Egressa da UEMS investigará capacidade de infecção do coronavírus

Dra. Edmarcia no recebimento do Prêmio Capes-Interfarma de Tese em 2015

Em tempos de combate a pandemia do novo Coronavírus, que desencadeia a COVID-19, a ciência tem se provado cada vez mais imprescindível para entender e deter o vírus que mudou hábitos no mundo todo. A Doutora em Biologia Funcional e Molecular, Edmarcia Elisa de Souza, é egressa do curso de Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), unidade de Dourados, e atualmente está no Pós-Doutorado pela Unit for Drug Discovery no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP/São Paulo).

Em entrevista feita via e-mail, a Dra. Edmarcia contou um pouco dos preparativos feitos nos laboratórios e também quais ações podem levar ao achatamento da curva de disseminação do Coronavírus. A doutora e pesquisadora sul-mato-grossense explica que o laboratório onde atua irá estudar a capacidade do vírus de infectar células do sistema respiratório para combatê-lo adequadamente.

 “Uma Rede Colaborativa da USP para o diagnóstico da COVID-19, está sendo coordenada pelo professor titular de Oncologia da Faculdade de Medicina da USP, Roger Chammas, e pelo diretor do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), Luís Carlos de Souza Ferreira. Para realização da pesquisa, nós nos encontramos em fase de preparação de laboratórios com nível de alta biossegurança (Laboratório de Biossegurança de Nível 3), para testarmos a capacidade do novo coronavírus (SARS-COV2) de infectar células humanas, bem como para testar os efeitos induzidos pelo vírus em células humanas”, relata.

Mesmo morando em São Paulo, a dra. Edmarcia, continua acompanhando de perto a situação de Mato Grosso do Sul em relação ao coronavírus e recomenda com base em pesquisas já feitas que o isolamento social é eficaz para o achatamento da curva de contaminação.

“Nesse primeiro momento, sem evidências robustas sobre tratamentos eficazes e sem vacina, as medidas não farmacológicas de isolamento social associadas à higiene pessoal, são a melhor alternativa contra o coronavírus. Apesar de impor um afastamento social, têm funcionado para redução da curva de crescimento exponencial da pandemia. A comprovação científica de que o isolamento social é eficaz e que tem regredido o crescimento exponencial da doença direcionando as políticas públicas, originou-se de vários estudos científicos, especialmente no início da pandemia na China, como comprovado por exemplo, no artigo científico que pode ser encontrado neste link: https://bit.ly/2UXOQ1m”, explica.

A pesquisadora ainda reforça para que a população escute os especialistas e quem está na linha de frente no combate ao vírus, “ Essas pessoas se baseiam na ciência para fazer as afirmações e guiar as políticas públicas. Apenas a ciência poderá nos guiar nesse momento”.

A seguir estão as respostas na íntegra da Dra. Edmarcia sobre o novo coronavírus, assim como as recomendações dela feitas com base em pesquisas e órgãos oficiais.

                                                                 E N T R E V I S T A

ACS/UEMS: O que já sabemos sobre os efeitos do novo Coronavírus que desencadeia a Covid -19, no nosso organismo? (Muitas Fake News tem se espalhado na internet). Por que o período de isolamento de 14 dias para quem desenvolve os sintomas é tão importante?

Dra. Edmarcia: O SARS-COV2 é um vírus que acomete o sistema respiratório, e desencadeia sintomas similares ao do vírus influenza como febre e tosse. Entretanto, um diferencial dos sintomas do SARS-COV 2 é a falta de ar. Os sinais de alerta de emergência incluem: problemas respiratórios, dor ou pressão persistente no peito e incapacidade de sensibilização dos lábios. Esses sintomas podem aparecer 2-14 dias após a exposição, com base no período de incubação de outros vírus Cov, como MERS-CoV. Como as coisas estão acontecendo, ainda não foi possível para os cientistas compilarem as informações e determinarem o tempo de incubação do SARS-COV2.

ACS/UEMS: Por que pessoas que apresentam problemas crônicos de saúde como hipertensão, diabetes ou doença pulmonar obstrutiva crônica, por exemplo, são mais suscetíveis a infecção pelo novo coronavírus? Por que o índice de mortalidade por COVID-19 é maior entre essas pessoas?

Dra. Edmarcia: Estudos realizados na USP mostram que alterações no metabolismo causadas por essas doenças podem desencadear uma série de eventos bioquímicos que levam a um aumento na expressão do gene ACE-2, responsável por codificar uma proteína à qual o vírus se conecta para infectar as células pulmonares.

ACS/UEMS: Por que o hábito de lavar as mãos com água e sabão e higienizar com álcool em gel 70% é tão eficaz na prevenção contra o Coronavírus (Covid -19)?

Dra. Edmarcia: Esses hábitos de higiene são muito importantes. O novo coronavírus é um vírus envelopado, e como na maioria dos vírus possui uma bicamada lipídica (gordurosa). O sabão dissolve a membrana adiposa e o vírus se desfaz, se torna inativo porque os vírus não estão realmente vivos. A WHO (World Health Organization – Organização Mundial de Saúde), juntamente com o CDC (Centers for Disease Control and Prevention – Centro para Diagnóstico e Prevenção de Doenças), órgãos oficiais que tem dado as diretrizes para o enfrentamento do coronavírus nos USA e no mundo, incluindo no Brasil, possuem cartilhas de como proceder para esses hábitos de higienização: https://www.who.int/gpsc/5may/Guide_to_Local_Production.pdf .E uma lista de sanitizadores pode ser encontrada no link: https://www.epa.gov/pesticide-registration/list-n-disinfectants-use-against-sars-cov-2

ACS/UEMS: É verdade que o vírus Covid -19 pode se manter vivo por muitas horas em superfícies?

Dra. Edmarcia: Sim, alguns estudos comprovam que o SARS-COV2 pode permanecer por algumas horas ou até dias sobre algumas superfícies. Por exemplo, o vírus pode preservar o seu material genético de 2 a 8 horas em alumínio; até 4 dias em vidro; de 4 a 5 dias em papel; até 5 dias em plástico e até 2 dias em madeira. Entretanto, nós ainda não sabemos a capacidade infectante do vírus após esse período fora do organismo. Por isso é preciso tomar as precauções que estão orientadas pela Saúde e largamente difundidas na imprensa.

A Dra. Edmarcia começou a trajetória acadêmica na UEMS/Dourados e após essa etapa continuou a avançar na carreira de pesquisadora, para finalizar a entrevista pedimos a ela uma orientação aos acadêmicos que estão na graduação, “ Escolha da profissão por amor. Isso lhe trará motivação e sucesso. E como já disse Mahatma Gandhi: Nas grandes batalhas da vida, o primeiro passo para a vitória é o desejo de vencer”, finaliza.

Edmarcia Elisa de Souza: Atualmente realiza pós-doutorado no Unit for Drug Discovery, Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, USP, São Paulo. Pós-doutorado no Carolyn Lynch Laboratory, University of Pennsylvania, USA. Doutorado em Biologia Funcional e Molecular – Bioquímica pela Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, Brasil, desenvolvido no Laboratório Nacional de Biociências, LNBio, que integra o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais, CNPEM, Campinas, SP e no Molecular Medicine Laboratory, University of Massachusetts Medical School, USA. Mestrado em Ciências Biológicas – Genética pelo Instituto de Biociências – UNESP/câmpus Botucatu, UNESP, Brasil. Graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, UEMS, Brasil.

(Fonte: ACS Uems)

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