Mais de 30% dos alimentos estão contaminados por agrotóxicos, afirma pesquisadora

O uso e armazenamento de agrotóxicos continuam matando e causando patologias crônicas como câncer, mal de Parkinson e autismo. A utilização de veneno na plantação e cultivo das plantas na agricultura  é responsável pela contaminação de mais de 30% dos alimentos que vão para a mesa das pessoas. Este quadro preocupante foi apresentado pela pesquisadora Márcia Leopoldina Montanari Corrêa, nutricionista, especialista em Vigilância Nutricional pela Fiocruz, mestre  e  doutoranda em Saúde Coletiva pela UFMT.

A professora do Departamento de Saúde Coletiva da UFMT participou nesta segunda-feira (3), em Rondonópolis, do seminário  “Impactos dos Agrotóxicos no Meio Ambiente na Saúde e no Trabalhador”. Márcia atua nas áreas de saúde e soberania alimentar e vigilância e gestão de sistemas de Saúde. Ela desenvolve pesquisas com temas relacionados à saúde ambiental e contaminação de alimentos por agrotóxicos em territórios do agronegócio.

O evento foi sediado no campus local da universidade e foi realizado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT-MT) em atuação conjunta com o Ministério Público Estadual (MP-MT), a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e o Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT). “É uma situação alarmante, o problema existe e não tem como ficar maquiando suas consequências nefastas para a saúde e a vida das pessoas”, enfatizou a pesquisadora.

RURAL E URBANA

De acordo com Vanessa Martini, procuradora do MPT em Rondonópolis, o problema da contaminação por uso e exposição aos agrotóxicos não acontece apenas na zona rural dos municípios. Nas cidades existem locais inapropriados de armazenamento e transporte de veneno, afetando pessoas e com risco de acidentes com proporções danosas ao meio ambiente. O maior problema no entanto é a falta de notificação dos casos, pois muitas vezes os problemas de saúde provocados por agrotóxicos não são classificados por essa causa.

A procuradora defende o fortalecimento do processo de notificação dos casos de intoxicação por agrotóxico para que sejam criadas políticas públicas de tratamento, combate e prevenção.  Vanessa Fortini reforça a necessidade do trabalho de vigilância em saúde junto aos trabalhadores rurais, mas também nas cidades. “O problema está afetando a população urbana e uma mostra disso foi a coleta e análise de urina em escolas em que foi constatado quantidade elevada de agrotóxico nos exames laboratoriais”, pontuou a procuradora.

O seminário em Rondonópolis também contou com a presença de Margaret Matos de Carvalho, da Procuradoria Regional do Trabalho no Paraná e doutora pela Universidade Pablo Olavide em Sevilha (Espanha). Ela é diretora-executiva do Fórum Estadual Contra o Uso dos Agrotóxicos no estado paranaense e fez um breve balanço do trabalho, além de apresentar o projeto de comunicação “Vida Sem Veneno” (vidasemveneno.com.br).

O promotor Ari Madeira, da Promotoria Estadual do Meio Ambiente em Rondonópolis também esteve presente ao evento e discutiu com produtores projetos de produção sustentável de alimentos.

O campus de São Vicente do Instituto Federal de MT apresentou a oficina sobre o Centro Vocacional Tecnológico de Agroecologia e Produção Orgânica do Cerrado, e também projetos de capacitação em agroecologia para produtores rurais e profissionais da área interessados nesse tipo de produção. Os projetos foram apresentados pelo professor Dalmir Kuhn.

MT, CAMPEÃO DO VENENO

Mato Grosso tem um título que não é motivo de orgulho, que é ser o Estado que mais consome agrotóxicos no Brasil. Enquanto a média nacional é de oito litros por habitante – o que já não é bom – no MT é de 46 por pessoa, ou seja, quase seis vezes em relação ao restante do país. Este “recorde negativo” tem reflexos direto na saúde da população, que vem registrando uma crescendo evolução de doenças causadas por agrotóxicos.

 

Nilson Porto e Valdir Correia, da coordenação da associação local de apoio ao Hospital de Câncer de Barretos (Hospital de Amor), estiveram presentes no fórum sobre agrotóxicos. Eles informaram que, infelizmente, MT é um dos estados com menos população no Brasil, com cerca de 3 milhões de pessoas, mas é o quarto que mais manda pacientes para tratamento de câncer no hospital paulista.

FEIRA E LANCHES SEM VENENO

Além do seminário, o campus da UFMT de Rondonópolis sediou na segunda-feira uma feira agroecológica, com verduras e legumes produzidos sem o uso de agrotóxicos. O evento marcou o lançamento em Rondonópolis, da feira semanal agroecológica a ser realizada aos sábados no período da tarde na avenida principal (dupla) do conjunto São José. A articulação da produção orgânica local é da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

O intervalo para o lanche também teve um diferencial, com frutas de época e sucos de manga, tamarindo e de milho, pão sem química e até frango caipira à passarinho, entre outros. O aparador ecológico montado ao lado do auditório e foi organizado pelas integrantes da Associação de Mulheres Afrodescendentes, de Rondonópolis.

O FÓRUM

O Fórum de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos da Região Sul de Mato Grosso é composto de entidades da sociedade civil, instituições governamentais e não-governamentais e teve suas atividades iniciadas em 2016. Foi criado para proporcionar atuação na região sul do estado, especialmente debate das questões relacionadas aos agrotóxicos e produtos afins, de modo a fomentar ações integradas de proteção à saúde do trabalhador, do consumidor, da população e do ambiente.

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