Fausto Mato Grosso deixa legado de retidão e militância política no MS

Dezenas de amigos, familiares e admiradores de Fausto Mato Grosso (foto) compareceram ao velório do ex-vereador, secretário e professor do Estado de MS, na tarde desta quarta-feira (1º). Ele morreu na madrugada, aos 73 anos de idade, depois de ter enfrentado problemas de saúde por mais de dois anos.

Descrito como “ético, culto e muito íntegro”, Fausto foi militante histórico de esquerda. Ele ele fundou o PCB (Partido Comunista Brasileiro) no Estado, que atualmente se chama Cidadania.

Na política, foi vereador de Campo Grande entre 1983 e 1988, além de secretário do Centro-Oeste do Ministério da Integração Nacional, no mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Deixou o cargo para ocupar a então Secretaria de Estado Planejamento e de Ciência e Tecnologia na gestão do ex-governador José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT.

Paranaense de Ponta Grossa, ele era formado em engenharia civil e já foi professor da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). Nesta tarde, mais de 100 pessoas passaram pela capela, no cemitério Parque das Primaveras, e pelo menos 20 coroas de flores foram enviadas em sua homenagem.

O sobrinho de Fausto, João César Mato Grosso (PSDB), atual vereador da Capital, relatou que a relação com o tio sempre foi de aprendizado, mesmo os dois seguindo linhas ideológicas distintas.

“Ele era uma pessoa muito culta, com uma linha política muito bem definida, mesmo quando sai candidato pelo PSDB, ele acabou não me apoiando, porque não se dobrava contra os princípios dele. Ele foi, mas deixou uma história de lealdade, de princípios e valores para a família dele, para a faculdade. Agora, a gente leva o legado dele, o nome dele, para seguir esse exemplo e, quem sabe, no final da vida ser tão querido e reconhecido como ele”.

O deputado estadual Rinaldo Modesto (Podemos), também esteve presente no velório e ressaltou que Fausto sempre lutou pelos direitos sociais e respeitou a diversidade.

“Até 15 dias atrás ele estava discutindo política, conversando sobre a possibilidade da terceira via. Então, ele deixa um legado de ética e moral, um exemplo para a juventude. Vai deixar uma saudade para todos nós da classe política, da classe acadêmica, mas ele cumpriu sua missão e lutou o bom combate”.

O professor Jânio Batista de Macedo, 63 anos, era amigo há mais de 30 anos do ex-vereador e relatou que sempre o viu como uma figura de exemplo a ser seguido, por sua integridade e seriedade.

Jânio visitou Fausto há poucos dias e ressaltou que, mesmo com a saúde debilitada e com hematomas causados pelas sessões de hemodiálise, ele nunca se lamentou.

“Estava sempre de bom humor. Ele estava preocupado com a conjuntura atual do país e recentemente ele escreveu um livro. É uma pessoa que vai deixar um legado muito grande, não só para o pessoal progressista, mas para todo o Estado”.

O livro em questão é a obra “Histórias que Ninguém Iria Contar – História da Vida Banal do PCB no Estado”, publicado em 2021. Na descrição do livro, Fausto explica que rememorou fatos passados de sua militância política.

“Não pretendi escrever memórias, tampouco a história do PCD, isso tem que ser deixado para os historiadores, mas sim a narrativa de fatos vividos no cotidiano de muitos militantes políticos da minha geração. Tais acontecimentos, se não forem narrados, correriam o risco certo de se perderem pelos vãos da história”.

A admiradora da carreira de Fausto, a cantora e compositora Lenilde Ramos, 70, disse que foi muito importante que o livro fosse publicado antes da morte do político. “É um conjunto muito importante para essa geração e que registra essa história. Uma história que ninguém quer contar. A gente está num período que precisamos muito de exemplos democráticos e atitudes democráticas”, apontou. (Por Gabrielle Tavares, do Campo Grande News)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *