Diretas Já: Emenda que redemocratizou o país completa 40 anos
Há 40 anos parte da história eleitoral do Brasil ganhava uma nova etapa após a iniciativa do falecido ex-governador de Mato grosso, Dante de Oliveira (fotos). À época deputado federal novato na Câmara, o mato-grossense foi autor da emenda das Diretas Já, responsável por mobilizar o Brasil em busca da retomada das eleições diretas para a Presidência.
O movimento, que incendiou grande parte da população em 1983, foi o pontapé inicial para o fim do regime militar, que já perdurava desde 1964. A emenda não foi aprovada pelo Congresso, mas serviu de estopim para o fim de um regime tenebroso para o País.
O jornalista e analista político Onofre Ribeiro acompanhou de perto o desdobrar da história feita por Dante. Em entrevista ao MidiaNews, ele conta que aquele era o primeiro ano de mandato do político como deputado federal.
Vindo de Mato Grosso, ele era novo na bancada e pouco conhecido pelos colegas parlamentares. Apesar disso, assim que começou a atuar na Câmara, Dante notou que não havia nenhuma movimentação com intuito de pedir votações diretas ao final do mandato do presidente militar da época, general João Figueiredo.
1 milhão no Vale do Anhangabaú – Então, ele começou a sair nos corredores da Câmara com um pedido de assinatura para uma proposta de emenda constitucional que se chamava “Emenda das Diretas Já”.
“Ele conseguiu o número de assinaturas no dia 2 de março e Ulisses Guimarães, que era presidente do MDB, viu um deputado inexpressivo, novato, com uma ideia daquela e achou bom”, diz Onofre.
“O que ele [Dante] me dizia era que o presidente do MDB aceitou dar um encaminhamento na medida das diretas como quem diz: ‘Vamos ver onde vai dar isso’. Não era uma aposta para valer, mas a coisa foi tomando rumo e foi tomando corpo e ai sim que tomou conta de tudo”, disse.
Ele discursava e era muito inflamado, todos os discursos eram muito inflamados para derrotar o regime militar
Na época, o Brasil clamava pelo fim do regime militar e a emenda gerou uma onda de apoio massiva, que ganhou força em diversas cidades, incluindo Cuiabá.
Apesar da votação só ter ocorrido em 1984, dias após a emenda receber as assinaturas, a população já começou a se mobilizar.
No dia 31 de março ocorreu a primeira manifestação pública a favor das Diretas Já, em Pernambuco. O evento foi organizado pelo PMDB e nos meses seguintes outras cidades passaram a se mobilizar.
“O país estava de saco cheio do governo militar, não pelo governo em si, mas pelas profundas crises econômicas que o país estava vivendo. O que derrubou os militares”, conta Onofre.
Em São Paulo ocorreram comícios com mais de 1 milhão de pessoas em uma passeata que saiu da Praça da Sé até o Vale do Anhangabaú, onde ocorreu o evento.
Aquela foi a segunda maior manifestação pública da história do Brasil e de, novato desconhecido, Dante passou a ser destaque nacional pela emenda que pedia a volta da democracia.
“Dante foi se tornando uma figura nacional, conhecida, em todos os discursos ele era apresentado como pai da emenda, ele discursava e era muito inflamado, todos os discursos eram muito inflamados para derrotar o regime militar”, relembra.
Emenda reprovada – O Congresso Nacional marcou para abril de 1984 a votação da emenda das Diretas Já. Onofre relata que foi convidado a acompanhar a votação no plenário como jornalista e pode sentir de perto a tensão do momento histórico.
“Os militares se mobilizaram muito para não permitir que a emenda passasse. Mesmo nas galerias havia muitos militares vestidos à paisana e fazendo ameaças para as pessoas não se manifestarem. O Congresso cercado pelo exército”.
Apesar da manifestação popular inflamada, a emenda não foi aprovada. Ao todo foram 298 votos a favor, 65 contra, 113 ausências e 3 abstenções. Por ser emenda constitucional, na época seria necessário a aprovação de dois terços da Casa, que seria equivalente a 320 votos.
Com a derrota, por apenas 22 votos, a emenda nem sequer foi apreciada pelo Senado Federal e chegou ao fim a mobilização popular que marcou a história política do país.
Recuo dos militares – Mesmo com o encerramento dos comícios e com a resposta final do Congresso Nacional, a semente já havia sido plantada e o regime militar se encaminhou para o seu ano final em 1985.
Acontece, que depois de todo o levante protagonizado por grande parte da população, os militares entenderam que era hora de recuar para evitar uma revolta maior.
Para Onofre, a emenda das Diretas Já marcou a história como a responsável por mobilizar e conscientizar o país, criando todas as condições para o regime militar acabar.
Após ficar nacionalmente conhecido, Dante escreveu sua história em Mato Grosso, consagrando-se prefeito de Cuiabá, ministro e depois governador de Mato Grosso.
O PMDB também ganhou lugar de destaque, com líderes emblemáticos que se juntaram à causa e mudaram o rumo da política, como os próprios presidentes do partido naquele período, Ulysses Guimarães e Teotônio Vilela.
“Então, o Dante ganhou muito com isso. Mato Grosso ganhou muito com isso. Mas o PMDB ganhou mais. Em ultima instância, a nação, que teve o fim do regime militar”, completou. (Por Vitória Gomes, do Midia News)