Medicina UFMT: “Maiores notas são dos equilibrados, não dos mais inteligentes”, diz primeiro colocado
Primeiro lugar entre os estudantes de escolas públicas graças ao seu desempenho no último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o estudante mato-grossense Jaime de Lima Souza Junior, de 18 anos, conquistou uma vaga no curso mais concorrido da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT): Medicina.
O jovem, que sempre estudou na rede pública e formou-se na Escola Estadual Deputado Bertoldo Freire, de São José dos Quatro Marcos (a 310 km de Cuiabá), conta que o segredo para a aprovação foi se manter equilibrado durante a preparação para o Enem.
“Não subestime o tempo em que não está estudando. Aqueles que vi tirarem as maiores notas não eram os mais inteligentes, eram os mais equilibrados. Saber conciliar o estudo com algo que mude o seu foco pra que não se sobrecarregue é fundamental”, disse
Em entrevista ao MidiaNews, ele afirma que não sonhava em se tornar médico, principalmente pelo receio em relação às dificuldades que os estudantes enfrentam para conseguir alcançar nota suficiente para entrar no curso.
“Foi, na verdade, uma decisão lenta e gradual”, explica.
Ele afirma que, ao decidir pelo curso, direcionou sua força de vontade aos estudos, passando a se dedicar ao sonho em período integral, cursando o ensino médio durante o dia e se dedicando exclusivamente aos conteúdos do Enem na sua casa.
Jaime recorda que, antes de fazer 750 pontos no Enem e ser aprovado na UFMT, vivenciou uma rotina cansativa.
Ele afirma que tinha consciência sobre a necessidade de estudar muito para alcançar a nota desejada. No entanto, sabia que para manter sua saúde mental, precisava de descanso. Com isso, separava todas as sextas, sábados e domingos da semana para se dedicar a si mesmo.
Persistência
Jaime prestou dois exames antes de ser aprovado. Em 2017, fez 676 pontos e, no ano seguinte, 705. No entanto, ambas as notas não foram suficientes para fazê-lo alcançar seu objetivo.
Ele afirma, porém, que as experiências serviram como incentivo para ele continuar evoluindo e concertando suas falhas e fizeram com que a aprovação tivesse outro sabor, já que não era mais apenas sobre notas ou classificação em uma tabela.
“Foi um momento em que meus erros ao longo dos anos fizeram mais diferença que meus acertos. Cada questão que acertei na prova já tinha errado muito nos outros anos. Então, não ter desistido de nenhum conteúdo ao longo do caminho foi o que fez toda diferença”, afirma.
Ensino público e formação de caráter
Jaime credita ao ensino público não apenas a sua formação pedagógica. Segundo ele, a escola estadual teve um papel crucial na formação do seu caráter e de sua personalidade, sendo essencial para o seu futuro pessoal e profissional.
Ele afima que o convívio diário com outras realidades e opiniões fez com que vivenciasse um universo plural, “fora da bolha”, tornando-o um ser humano resiliente, capaz de lidar com problemas, adaptar-se a mudanças, superar obstáculos e até resistir à pressão de situações adversas, como as que enfrentou ao tentar alcançar seu sonho.
No entanto, o estudante não ignora as falhas que as instituições do Estado têm quando se trata da preparação para a universidade, ainda mais para um curso tão concorrido – lacunas essas lacunas que fizeram o jovem buscar reforço em um cursinho particular de Sinop.
“Por mais que não haja todo o suporte estrutural e pedagógico nas escolas públicas, não há lugar melhor para formação de um caráter resiliente. Afinal, é bem mais fácil estudar muito quando está em um cursinho, com cobrança de todos os lados, do que no ensino médio público, onde não há tanta cobrança. Caso se mantiver focado nesse ambiente, conseguirá em qualquer outro”, afirma.
Amadurecimento e futuro
Com a aprovação na UFMT, um novo capítulo está prestes a se iniciar na vida do mato-grossense. Jaime, que morou com os pais a vida toda, se mudará sozinho para Cuiabá assim que começar o próximo semestre na universidade.
Para ele, o começo de sua nova jornada será seu maior obstáculo, pois tem dificuldade para aderir a uma nova rotina, novos horários e novos lugares. No entanto, ele se nega a fazer projeções de problemas futuros e diz que segue vivendo um dia de cada vez e mantendo os pés fixos na realidade “para evitar se perder no caminho”.
(Por Vitória Gomes, do Midianews)