Jornalista Eduardo Ramos escreve sobre lágrimas, ditadura e esperança

Por Eduardo Ramos *

“Chora não vovô, faz carinho em mim”. Mergulhado em um turbilhão de lembranças, pensamentos e sentimentos eu nem havia percebido as lágrimas que escaparam ao assistir a corajosa e necessária reportagem exibida na noite da última sexta-feira (02) pelo Jornal Nacional, na série sobre a Constituição da República. A frase da minha netinha me trouxe de volta e, rapidamente, tentei disfarçar e atendi ao segundo comando.

Enquanto alisava os cabelos dela pensei nos milhares de pais e avós que não tiveram o direito de acalentar seus filhos e netos. Nas centenas de jovens que não tiveram o direito de se tornarem pais ou avôs. Nos horrores daquele período de trevas e nos demônios, travestidos de gente (fardados ou não), que manuseavam instrumentos de tortura e de morte para calar o Brasil.

Durante mais de 20 anos eles aproveitaram o silêncio forçado para roubar tudo o que podiam. Saquearam cofres públicos, grilaram terras, corromperam jovens e quase acabaram com o que temos de mais valioso: A Esperança.

Ainda adolescente iniciei minha militância política, no movimento estudantil. A Ditadura já dava sinais de decadência, mas sua sombra ainda pairava aterradora sobre todos. Conheci pessoas que perderam os pais, irmãos e amores nos porões e esquinas do arbítrio institucionalizado.

Aquelas pessoas tinham motivos para viver sob a égide do ódio ou do medo. Mas, munidas de coragem exemplar, lutavam pela redemocratização e distribuíam aquilo que a Ditadura tentou arrancar de nós: A Esperança.

É preciso dizer que a Rede Globo, como muitas outras empresas, apoiaram o Golpe Militar e estiveram ao lado dos ditadores (por opção ou por covardia). Mas, como bem mostrou a reportagem de sexta-feira, ninguém precisa ser refém do passado.

Sempre é tempo de reconhecer os erros e agir para repará-los. Neste caso, a reparação possível passa pela denúncia do que ocorreu. As novas gerações têm o direito de conhecer a verdade. E todos, independentemente da idade, têm a obrigação de agir para impedir que nosso país volte a ser sequestrado pelo horror do autoritarismo.

É impossível desfazer o sofrimento e difícil será preencher os vazios deixados pelos ditadores e seus aliados. Mas podemos dar um novo significado a tudo aquilo, transformando o passado sombrio em lições para a construção de um futuro sempre iluminado. Basta não esquecer e nem deixar que a covardia tome o lugar da coragem que sempre alimentou nossa Esperança.

*O autor é jornalista, radicado em Rondonópolis

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