Cuidar da cor é o de menos, quando o preconceito “avalia” o currículo
O “domingou” de ontem ganhou muitas nuances durante o 1º Encontro de Coloridas de Mato Grosso do Sul. À frente do evento, a colorista Thais Maia, expert em colorimétrica artística, caprichou na decoração e levantou temas importantes como o preconceito no mercado de trabalho. Esta foi a primeira vez, mas a intenção é fortalecer a cena e unir os coloridos de todo o Estado.
A ideia do encontrou surgiu pela demanda que Thais recebia nas redes sociais. Além de esclarecer as dúvidas mais frequentes, o encontro também abordou tabus como o de que cacheadas e crespas não podem colorir os fios.
“Um dos principais objetivos do encontro é conseguir unir os coloridos e coloridas, justamente para vencermos o preconceito sofrido na família, com amigos que não gostam do estilo, mas, principalmente, no mercado de trabalho”, explica.
Entre manter um cabelo descolorido hidratado e superar o preconceito na hora de conseguir um emprego formal, de maneira geral, os presentes escolhem a segunda opção.
Thais garante que comentários negativos surgem em todos os lugares, mas que em alguns casos há reações mais agressivas. “Isso acontece principalmente em empresas porque parece que as pessoas medem sua capacidade pela cor do seu cabelo ou estilo om tatuagens e piercings”, contra.
Para se tornar uma colorida, Thais que é expert no assunto alerta que um profissional deve ser procurado, afinal, o procedimento envolve química. “Para se manter a cor, dá para fazer em casa porque hoje temos máscaras tonalizantes que não agridem o cabelo, pelo contrário, elas nutrem. É muito arriscado, a pessoa pode ter uma reação alérgica, as vezes pode sofrer um corte químico, então nessa parte é fundamental procurar alguém que entenda”.
O evento para todas as faixas etárias contou com sorteios, música e exposição de fotos do Elso Oliveira. O encontro aconteceu no Restaurante Verde Sorte Minha, que foi escolhido estrategicamente por Thais. Além do espaço, o evento teve apoio da Prisma Cosméticos, Sweet Hair Professional e Pantanal Garden.
“O espaço condiz muito com o que eu acredito e inclusive levo para o meu trabalho. A maioria dos meus produtos são veganos ou que reforçam a sustentabilidade, então, é um lugar que a galera consegue se sentir em casa”, conta Thais.
“Meu trabalho se baseia em ensaios femininos, com foco em ressaltar um conceito ou um contexto artístico. Junto a Thaís eu consegui contemplar tudo. A gente traz os cabelos coloridos junto ao trabalho artístico. No trabalho exposto, nós evidenciamos o contraste entre o poder da cobra e a delicadeza de princesa. Assim como todas as coloridas. Elas são delicadas, mas ao mesmo tempo mulheres fortes, de muita personalidade. Eu ainda não sou colorido, mas eu e Thais planejamos uma surpresa para o fim do ano”, explica Elso de Oliveira.
A acadêmica de Publicidade e Propaganda Julia Estevão Santos, de já sentiu a pressão do padrão imposto pela sociedade, antes mesmo de receber um “não”.
“Eu fazia psicologia e eu sempre tive esse medo sobre o que meu cabelo poderia causar nas pessoas, isso porque eu só tinha a ponta colorida. Mudei o curso para Publicidade e enquanto trabalhava em um projeto de extensão pensei que poderia aproveitar para manter o cabelo colorido. Quando consegui um estágio, já fui com medo achando que mandariam escurecer o cabelo, mas consegui entrar. Mas tenho amigas que tiveram de mudar”, explica.
Já o acadêmico de Psicologia Leandro Martinez Garcia Melo, de 20 anos, usa o cabelo cor de rosa no estágio, mas admite que precisa compensar nas roupas mais padronizadas. Mesmo com tanto trabalho garante que vale a pena.
“Eu trabalho em um setor que é um abrigo para adultos que se encontram debilitados pela dependência química. Lá nós trabalhamos muito com dinâmicas e meus colegas de trabalho não têm os cabelos coloridos. Eu mantenho meu cabelo assim, mas eu sei que na minha profissão precisamos ser os mais neutros possíveis. Então se eu tenho cabelo colorido eu tenho de compensar na minha vestimenta. Mas vale a pena. É mais que aparência, é identidade, é personalidade, uma forma de expressão”, disse.
A atriz e DJ Ana Karolina Lannes, de 19 anos, também prestigiou o evento. Além do cabelo, ela fez questão de abordar outros temas não aceitos pela sociedade.
“Eu sempre trabalhei com mídia ou com TV, então, quando eu pintei, as pessoas aceitaram. Mas tenho muitas amigas, inclusive, clientes da Thaís que encontraram dificuldade após colorir os cabelos. O pessoal não aceita, assim como outras coisas “diferentes” do padrão, como a estatura, o corpo, a sexualidade. As pessoas tem medo de encarar e taxam como se isso interferisse no nosso talento, capacidade e em nosso potencial. O importante é mostrar o seu valor e não abaixar a cabeça. É muito legal quando a gente vê uma pessoa do meio, uma pessoa marginalizada mostrando que é capaz”, pontuou.
Autodidata, a hair styles começou trabalhar com coloração aos 16 anos e há oito atua de forma profissional. Em 2018, Thais Maia foi escolhida como a profissional colorista do ano de MS. Recentemente participou da Beuty Fair – maior feira de cosméticos da América Latina – e também do Sweet Experience, onde realizou a sua aula show, convite da marca Sweet Hair Professional, no qual, é embaixadora.
(Por Danielle Vicentim, do Campograndenews)