Fala preconceituosa de advogada contra nordestinos repercute em Mato Grosso
pós a vitória do presidente Lula na eleição de ontem (30) muitas pessoas voltaram a fazer ataques aos brasileiros que vivem no Nordeste do país, região onde o petista venceu com larga margem e praticamente definiu o resultado da disputa. Uma dessas manifestações foi feita pela advogada rondonopolitana Regina Almeida Luciano (foto), que chegou a desejar que os nordestinos morressem de fome e sede.
A declaração (ouça abaixo) foi feita em um grupo Whatsapp que reúne quase duzentas pessoas – incluindo jornalistas, políticos, empresários e sindicalistas. A advogada comentava a declaração de um outro membro do grupo que afirmou que Jair Bolsonaro (PL) poderia ter vencido se tivesse como vice na chapa uma liderança do Nordeste.
“Que filho, nordestino é igual corno. Podia ter um vice, podia ter outro candidato, podia ter quem fosse. Podia ter o papa, podia ter Deus. O nordeste adora bandido e acabou”, reagiu.
A advogada também se referiu ao presidente eleito como ‘bandidão’ e manifestou o que deseja que ocorra com os nordestinos após a eleição de ontem.
“Agora o bandidão vai acabar com a transposição do São Francisco, que foi o Bolsonaro que concluiu. Eu quero que aquele povo morra de fome e de sede”.
Procurado pela reportagem o criador e um dos administradores do grupo, Macsuel Oliveira, minimizou o episódio. Ele disse que a advogada afirmou tratar-se de uma ‘brincadeira’.
“Meu amigo calor da derrota. Igual eu falei para ela, (precisamos) relevar isso”.
Macsuel não informou se adotaria alguma sanção ou se pretendia pedir desculpas pelos ataques ao povo nordestino,
Reações – Apesar da postura do administrador, a declaração da advogada foi reprovada por alguns integrantes do grupo. A reação mais contundente partiu da presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Rondonópolis, (Sispmur), Geane Lina Teles. “Me sinto extremamente ofendida. Sou filha de nordestinos e tenho o maior orgulho do meu povo”.
“Uma coisa que minha família nordestina me ensinou foi ter amor ao próximo. Todos nós temos direito a ter uma boa alimentação, à água, à educação, a tudo. É muito triste ver arraigado nos nossos colegas o ódio, o desejo de morte a um povo tão sofrido como é o povo nordestino. É lamentável essa fala, vergonhoso”.
A subsecção da Ordem do Advogados do Brasil em Rondonópolis informou que a advogada não ocupa nenhum cargo na atual diretoria e manifestou repúdio ‘a qualquer manifestação preconceituosa e/ou discriminatória’.
Outro lado – Questionada pelas declarações, a advogada Regina Luciano primeiro negou. Depois de ser confrontada com o teor da gravação, ela disse que não tinha a intenção de ofender os nordestinos e classificou o episódio como uma ‘brincadeira’.
“Foi tão de brincadeira, tão sem malícia, que eu nem me lembrava”, afirmou. “Me retrato, peço desculpas pelo que falei. Não sou uma pessoa de coração ruim, maldosa ou preconceituosa”.
A advogada fez questão de dizer que faz doações mensais de R$ 500 reais para uma ONG de Pernambuco que distribui comida para moradores de rua e cestas básicas para famílias carentes. Ela reconheceu que o fato de fazer doações em dinheiro não lhe dá o direito de ofender os nordestinos, mas considera que isso é uma prova de que ela não deseja o mal aos moradores da região.
“Se tem muitos que não morreram de fome é porque eu também estou contribuindo. Se eu odiasse os nordestinos e quisesse realmente que eles morressem eu não estaria contribuindo com eles”, comparou.
Ao ser informada que a OAB-Rondonópolis foi comunicada sobre o fato, ela disse que a entidade tem temas mais importantes para tratar.
“A OAB não é minha babá não. Você acha que a OAB vai fazer o quê comigo? A OAB não está nem aí com o que o advogado faz fora do exercício da profissão. Acho que a OAB tem pautas mais importantes, mais sérias”, disse ela citando como exemplo a campanha Outubro Rosa e as ações visando a prevenção ao câncer de mama.
A advogada se recusou a fazer comentários sobre outras pessoas que também decidiram atacar nordestinos por causa do resultado da eleição. “Cada um sabe de si, eu sei de mim. Não tenho que me meter no que os outros estão falando ou deixando de falar”.
Regina Almeida Luciano se graduou em Direito pelo Centro de Ensino Superior de Rondonópolis e possui Pós Graduação em Direito e Processo Penal pela Faculdade de Direito Professor Damásio de Jesus, pós-graduação em Direto Constitucional Aplicado pela Faculdade de Direito Professor Damásio de Jesus e é mestranda em Psicologia Criminal pela Universidad Europea Del Atrantico. Ela também é autora da obra “Manual de Direito Constitucional” .
(Por Eduardo Ramos, do regionamt)