‘Eu tenho uma mãe com Síndrome de Down e ela é zelosa e meu xodó”, diz filha
Você já deve ter visto uma pessoa adulta com Síndrome de Down, não é verdade? Mas você já viu um portador da doença passeando com o próprio filho? Provavelmente não. Isso porque pessoas com essa alteração genética têm maior propensão à infertilidade. Para as mulheres, a taxa é de pelo menos 50%. Já para os homens, sobe para 80%. O problema, no entanto, não afetou Izabel Rodrigues, que hoje tem 66 anos.
Izabel só descobriu que tinha Down aos 35 anos, depois de passar décadas da sua vida sendo considerada “alguém que vivia no mundo da lua”. Durante toda a infância e adolescência, ela teve dificuldades motoras e de aprendizado – motivo pelo qual seus pais a tiraram da escola cedo. Hoje, ela lê e escreve muito pouco. No trabalho, ela já foi flagrada brincando com os amigos imaginários, o que fez com que fosse chamada de louca.
Aos 25 anos, Izabel começou a namorar José Ribeiro, seu primo de segundo grau que não tem a doença genética. Cerca de seis meses depois, ele pediu permissão para se casar com ela. Os irmão de Izabel foram contra a união porque “ela não era muito certa”, mas sua mãe permitiu. Logo no início do casamento, os dois decidiram que queriam filhos, mas eles nunca chegavam.
Uma década depois, sem ainda ter conseguido gerar, parentes do casal levaram a mulher ao médico para descobrir o motivo. Na consulta, o médico descobriu a Síndrome de Down. Com o diagnóstico, Izabel foi avisada de que jamais poderia ter filhos porque “pessoas assim são inférteis”. Apesar do triste prognóstico, ela conseguiu engravidar alguns meses depois. “Foi uma grande felicidade descobrir que ela estava grávida”, disse José à BBC.
A pequena Cristinna
O anúncio da gravidez, trouxe desconfiança para os familiares, que não tinham certeza se Izabel conseguiria cuidar de um bebê. Por causa disso, logo após o nascimento de Cristinna, uma das irmãs dela veio ajudá-la com os cuidados da recém nascida.
“Os meus tios não queriam deixar a minha mãe sozinha comigo e decidiram que alguém precisava acompanhá-la nos primeiros dias, depois que ela saísse do hospital. Essa minha tia, que já tinha filhos, ficou na minha casa durante o meu primeiro mês de vida. Depois ela foi embora, porque a minha mãe já tinha aprendido o que tinha que aprender”, contou Cristinna, hoje com 29 anos, à BBC.
Durante a maior parte do tempo, Izabel ficava sozinha com a filha – que não tem Síndrome de Down – e sempre cuidou muito bem da criança. “Sempre que eu me sujava, ela corria para me limpar. Mesmo que estivesse perto da lama, com as outras crianças sujas, eu sempre estava limpa”, disse.
Até hoje, quase três décadas depois, os parentes de Izabel ainda se surpreendem com o fato de ela ter conseguido criar Cristinna, especialmente porque eles moraram durante muito tempo em uma região rural do pequeno município de Morrinhos, em Goiás, onde passaram por dificuldades financeiras ao longo da vida. Ainda assim, Cristinna foi muito bem cuidada pela mãe. “Ela era a minha bonequinha. Cuidei muito bem dela. Ela era um xodó para mim”, disse Izabel à BBC.
Ela está muito orgulhosa da filha, que recentemente se formou em Administração. “Uma prima, muito mais velha que eu, comentou que ninguém acreditava que meus pais dariam conta de cuidar de mim, muito menos de me formar. Ninguém nunca acreditou que eles fossem capazes. Mas fiz questão de dar esse orgulho para eles”, contou Cristinna.
(Fonte: Veja)