque para tudo tem uma saída, tem apoio, tem prótese boa. Hoje eu jogobola normal, bato balãozinho. Eu estava na frente da casa da minha sogra e passou um amigo meu, o Xuxa. Ele falou ‘pô negão agora a bola acabou né’. Aí coloquei aquilo na cabeça, pensei será que acabou mesmo, comecei a bater balãozinho e brincar ali e hoje eu consigo bater mais de 50 balõezinhos. Voltei a jogar bola normal, sou único técnico de futsal amputado dentro de Campo Grande.
Pergunta: de onde tirou forças para recomeçar?
Resposta: tudo começou quando eu treinava meu gurizinho, ele sempre vinha com a bola pedindo para treinar e hoje está aí o resultado. Hoje eu consegui dar a volta por cima, consegui me reerguer. Meu filho me ajudou muito.
(Por Dany Nascimento, do Topmidianews)