Na despedida, amigos realizam sonho de Richard de conhecer 2° andar da escola
Algumas histórias só parecem simples, mas merecem ser contadas pela emoção. Nesta semana, um gesto fez o estudante de uma escola estadual de Três Lagoas descobrir o quanto é bom ter o carinho dos amigos. Richard tem 19 anos, é cadeirante, e nunca havia conhecido o segundo andar do colégio pela falta de acessibilidade, até que os alunos deram um jeitinho.
Há menos de um mês, Richard Santigo da Silva comunicou à escola que teria uma consulta em São Paulo. As aulas continuam, mas ele só poderá voltar daqui duas semanas.
Um foi contando sobre a ausência do colega para o outro e, como muita gente sabia do desejo de Richard de conhecer o segundo andar da escola, os alunos falaram com a diretora e decidiram fazer uma surpresa antes dele se ausentar. “Eles queriam levar o colega para cima. A princípio, ficamos com medo, não sabíamos se eles iriam dar conta, mas ninguém segurou a turma e eles pegaram o Richard com cadeira rodas e subiram as escadas”, explica Lourdes Alves, diretora da Escola Estadual Professor João Magiano Pinto.
No vídeo, os colegas o levam na cadeira de rodas até o segundo piso. Com aplausos na chegada, o passeio continua pelas salas, banheiros e a sacada, principal local de desejo de Richard. “Eu queria muito saber como era a vista lá de cima”, descreve.
No segundo andar do prédio estão maioria das salas do Ensino Médio. Para quem não tem nenhuma deficiência, é certo que ao passar do Ensino Fundamental para o Médio, subir as escadas será necessário, mas Richard sempre permaneceu no térreo. “Ainda não tem nenhum elevador ou rampa para que eu possa subir, mas quando eu cheguei na escola pela primeira vez, achei muito diferente a parte de cima e isso se tornou um sonho”.
Sobre o gesto dos amigos, Richard diz que ainda se emociona ao lembrar. “Acho que eles queriam me fazer chorar. Mas me emocionei muito, foi bacana descobrir o carinho de alguns amigos”.
No piso térreo onde Richard estuda há acessibilidade, garante o menino. Mas ele cobra que algo seja feito quanto aos outros andares da escola. “Eu acho importante. Se tivéssemos professores cadeirantes, eles iriam dar aula só no primeiro piso? Por isso, acessibilidade tem que estar em todos os lugares”.
De acordo com a diretora, há um projeto “tramitando” para garantir acessibilidade em todos os andares da escola. “Os engenheiros vieram na escola, mas é preciso aguardar o projeto adequado porque o prédio já tem 50 anos. Mas sei que isso já está na programação”.
A professora diz que também se emocionou com os alunos, não só pelo sonho de Richard, mas pela troca de respeito e carinho. “A gente tem visto não só falta de acessibilidade, mas falta de empatia e respeito com as pessoas com deficiência. Mas ali eles mostraram ao colega que são iguais quando se tem sonhos. Eu fiquei bastante emocionada, é a prova que a nossa humanidade tem jeito”.
Richard nasceu com uma má formação congênita. Veio de São Paulo com a família para Mato Grosso do Sul, em 2011, quando o pai estava desempregado. Hoje, eles trabalham juntos vendendo marmitex na cidade.
(Campograndenews)