Estudante cego faz redação do Enem sem transcritor e não tem nota divulgada pelo Inep

Anderson Azevedo, de Petrópolis, não teve a nota do Enem 2019 divulgada. Ele sonha se tornar um advogado — Foto: Gladstone Lucas/G1

Anderson Azevedo, de 22 anos, sonha em cursar uma faculdade de direito para se tornar advogado e atuar em causas voltadas à acessibilidade. Por ser cego, fez a prova da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2019 em braille. Para ele, de família simples da zona rural de Petrópolis, na Região Serrana do Rio, o exame é a oportunidade de acesso gratuito a uma universidade. Mas quando acessou a página com as notas individuais dos participantes, foi surpreendido ao verificar que a nota da redação não havia saído.

O jovem conta que fez todo processo de forma correta, desde a inscrição, quando indicou a necessidade especial para a realização do exame. Porém, quando foi fazer a redação, percebeu que não havia um transcritor, profissional responsável por passar o texto para a escrita comum cuja presença no local do exame é prevista pelo próprio Inep.

“Geralmente, quando eu faço a redação, eu vou falando para um ledor e ele vai transcrevendo para outra folha, na escrita comum. Dessa vez foi diferente. Eu perguntei lá o que eu deveria fazer, eles não sabiam. Eles saíram para perguntar em outras salas e depois disseram que era só eu escrever que eles iam anexar a folha que escrevi em braille e levar para corrigir”, explica Anderson.

Todas as outras notas do estudante saíram. Anderson espera agora uma resposta do Inep para que consiga se inscrever no Sisu e tentar uma bolsa. “Entrei em contato com o Inep e falaram que iam abrir um procedimento para ver o que aconteceu, me enviaram um protocolo, mas, até agora, nada”, desabafa o estudante.

O tempo é curto para Anderson dar o próximo passo rumo ao curso superior. Os pais são caseiros de uma fazenda na localidade de Secretário e não possuem renda suficiente para pagar uma faculdade particular. Até mesmo a máquina de escrever em braille que o jovem usa para estudar, é emprestada. O preço de uma dessas custa R$ 6 mil.

Somente a nota da redação de Anderson Azevedo, que é cego e fez o exame sem transcritor em Petrópolis, não foi divulgada pelo Inep — Foto: Reprodução Inter TV

A reportagem tentou contato com o órgão e aguarda uma posição. Por telefone, o Inep informou que está com muita demanda e pediu que a reportagem aguardasse pela resposta.

“Você se esforça o ano inteiro e aí você vê o resultado de que não fez e, poxa, você fez! É triste, dói, né, a gente ver uma pessoa que sempre correu atrás, a gente sempre batalhando”, lamenta Aparecida Azevedo, mãe do Anderson.

Anderson já trilhou muitos caminhos difíceis e espera superar mais esse obstáculo. A mãe é a grande inspiração para o jovem, que, como futuro advogado, pretende ajudar outras pessoas a terem acesso aos seus direitos. “Desde pequeno, eu vi a luta da minha mãe. Para conseguir ônibus, transporte para o colégio. Só indo para a Justiça para conseguir as coisas. Então, quero entrar nessa parte para ajudar mais as pessoas que têm essa mesma deficiência”, disse Anderson.

Publicada

Após seis dias de espera, o estudante Anderson Azevedo teve a nota da redação do Enem. 2019 divulgada pelo Inep.

(Fonte: G1)

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