Ministério Público pede apuração de morte de detento durante prisão
Ministério Público Estadual (MPE) solicitou à Polícia Civil que abra um inquérito para investigar a morte e possível tortura do detento Marlon Fernando Pereira Campos, que ocorreu no dia 19 de dezembro no Presídio de Mata Grande, em Rondonópolis (a 220 km de Cuiabá).
O requerimento é assinado pelo promotor de Justiça Francisco de Souza Gomes Júnior e foi feito no dia 30 de dezembro.
A família do detento acusa policiais de torturarem e matarem o preso. Conforme o advogado Carlos Naves, Marlon teria ficado quatro dias agonizando com dor no abdômen na Delegacia de Poxoréu e a Polícia negou atendimento médico.
Marlon teria sido preso no dia 15 de dezembro de 2019 por estar com uma moto roubada, após um colega ter delatado seu paradeiro.
O advogado questiona a versão da Polícia Militar no boletim de ocorrência. Segundo ele, Marlon foi vítima de tortura e negligência, pois não recebeu os devidos cuidados médicos que poderiam salvar sua vida.
Para Naves, o detento foi “vítima de racismo e preconceito por ser negro e pobre”. Ele ainda ressalta que não há justificativa para o que houve, que ele classifica como o “pior crime que a Polícia pode cometer”.
“Não foi acidente porque tem uma sequência de mentiras. Foi tortura. O cara que é negro, pobre, que não tem escolaridade, é tratado como cachorro. A realidade é essa. O cara vem a óbito e a primeira coisa que fazem é jogar em cima do Comando Vermelho. Quem ‘salvou’ ele foi a Polícia”, afirmou o advogado.
“Na verdade, eles cometeram o crime máximo, não existe a pena de morte e nem de tortura. Eles julgaram e condenaram com a pena que não existe”, completou.
O caso
No B.O., a informação é de que o suspeito Paulo Gomes de Lima teria entregado Marlon durante uma abordagem policial. Paulo teria dito que o colega tinha sofrido um acidente e estava recebendo atendimento médico no hospital.
No entanto, em entrevista do advogado com Paulo, o amigo teria negado a versão do boletim de ocorrência. No áudio que o MidiaNewsteve acesso, o preso diz que não sabia onde Marlon estava ou que ele teria se acidentado.
“Nessa ocorrência a gente não estava junto. Eu estava no pesqueiro e ele estava na rua. Eu nem sabia que ele estava no hospital”, afirmou Paulo.
“Tem muita contradição aí. Nós fomos lá, pedidos a informação no hospital e não acharam nada de que ele teria dado entrada no hospital”, completou o advogado.
Paulo foi preso por porte ilegal de arma e encaminhado para a delegacia, onde, horas depois, Marlon chegou todo machucado.
“Eu estava preso e ele já chegou machucado na delegacia. Eu não sei se bateram nele porque eu não estava presente, eu já estava preso”, relatou o colega.
Na denúncia, Paulo relatou que Marlon teria pedido socorro por quatro dias para ser levado ao hospital, vomitando sangue por todo o período.
“Ninguém deu assistência para ele. Inclusive um policial foi lá dentro, abriu o latão e falou que se ele continuasse gritando para levá-lo no hospital, ele iria entrar lá e quebrar a outra costela dele”, contou Paulo.
Marlon passou por audiência de custódia e foi encaminhado para o presídio em Rondonópolis. Conforme o B.O., por conta das queixas de dores no abdômen, ele foi levado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) por volta das 20h.
Ainda segundo o B.O., o detento morreu pouco depois de dar entrada na unidade de saúde, no dia 19. Porém, a UPA emitiu uma nota informando que o preso já chegou sem vida, por volta das 23h.
O laudo do Instituto Médico Legal (IML) apontou que a causa da morte foi por conta de uma perfuração no intestino.
(Por Bianca Fujimori, do Midianews)