Condução do governo da pandemia é reprovada por metade dos brasileiros
“O #EleNão, movimento e manifestação histórica no Brasil liderada por mulheres, em repúdio ao candidato a presidente Jair Bolsonaro (posteriormente eleito), foi um marco importante, indicando um novo ciclo político do feminismo no país”, afirma Maria Angélica Minhoto, uma das coordenadoras do centro SoU_Ciência. Desde então, as pesquisas nacionais de opinião pública têm identificado um marcante contraste entre as percepções de homens e mulheres sobre o atual governo e a intenção de voto, e também sobre a pandemia.
Recente levantamento nacional de opinião pública do Centro SoU_Ciência, em parceria com o Ideia Big Data, aplicado em julho de 2022, confirmou tal tendência ao indagar sobre a condução do governo federal na defesa da população brasileira diante da pandemia da Covid-19. Os dados coletados indicam que 35% dos homens avaliam como boa ou ótima a condução do governo, em contraste a 20% das mulheres. A pesquisa também constatou que a maioria das mulheres (55%) consideram que a condução do governo foi ruim ou péssima, frente a um percentual menor que a metade dos homens (43%).
Pedro Arantes, outro coordenador do SoU_Ciência, destaca a posição dos católicos: “entre cristãos, há clara diferença entre a leitura da realidade social que está sendo feita por católicos e evangélicos. 61% dos católicos consideram a condução do governo na pandemia desastrosa, contra apenas 32% dos evangélicos, quase a metade dos primeiros. A leitura pode ser influenciada pelo cenário eleitoral, mas não só. O cristianismo tem como um dos seus valores mais importantes a defesa da vida, e estamos diante de um regime de necropolítica. Para um cristão, se posicionar nesse momento é fundamental, mas entre evangélicos, outros valores têm prevalecido, como o conservadorismo moral.
A melhor avaliação do governo na condução da pandemia advém dos segmentos: homens, brancos, com mais de 40 anos, moradores do Centro-Oeste, evangélicos, de nível superior, com mais de 6 SM. Além, evidentemente, dos eleitores de Bolsonaro: 74% consideram a condução na pandemia ótima e boa, contra menos de 2% de aprovação entre eleitores de Lula. Já entre eleitores de Ciro, 43% consideram a condução regular.
Os dados do levantamento mostram que a polarização política na sociedade brasileira tem marcadores de classe, gênero, raça, religião e faixa etária importantes. Chama a atenção, dentre os dados que já apresentamos, que 46% dos mais ricos consideram a atuação do governo como boa ou ótima, diante de apenas 14% dos entrevistados com até 1 SM. Segundo Pedro Arantes, essa diferença de percepção é decorrente das diferentes condições socioeconômicas: “Os mais ricos tiveram como se proteger melhor na pandemia, pois moram melhor, puderam em geral trabalhar em home office e receber em casa por entrega o que necessitavam. As pessoas mais pobres foram as mais expostas, mais penalizadas com perda da renda, com a volta da fome, com a falta de espaço adequado para ficarem isoladas em casa, com as dificuldades de estrutura para suas crianças estudarem online”. O SoU_Ciência indica no seu painel “Universidades Federais em Defesa da Vida” uma série de pesquisas socioeconômicas sobre o impacto da pandemia, realizadas por diversas universidades federais.
Além do marcador de classe e renda, o de gênero foi também determinante. Segundo Maria Angélica, “Sabemos que a pandemia afetou principalmente as mulheres, tirou emprego e renda, levou ao acúmulo de trabalho em casa e nos cuidados de filhos e idosos, potencializou o trabalho não remunerado, o aumento da violência de gênero, entre outros problemas não enfrentados e inadequadamente tratados pelo atual governo”. Também os jovens foram alvo de grande sofrimento, pelos impactos nas escolas, pelo aprofundamento da precarização (uberização) do trabalho, pelo isolamento, pela falta de emprego e perspectiva de futuro.
Os resultados da pesquisa indicam que essa realidade tão trágica claramente impacta de forma desigual na percepção pública e na avaliação crítica do atual governo.
NOTA METODOLÓGICA: A pesquisa telefônica foi realizada em duas rodadas, nos dias 27 de julho e 10 de agosto de 2022, com 1200 respondentes, entre homens e mulheres residentes em todas as regiões do Brasil, com idade igual ou superior a 16 anos, de diferentes escolaridades, raça/cor, renda e classe social. A amostra seguiu cotas variáveis, segundo distribuição da população por região e com proporções definidas com base nas pesquisas Pnad 2021 e Censo 2010/IBGE. Pesquisa com grau de confiança igual a 95% e margem de erro máxima prevista de aproximadamente 2.85% para mais ou para menos. (Fonte: Isso é Noticia/Sou Ciência)