Troca de comando em meio a guerra contra o vírus: Mandetta anuncia que foi demitido por Bolsonaro
Com índice de aprovação de sua gestão em 76%, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, anunciou que foi demitido pelo presidente Jair Bolsonaro. Usando uma conta em rede social, Mandetta divulgou a informação, pondo fim à gestão que vinha comandando as ações de combate à pandemia provocada pelo novo coronavírus. O oncologista Nelson Teich foi convidado para o seu substituto e já aceitou
À frente do cargo, Mandetta colecionou embates públicos com Bolsonaro por defender a orientação da Organização Mundial de Saúde (OMS) e de outras autoridades médicas para assegurar o isolamento da população como medida preventiva para alastramento do vírus. Mandetta resistia aos pedidos do presidente da República para que o Ministério da Saúde endossasse o retorno dos brasileiros ao trabalho e até mesmo recomendasse uso amplo do medicamento hidroxocloroquina, antes mesmo de aprovação de sua eficácia como tratamento do covid-19.
Pesquisa do Datafolha divulgada no início do mês mostrou que a aprovação do Ministério da Saúde era o dobro da do presidente Jair Bolsonaro. Segundo o instituto, a pasta foi aprovada por 76% da população, enquanto o presidente recebeu aprovação de 33%.
Em conversa com o GLOBO, Luiz Henrique Mandetta reiterou as declarações que fez ao Twitter sobre sua saída do governo. Na curta ligação, Mandetta confirmou que ouviu de Bolsonaro sua demissão do cargo de ministro da Saúde. Ao final, Mandetta avisou que iria ligar para sua mãe, Maria Olga Solari, para dar a notícia. A frente do Ministério da Saúde há um ano e quatro meses, Mandetta não visitava Mato Grosso do Sul – onde está mora a mãe – desde o início da pandemia do novo coronavírus, em fevereiro.
Na quarta-feira, a entrevista coletiva dada por Mandetta já havia sido em tom de despedida. Ciente que deixaria o cargo, ele informou que a atual equipe não ira fazer uma saída brusca. Nos últimos dias, o ministro admitiu que havia um “descompasso’ entre ele e o presidente.
Bolsonaro já havia tomado a decisão de demitir Mandetta no último dia 6, conforme revelou o Globo, mas foi convencido a voltar atrás. Depois disso, os dois tiveram uma conversa a sós, e o presidente chegou a dizer que estava “tudo acertado”. Entretanto, uma entrevista ao Fantástico, da TV Globo, no último domingo, reduziu o apoio que Mandetta tinha de outros ministros. Na entrevista, Mandetta defendeu uma unificação do discurso no combate ao coronavírus.
A primeira vez que Bolsonaro demonstrou publicamente seu descontentamento com Mandetta foi no dia 2 de abril, quando admitiu que os dois estavam “se bicando há algum tempo” e disse que faltava “humildade” ao seu subordinado. Apesar de ressaltar que nenhum ministro é “indemissível”, o presidente disse que não pretendia exonerar Mandetta “no meio da guerra”. Dias depois, Bolsonaro afirmou, sem citar nomes, que “algumas pessoas” do seu governo “de repente viraram estrelas e falam pelos cotovelos” e que ele não teria medo nem “pavor” de usar a caneta contra eles.
Mandetta adotou como discurso que “médico não abandona paciente” e que continuaria no cargo enquanto Bolsonaro permitisse.
(O Globo)