Delegado recebe elogio oficial por prisão por racismo no Maranhão

Delegado Vital Rodrigues de Carvalho: Ato de bravura contra o racismo – Foto: Reprodução
O delegado Vital Rodrigues de Carvalho foi elogiado de forma oficial pela Secretaria de Segurança Pública do Maranhão por ter efetuado uma prisão em flagrante por racismo em Imperatriz, segunda maior cidade do Estado. O caso aconteceu no começo do mês de junho de 2020 numa praça de alimentação popular da cidade. Apesar do elogio por bravura, ele se disse triste por ter executado a ação pois, antes de ser crime, o racismo é um ato desumano e de falta de amor ao próximo. “Esse crime não podia ainda acontecer nos dias atuais”, lamenta Vital.
O elogio por bravura recebido pelo delegado se deu por meio da portaria 710/2020/SSP-MA, assinada pelo secretário de segurança pública, Jefferson Miler Portela e Silva, seguindo deliberação do Conselho da Polícia Civil. O ato foi publicado no Diário Oficial do Estado Maranhão do dia 01 de setembro, “em razão do ato de bravura, em prol da sociedade civil, dando voz de prisão a empresário após o mesmo proferir comentários racistas e preconceituosos”.
Ao comentar o elogio público, Vital Carvalho não deixou de agradecer pelo reconhecimento oficial, mas também disse estar triste por toda situação que vivenciou. “Foi um episódio triste, desumano, mas estou com o sentimento de dever cumprido, de que tomei a atitude correta”, ponderou.
O CASO

No dia 4 de junho e em meio a barracas de lanche cheias de clientes, em uma área da cidade conhecida como “4 bocas”, era mais uma noite comum em Imperatriz. Enquanto aguardava o pedido, Vital Rodrigues de Carvalho (51) acompanhava o noticiário na TV, que exibia reportagem sobre os protestos contra o racismo nos Estados Unidos, iniciados quando George Floyd, homem afro-americano, foi morto por asfixia, após ficar imobilizado por mais de 8 minutos, pelo pescoço, de bruços em uma estrada, em uma abordagem da polícia de Minneapolis, no noroeste dos Estados Unidos.

Horrorizado mais uma vez pela notícia do racismo que provocou a morte do homem americano, Vital quase não conseguia acreditar em uma cena ainda mais próxima dele, exatamente na mesa ao lado, onde dois homens conversavam e opinavam sobre a mesma reportagem. “Uma confusão dessa por causa de um preto desse (…), preto e merda é a mesma coisa”, disse um dos rapazes, por pelo menos três vezes, segundo Vital, que diz ter ouvido e visto os gestos preconceituosos do homem, identificado como Eraldo Oliveira Mourão. Nessa hora, Vital de Carvalho conta que se levantou e foi em direção à mesa de Eraldo, quando revelou a identidade e a profissão.

“Eu disse: ‘O senhor tem noção do que o senhor acabou de falar? Tem noção da gravidade da sua opinião preconceituosa? Eu sou Vital Rodrigues de Carvalho, delegado de polícia civil em Imperatriz, e o senhor está preso pelo crime de racismo!’”, relatou o agente de polícia. Eraldo Mourão, nesse instante, tentou se defender, alegando que era apenas um comentário pessoal. “Ele contestou, disse que eu não poderia prendê-lo porque ele era empresário”, detalhou Vital.

O delegado consentiu que o suspeito fizesse contato com advogados. Mas, em vez disso, Eraldo telefonou para um amigo, que é delegado da Polícia Federal em Brasília e que, segundo o delegado Vital, até tentou intermediar para evitar a prisão. “Mas eu expliquei tudo para o amigo dele, que também é meu conhecido e não quero aqui mencionar nomes, e não havia como negar o que tinha ocorrido”, informou Vital Rodrigues.

Dada a voz de prisão, o delegado tentou contato com a delegacia, mas não conseguiu acionar ninguém. Por coincidência,  nesse momento uma viatura da Polícia Civil passou pela rua. Ao pedir parada para solicitar a condução do suspeito, Vital percebeu que era o próprio delegado regional quem estava dentro do veículo, a quem narrou o fato. Eraldo Mourão foi levado para a delegacia, então, onde prestou depoimento ao delegado de plantão, Carlos César Andrade.

“O meu colega delegado entendeu que o crime não foi de injúria racial, mas de racismo, que é um crime inafiançável e tem pena de 1 a 3 anos de reclusão. A injúria racial requer que a ofensa seja dirigida a uma pessoa em função da sua cor, mas quando vc olha o artigo 20 [da Lei de Racismo], você vê que ele estava em um lugar público e fez a incitação, ele ofendeu toda uma raça”, comentou Vital Rodrigues, que também foi para a delegacia, onde prestou depoimento sobre a cena presenciada. (Da redação com O Imparcial)

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