Deputada mais votada do MS diz que seria significativo ser a 1ª mulher presidente

A deputada estadual reeleita Mara Caseiro (foto) desbancou, na eleição deste ano, a homarada com mandatos na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul.

No pleito de 2018, ela ficou na primeira suplência e só assumiu o cargo em 2020. Daí, o quadro assim ficou no Legislativo estadual: dos 24 mandatos, um ficou com ela e, o restante, com parlamentares homens.

Nesta eleição, o troco: Mara conquistou 49.512 votos e tornou-se a primeira mulher eleita da Assembleia de MS como a campeã de votos. Em janeiro, será empossada para o quarto mandato.

E terá uma colega de partido para “ajudá-la”, disse ela, em pautas pensadas em defender os direitos das mulheres. Antes, ela foi vereadora de Eldorado e prefeita duas vezes da cidade. Agora, a dentista quer um voo mais alto: tornar-se a presidente da Assembleia Legislativa.

Mara Caseiro

Formou-se em Odontologia pela Universidade do Oeste Paulista de Presidente Prudente (Unoeste), em 1986. Ingressou na política em 1992 e foi eleita em 1996 vereadora de Eldorado, sendo a presidente da Câmara local. Em 2000, foi eleita prefeita da cidade.

Atuou como secretária especial de governo e diretora-presidente da Fundação Estadual de Cultura e em 2020 assumiu como deputada estadual no lugar do deputado Onevan de Matos, falecido.

A seguir, trechos de sua entrevista ao jornal Correio do Estado.

A senhora assume o quarto mandato em fevereiro. Pelos bastidores na Assembleia, notamos diálogos indicando que pretende lançar-se à presidência do Legislativo estadual, verdade? E qual a razão para comandar a Alems, projeto político seu?

Realmente, eu coloquei meu nome à disposição para concorrer à presidência. Acho que é um momento muito significativo para nós mulheres. E eu acho que tenho por dever de buscar esse cargo. É claro que com muito respeito a todos os deputados e a todos os outros candidatos.

Estarei conversando primeiramente, lógico, dentro do partido, do PSDB, conversando com todos os deputados do PSDB. E buscando o apoio dos outros partidos também. Eu fui a mulher, a deputada mais votada neste pleito na Assembleia Legislativa, a primeira mulher a ser a mais votada, e seria muito significativo nós termos a primeira mulher presidente da Assembleia Legislativa.

A senhora sente-se preparada para ocupar este cargo, deputada?

Me sinto preparada para isso, já fui vereadora, já fui prefeita, já fui presidente da Fundação de Cultura, estou no meu terceiro mandato, assumindo agora meu quarto mandato de deputada estadual.

Então, eu me sinto preparada, e, assim, sem querer ser melhor que ninguém, eu acho que é um direito que tenho de pleitear esse cargo à presidência. Mas sempre com muito respeito e com os pés no chão. Isso é uma construção.

Vamos conversar com todos os deputados, e, se Deus assim quiser, a gente poderá assumir a presidência da Assembleia. Se não for para ser agora também a vida continua, e o meu trabalho vai continuar do mesmo jeito, com a mesma dedicação e respeito a todos.

Caso confirme sua candidatura, terá de convencer seus colegas a aceitarem seu nome. Hoje, os maiores partidos são: PSDB (seis integrantes), PT, PL e MDB (três cada um) e PP (dois). Tem bom trânsito nessas legendas?

É claro que o primeiro partido que a gente vai ter de conversar é o próprio PSDB, eu acho que isso tem de vir de consenso, dentro do PSDB. Eu acredito que não tenho nenhum problema com os colegas.

Claro que a gente muitas vezes tem alguns embates, a gente defende determinados posicionamentos, mas eu sempre respeitei todos os meus colegas da Assembleia Legislativa.

Sempre tive muito respeito a todos eles, a gente pode ter alguns embates, mas isso defendendo um ponto de vista, defendendo o que a gente acredita. Sempre tive muito respeito e uma boa relação com todos os deputados da Casa.

No pleito de 2018, a senhora ficou com a primeira suplência (23 mil votos) e agora, em 2022, foi a campeã de votos, com quase 50 mil. Atribui isso a quê? Tem a ver com o último mandato?

Sem dúvida nenhuma, eu falo que realmente foi o momento. O momento que eu acho que foi muito favorável para esta eleição, pelo trabalho que eu fiz na Fundação de Cultura, eu andei muito, eu rodei, eu trabalhei muito pelos municípios.

A gente repaginou completamente a Fundação de Cultura, demos um outro olhar, democratizamos os recursos da cultura, levando aos 79 municípios, apoio e também valorizamos os nossos músicos locais, nossos artistas locais.

Não só os músicos, mas todos os nossos artistas, enfim, e eu acho que isso nos ajudou muito, e, quando eu retornei para Assembleia Legislativa, a gente continuou o mesmo ritmo, visitando municípios, atendendo prefeitos, vereadores, lideranças e buscando também junto ao governo solucionar vários problemas.

Como realizar várias obras em várias regiões, em vários municípios importantes para o desenvolvimento do Estado. E acima de qualquer coisa, atendendo sempre muito bem às pessoas que me procuravam. Eu falo que, em termos de atuação, falam que eu sou uma deputada muito eclética.

O governo de MS será comandado novamente pelo PSDB. Acha que Eduardo Riedel terá embaraços no diálogo com a Assembleia ou vê um mandato tranquilo, como foi com Reinaldo Azambuja?

