Formação internacional: Em Portugal, bombeira de MS se torna primeira militar em busca e socorro com cães

Depois de passar 81 dias participando de uma intensa formação em Portugal, a Tenente Maria Ester Reverdito, que faz parte do quadro de Oficiais Combatentes do Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul (CBMMS), retornou ao Estado trazendo na bagagem, além de muito conhecimento, um feito histórico. Ela é a primeira militar do CBMMS a realizar no exterior o Curso Cinotécnico de Busca e Socorro.

A cinotecnia é a área relacionada ao estudo, criação e treinamento de cães para atuação em atividades específicas, como busca e salvamento de vítimas de desastres ou de pessoas desaparecidas.

Realizado pelo Grupo de Intervenção Cinotécnico da Unidade de Intervenção da Guarda Nacional Republicana (GNR) de Portugal, a formação aconteceu de 16 de setembro a 6 de dezembro de 2024. O curso contou também com a participação de outro bombeiro brasileiro, o Sargento Sirlei da Silva, do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG), além de um Guarda Civil espanhol, um militar do Timor-Leste e um Guarda da GNR.

Tenente Maria Ester fez um relato de como foi a experiência e destacou que Mato Grosso do Sul está bem avançado com relação à formação de cães de busca.

“O curso possui uma estrutura fantástica. Portugal é um país que já está muito avançado nessa questão de utilização de cães no serviço, tanto que já apoiou diversos países em catástrofes, e ter essa oportunidade de ir lá, conhecer como funciona uma estrutura de alto nível, uma estrutura que já está sedimentada com clínica veterinária, com pista de treino, com militares que atuaram em diversos locais, foi uma experiência incrível. Uma das coisas mais positivas foi o intercâmbio com militares de diversos países, para trocar experiências sobre o que está acontecendo em cada local. Em relação à competência técnica, o Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul não está nenhum pouco atrás. Nossos cães estão sendo formados com excelência e estamos sempre buscando melhorias para a estrutura, para aumentar o nosso efetivo e, assim, conseguir colaborar cada vez mais com a sociedade”, relatou.

As instruções aconteceram na sede da Escola da Guarda Nacional Republicana, localizada em Queluz, região metropolitana de Lisboa, Portugal. Com duração de 81 dias e uma carga horária de 444 horas-aulas, a especialização teve na grade curricular as matérias de: Técnicas e táticas de busca e socorro; Conhecimentos Gerais e Teorias da Aprendizagem Cinotécnica; Assistência Veterinária, Bem-estar e Regime Jurídico; Obediência; Busca e Indicação de Odor Humano em Área Aberta; Busca e Indicação de Odor Humano em Estruturas Colapsadas; Busca e Indicação de Odor Humano em Meios de Transporte; Intervenção Policial com cão e; Treino Físico Base e com cão.

De acordo com a Tenente Maria Ester, após receber toda a parte doutrinária do treinamento com cães, os militares que participaram do curso ficaram responsáveis por um cão e tiveram que cuidar de toda parte relacionada à saúde e alimentação do animal, com o apoio da clínica que compõe a estrutura, além de fazer a limpeza de canis.

A finalidade é dotar os binômios, dupla formada pelo condutor e o cão, para colocar em prática as competências técnico-profissionais adequadas para a localização de indivíduos desaparecidos em acidentes provocados por ação humana ou causas naturais.

“Achei muito legal ter essa experiência de ser formada juntamente com o cão, de ter que cuidar, ter que saber as necessidades, corrigir comportamentos. Lá, a gente vivencia isso todos os dias durante o curso. Eles ressaltam bastante também o quanto é importante o militar cinotécnico estar bem fisicamente, operante, para poder atuar com o cão, porque são situações que normalmente exigem muito esforço físico. Por isso, tem a valorização da educação física, principalmente da corrida, para o militar estar apto a conduzir o cão”, explica ela.

A especialização em Portugal teve como instrutores profissionais cinotécnicos que atuaram em catástrofes como o terremoto da Turquia e médicos veterinários que atendem os cães do serviço. Além da Escola, que possui diversas pistas de treino e sala de treinamento, o curso contou com instruções na Serra de Sintra, no Parque Florestal de Monsanto, no Parque Natural da Arrábida, e na pista de escombros de alto nível de dificuldade, em Fogueteiro.

O convite para enviar militares brasileiros ao curso foi encaminhado ao Conselho Nacional dos Corpos de Bombeiros Militares do Brasil (LIGABOM), que repassou a informação aos estados. Posteriormente, cada estado ficou responsável por fazer a seleção e indicar o nome do militar para a triagem do órgão. Após essa triagem, a LIGABOM informou à Guarda Nacional Republicana o nome dos militares aptos a realizarem o curso.

Agora, a Tenente Maria Ester quer colocar em prática os conhecimentos adquiridos e auxiliar no trabalho do canil do Corpo de Bombeiros. Ela é uma das militares que devem atuar nos treinamentos dos filhotes da cadela Laika.

“A ideia é que, daqui para frente, eu possa colaborar cada vez mais com o canil, tanto no planejamento e na estrutura, como ajudando também no treino dos filhotes e de toda a forma que eu puder, melhorando nosso canil cada vez mais”, destaca.

Uma paixão refletida na carreira

Não é por acaso que a Tenente Maria Ester está se capacitando para auxiliar na formação de cães. A paixão por estes animais e a afinidade com eles vêm desde criança, quando ela ainda pensava em ser veterinária. “Sempre fui criada junto com cães. Minha família sempre teve animais e, por isso, eu sempre tive muito carinho por eles, principalmente por cães”, conta.

Mas, segundo ela, a definição de que queria seguir carreira na área da cinotecnia nasceu quando ainda era Cadete, durante o Curso de Formação de Oficiais (CFO). “No início do CFO, o então Tenente Alencar e o Sargento Kalunga realizaram uma instrução com a gente no Morro do Ernesto, com a cadela Laika, e eu fiquei encantada. Desde então, me propus atuar nessa área, fazer cursos quando tivesse oportunidade e, sempre que eu podia, eu tentava participar de alguma maneira dos treinos do projeto, sempre conversando e demonstrando interesse. Desta forma, foi que eu acabei sendo selecionada para poder fazer o curso em Portugal”, explicou.

Antes de iniciar a formação, a Tenente Maria Ester já estava voluntariamente acompanhando e ajudando nos treinamentos com os cães e no Projeto Cão Herói, Cão Amigo. Agora, a capacitação em Portugal torna-a apta a compor a equipe do canil.

(Da assessoria)

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