“Fiéis” radicais de direita pressionam e faz igreja cancelar “contrato lulista” em Rondonópolis

Após a mobilização de grupos de extrema-direita, o novo bispo da Diocese Rondonópolis-Guiratinga-MT, Dom Maurício Jardim, solicitou que a paróquia da Vila Operária cancelasse o contrato de locação do salão paroquial – onde seria realizado o ato de apoio à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência. .

O ato vai celebrar o aniversário de 77 anos do ex-presidente Lula e seria realizado no salão paroquial para homenagear também o padre Lothar Bauchowitz, que é pároco da Vila Operária e foi pioneiro na luta por direitos sociais em Rondonópolis.

Fontes ouvidas pela reportagem afirmam que integrantes da extrema-direita chegaram a se mobilizar em grupos de whatsapp para programar agressões aos apoiadores de Lula e depredar a Igreja da Vila Operária, que fica ao lado do salão paroquial.

Em nota pública, divulgada ontem (25), Dom Maurício Jardim não comentou as ameaças de agressão e vandalismo. Ele admite, porém, que pediu o cancelamento do contrato de locação por causa das movimentação nas redes sociais e por temer uma cisão na ‘comunhão’ entre os fiéis.

“Diante da repercussão nas redes sociais sobre o contrato de aluguel firmado pela Paróquia São José Operário da cidade de Rondonópolis, comunico que após um diálogo fraterno e respeitoso com o Pe. Volnei Weber, decidimos romper o contrato para garantir a comunhão que nos identifica como cristão católicos”.

Carta – A decisão do novo bispo também teria sido motivada por uma ‘carta aberta’ que circulou em vários grupos de whatsapp e perfis de rede sociais. O documento, sem assinaturas e apócrifo, dizia que a realização do ato público era vista como uma ‘afronta a opinião particular dos paroquianos’. Em outro trecho reproduz informações já declaradas falsas pela Justiça para alegar que as propostas de Lula seriam ‘contrárias a fé católica’.

A reportagem foi informada que o bispo teria ainda recebido a visita de empresários bolsonaristas, que exigiram o cancelamento do contrato.

A Paróquia da Vila Operária existe há 56 anos e neste período o salão foi utilizado várias vezes para manifestações de cunho social e político, sem distinção de ordem econômica ou ideológica.

Os contratos de locação são analisados pelos padres e passam também crivo do Conselho Econômico Paroquial. Nunca antes a paróquia teve a necessidade de cancelar contratos por pressões políticas ou de outros motivos.

“Sempre locamos o salão paroquial tanto para festas particulares como para eventos sociais e políticos, tanto da direita e da esquerda. Sempre alugamos esse salão e nunca tivemos problema”, disseram os padres da Paróquia em um outro documento que a reportagem também teve acesso.

Dom Maurício Jardim assumiu oficialmente a Diocese no último domingo. Ele sucedeu o bispo Dom Juventino Kestering, que morreu de Covid-19 no ano passado.

Dom Juventino também chegou a ser vítima de ataques de extremistas nas redes sociais, apesar de manter-se sempre distante da política partidária. (Por Eduardo Ramos, do regionalmt)

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