Quanto à atuação da Assembleia Legislativa com o governador eleito Eduardo Riedel, ele é uma pessoa que tem um preparo enorme, ele tá muito bem preparado para o cargo.

É um gestor de diálogo, e eu acredito que não vai ter nenhum problema nas tratativas junto à Assembleia Legislativa. São poderes autônomos, independentes, mas que tem de estar em harmonia. E eu acredito que essa harmonia vai continuar com o nosso governador.

Até pela postura ética e também de experiência que o Ridel tem. E porque também, ali como secretário de governo, ele conduziu bem por bastante tempo o diálogo ali com a Assembleia Legislativa em vários momentos, né? E acredito que nós não vamos ter problema nenhum.

A senhora é líder de governo de Azambuja na Assembleia, como foi a ligação do governo com os deputados, tranquilo ou teve trabalho nas discussões para aprovação de projetos, por exemplo?

Eu como líder do governo peguei um momento muito bom do governo. Não tivemos grandes problemas, nós não tivemos nenhum projeto polêmico a ser aprovado nesses dois anos em que eu estive como líder.

Então, foi um momento muito tranquilo que eu vivi ali dentro como líder de governo e muito tranquilo com os próprios deputados, porque Azambuja foi muito bem nesse segundo mandato. Reinaldo fez grandes realizações de obras em todos os municípios.

Neste seu terceiro mandato, atuou como única mulher entre os 24 mandatos da Assembleia, agora terá a Lia Nogueira de seu partido, acha que vai melhorar?

Não tenho dúvida de que será muito bom ter Lia Nogueira como parceira, como colega de parlamento e, juntas, a gente vai trabalhar muito na criação de políticas públicas para diminuir a desigualdade de gênero, no combate à violência contra as mulheres.

Trabalharemos também para o empoderamento da mulher, as ações propositivas que possibilitem às mulheres mais acesso à educação, à saúde, à segurança, trabalhar pela independência financeira de nossas mulheres, enfim, da mulher, a garra, a força.

Agora serão em duplicidade. Lá na assembleia, com certeza, nós estaremos mais fortalecidas em 2023, no que diz respeito a representatividade da mulher no parlamento sul-mato-grossense. Vai ser muito bom ter Lia Nogueira como parceira.

Deputada, a senhora ingressou na vida pública como dentista concursada na cidade de Eldorado, onde ocupou mandato de vereadora, depois prefeita. A política em sua vida surgiu por vocação?

Eu acho que muitas vezes nós temos essa questão vocacional da política no nosso dia a dia. É por nossos planos, nossos projetos, nosso planejamento. Esse viés político surge quando a gente luta pelo que a gente acredita.

Então eu acho que isso é inerente a todas as pessoas que não se deixam curvar diante dos desafios. Quando eu cheguei em Eldorado comecei a trabalhar no posto de saúde como dentista que era e logo assim que passei no concurso do Estado eu fui trabalhar no posto de saúde.

E já pelo trabalho que a gente fazia, de muita responsabilidade, de muito compromisso, eu fui sempre muito compromissada com todas as missões que foram colocadas na minha mão, digamos assim. E, nesse sentido, eu já me tornei chefe do posto de saúde.

Assim que ingressei no cargo, já comecei a liderar um grupo e buscar melhorias, principalmente, é claro, para a saúde do município. E eu sempre fui muito combativa, nunca fui de me curvar diante dos desafios, dos obstáculos.

Eu sempre fui de buscar alternativa, buscar solução, e não se conformar com as situações, então eu sempre fui muito firme nesse ponto. E isso fez com que despertasse em algumas pessoas esse sentimento de que eu devia estar à frente da política do município.

E, por conta disso, o meu sogro tinha o sonho de ser o candidato a prefeito de Eldorado, e, na época, por esse espírito meu comunicativo e de liderança em buscar soluções, falaram para ele: a Mara tem de ser a sua candidata a vice-prefeita. Imagine, ele prefeito, ele candidato a prefeito, e eu a vice.

Nas eleições deste ano, o PSDB encurtou, com poucos integrantes da legenda se elegendo. Em que seu partido errou?

A política não é só de acertos. Na nossa trajetória política, a gente, às vezes, imagina uma coisa, mas acontece outra, e o PSDB nacional acho que teve, sim, alguns momentos que ele poderia ter relevado, poderia ter se unido mais ou ter mais unidade.

Saber ouvir mais, e realmente houve muitos confrontos ali dentro por disputa de espaço de poder, e eu avalio que, infelizmente, aquela disputa de Doria [João Dória, ex-governador de São Paulo, que queria disputar a Presidência da República, mas não conseguiu]. Naquele momento, [Dória] indo contra tudo, contra todos, eu acho que trouxe uma instabilidade para o PSDB.

Mas isso também faz parte, é a busca por espaço, mas eu entendo que ali talvez tivesse tido um pouco mais de paciência. Porque, assim, o Doria se fez muito rápido na política. Ele tinha de ter sabido o momento dele. Saísse de novo para governo estadual e construísse um ambiente favorável.

Eu acho que agora a gente vai ver em que errou e buscar corrigir os erros. E continuar fazendo esse partido forte, um partido de diálogo, um partido que respeita a democracia e que possa continuar defendendo as suas bandeiras. Isso tudo é no âmbito nacional. Porque, no estadual, o partido só ampliou. Então, infelizmente, a nível nacional é que a gente teve essas perdas.

(Por Celso Bejarano, do Correio do Estado)

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