Em MS, suicídios matam mais policiais do que os confrontos
A onda de suicídios de policiais militares em Mato Grosso do Sul tem chamado a atenção para os salários da categoria, defasados há mais de cinco anos. Ao todo em 2019 cinco policiais militares tiraram a própria vida e outros 10 tentaram se matar. Os números mostram ainda que no Estado, o suicídio mata mais do que os confrontos com bandidos. Para se ter uma idéia, no ano passado não houve registro de nenhuma morte policial durante o serviço.
Em Dourados, o vice-presidente da Associação e Centro Social da Polícia Militar e Bombeiro Militar de Mato Grosso do Sul (ACSPMBM-MS), Aparecido Lima, “Sargento Cidão” diz que os salários “congelados” obrigam os militares a fazer “bico” como segurança nos dias de folga, mesmo sendo uma atividade proibida. A consequência disto, segundo ele, é que o profissional não descansa e volta ao trabalho cansado. Outra situação grave, segundo ele, é que 85% dos policiais estão endividados com empréstimos consignados. “Sem um rendimento satisfatório, vem as contas, a falta de ânimo, as pressões diárias, os riscos, a depressão e o suicídio”, alerta Cidão.
Ele também cita os descontos previstos com a reforma dos militares, sancionada em dezembro do ano passado aos inativos, além da falta de uma política voltada para contemplar com adicional de insalubridade os militares que atuam dentro dos hospitais na custódia de presos internados. Em Dourados a Polícia Militar contabilizou 64 presos nessa condição e mais de 550 custódias, segundo o vice-presidente.
Ele explica ainda que hoje a PM de Dourados conta com duas equipes de viaturas, sendo que uma delas permanece 24h no cuidado de um paciente mental preso e internado no Hospital Universitário e outra sai do trabalho nas ruas para atuar no presídio, que tem quatro torres mas conta com monitoramento policial em apenas três. “Há dois anos policiais que poderiam estar coibindo o crime nas ruas estão cuidando de presos. As condições de atuação também não são das melhores. Os militares que estão no Hospital não tem local próprio para ficarem, nem acomodação. Permanecem em pé e quando precisam ir ao banheiro precisam pedir licença a pacientes. É uma situação desgastante”, explica.
Na Capital, o presidente da ACSPMBM-MS, Mario Sérgio Couto, ressaltou ao O PROGRESSO que recentemente apresentou na Câmara Federal as causas para a morte de policiais em MS. O objetivo foi mobilizar as autoridades para olharem com atenção ao Estado. Ele destacou mau gestão do regulamento interno, endividamento dos policiais, desiquilíbrio familiar em decorrência das jornadas de trabalho, entre outros. Ressaltou a importância da criação de métodos que façam os militares a buscarem ajuda e destacou que em Maio a categoria irá apresentar o Plano de carreiras na assembleia Legislativa e que prevê aumentos gradativos e recomposição salarial.
Menor efetivo
Dados do Conselho Institucional de Segurança Pública de Dourados (Coised) divulgados em 2018 mostram que a cidade de Dourados só perde em defasagem policial para o 6º Batalhão da PM de Corumbá (1 policial para cada 1027 habitantes) e a 2ª Companhia Independente de Polícia Militar de Maracaju (1 policial para cada 1.019 habitantes). Enquanto a 2ª maior cidade de MS, Dourados, tem 1 policial para cada 960 habitantes, cidades do interior conseguem ter mais policiais, se levado em conta o índice habitacional. Aquidauana por exemplo tem 1 policial para cada 447 habitantes; Fatima do Sul tem 1 policial para cada 468 habitantes. Naviraí tem 1 policial para cada 604 habitantes; Nova Andradina tem 1 policial para cada 634 habitantes; Três Lagoas tem 1 policial para cada 667 habitantes, Ponta Porã tem 1 policial para cada 692 habitantes; Campo Grande tem 1 policial para cada 702 habitantes e Amambai tem 1 policial para cada 812 habitantes.
(Por Valéria Araújo, do Progresso)