Delegado recebe elogio oficial por prisão por racismo no Maranhão
No dia 4 de junho e em meio a barracas de lanche cheias de clientes, em uma área da cidade conhecida como “4 bocas”, era mais uma noite comum em Imperatriz. Enquanto aguardava o pedido, Vital Rodrigues de Carvalho (51) acompanhava o noticiário na TV, que exibia reportagem sobre os protestos contra o racismo nos Estados Unidos, iniciados quando George Floyd, homem afro-americano, foi morto por asfixia, após ficar imobilizado por mais de 8 minutos, pelo pescoço, de bruços em uma estrada, em uma abordagem da polícia de Minneapolis, no noroeste dos Estados Unidos.
Horrorizado mais uma vez pela notícia do racismo que provocou a morte do homem americano, Vital quase não conseguia acreditar em uma cena ainda mais próxima dele, exatamente na mesa ao lado, onde dois homens conversavam e opinavam sobre a mesma reportagem. “Uma confusão dessa por causa de um preto desse (…), preto e merda é a mesma coisa”, disse um dos rapazes, por pelo menos três vezes, segundo Vital, que diz ter ouvido e visto os gestos preconceituosos do homem, identificado como Eraldo Oliveira Mourão. Nessa hora, Vital de Carvalho conta que se levantou e foi em direção à mesa de Eraldo, quando revelou a identidade e a profissão.
“Eu disse: ‘O senhor tem noção do que o senhor acabou de falar? Tem noção da gravidade da sua opinião preconceituosa? Eu sou Vital Rodrigues de Carvalho, delegado de polícia civil em Imperatriz, e o senhor está preso pelo crime de racismo!’”, relatou o agente de polícia. Eraldo Mourão, nesse instante, tentou se defender, alegando que era apenas um comentário pessoal. “Ele contestou, disse que eu não poderia prendê-lo porque ele era empresário”, detalhou Vital.
O delegado consentiu que o suspeito fizesse contato com advogados. Mas, em vez disso, Eraldo telefonou para um amigo, que é delegado da Polícia Federal em Brasília e que, segundo o delegado Vital, até tentou intermediar para evitar a prisão. “Mas eu expliquei tudo para o amigo dele, que também é meu conhecido e não quero aqui mencionar nomes, e não havia como negar o que tinha ocorrido”, informou Vital Rodrigues.
Dada a voz de prisão, o delegado tentou contato com a delegacia, mas não conseguiu acionar ninguém. Por coincidência, nesse momento uma viatura da Polícia Civil passou pela rua. Ao pedir parada para solicitar a condução do suspeito, Vital percebeu que era o próprio delegado regional quem estava dentro do veículo, a quem narrou o fato. Eraldo Mourão foi levado para a delegacia, então, onde prestou depoimento ao delegado de plantão, Carlos César Andrade.
“O meu colega delegado entendeu que o crime não foi de injúria racial, mas de racismo, que é um crime inafiançável e tem pena de 1 a 3 anos de reclusão. A injúria racial requer que a ofensa seja dirigida a uma pessoa em função da sua cor, mas quando vc olha o artigo 20 [da Lei de Racismo], você vê que ele estava em um lugar público e fez a incitação, ele ofendeu toda uma raça”, comentou Vital Rodrigues, que também foi para a delegacia, onde prestou depoimento sobre a cena presenciada. (Da redação com O Imparcial)
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