Mãe denuncia tortura e morte de filho após ser preso no Mato Grosso e acusa IML de impedir velório
Um detento da Penitenciária da Mata Grande, em Rondonópolis, pode ter sido espancado e torturado até a morte, segundo relatos de testemunhas e familiares.
Marlon Fernando Pereira Campos, de 22 anos, que não tinha nenhum mandado de prisão aberto e havia sido preso em flagrante no dia 15, deu entrada já sem vida na UPA de Rondonópolis no último dia 19 de dezembro com várias escoriações pelo corpo.
Segundo a Polícia Militar, Marlon foi preso no dia 15 de dezembro após denúncias de que um homem estaria armado em um pesqueiro nas proximidades da cidade de Dom Aquino. No pesqueiro, a PM efetuou a prisão de Paulo Gomes de Lima que, segundo o boletim de ocorrência, estava armado e com uma moto que era produto de roubo.
Aos policiais, Paulo disse que a moto pertencia a um certo “Nairton” e que ele a teria roubado. A testemunha informou aos policiais que o “Nairton” estava sendo atendido por um médico na região por conta de uma fratura no ombro.
Foi então que a PM relatou que foi até o consultório médico e efetuou a prisão de “Nairton” que, na verdade, era Marlon Fernando. Ele acabou sendo preso pela PM apenas com o relato do rapaz preso em flagrante no pesqueiro, ficou encarcerado na delegacia e depois, encaminhado à Mata Grande.
Depois disso, a PM registrou em BO que, após relatos em grupos policiais de Whatsapp, chegou-se à conclusão de que Marlon estava envolvido em um roubo recente em uma casa em Dom Aquino.
No dia 20 de dezembro, outro BO foi registrado relatando que o preso deu entrada na UPA de Rondonópolis com dores nas costelas e fraturas supostamente provenientes de tortura e espancamento).
No atestado de óbito, assinado pelo médico Mauricio Alves Pereira, a causa da morte aparece como sepcetmia, peritonite fecal e perfuração intestinal.
A UPA de Rondonópolis emitiu nota dizendo que o preso já chegou à unidade de saúde sem vida.
Família reconheceu corpo no escuro e foi impedida de fazer velório
A mãe do preso, dona Marciane Pereira Campos, relatou ao Portal Isso É Notícia que foi impedida de realizar o velório do filho e que o reconhecimento foi feito dentro do carro da funerária já fora da UPA, no escuro.
Além disso, ela também relatou que foi impedida de ver o corpo do filho dentro do IML porque, segundo os funcionários, o local estava sujo e não era permitida a presença de pessoas de fora naquelas condições.
Marciana ainda contou que foi impedida de realizar o velório do filho porque segundo a funcionária do IML, o corpo estava em avançado estado de putrefação, dando a entender que a morte tinha acontecido há vários dias e não naquele dia.
Ela diz que ainda foi avisada de que se não fosse até o cemitério na hora marcada pelo IML iria perder o enterro do próprio filho. No cemitério, a mãe disse que o caixão foi aberto na hora do sepultamento e que o corpo do filho estava envolto em um plástico.
Testemunha narra omissão de socorro e que policiais ameçavam Marlon
O outro preso, Paulo Gomes de Lima, relatou que Marlon ficou preso com ele e, ao chegar na delegacia, já apresentava dores e uma costela quebrada. Ele estava vomitando sangue e pedia para ser levado a um hospital.
“Eu tava preso quando ele chegou já machucado. A gente ficou trancado quatro dias na delegacia, ele pedia socorro porque tava vomitando sangue. Ele gritava muito. Até que um policial foi lá abriu a cela e disse que ele continuasse gritando eles iriam quebrar a outra costela dele. Eles [policiais] falavam: você vai morrer, a gente quer que você morra, você tem que morrer porque é matador de polícia”, afirmou a testemunha.
Pedido de prisão
O advogado Carlos Naves, representante da família de Marlon, protocolou uma representação criminal com pedido de prisão preventiva contra o delegados de Poxoréu e Jaciara, Bruno de Moraes e Sidarta Almeida Vidigal, contra o escrivão de polícia Fabio Antonio Coelho da Silva e contra o comandante do 1º Pelotão da PM de Poxoréu, sub-tenente Higino.
Na representação, o advogado narra as versões conflitantes e traz os depoimentos de testemunhas.
“Dessa forma, denota-se afirmar que o ‘de cujus’ [falecido] sofreu todo tipo de constrangimento ilegal, tortura e maus tratos que o vitimou dolosamente a óbito pelos agentes públicos que o aprisionou ilegalmente encarcerado sob a responsabilidade do Estado, ferindo todos os seus Direitos e Garantias Constitucionais”, relatou o advogado na representação.
(Por Alexandre Apá, do Isso é Noticia)