Nas redes sociais e na vida, Raíza é a crossfiteira que mostra a cara para falar de HIV

Crossfiteira, Raíza tem milhares de seguidores no Instagram que acompanham a rotina da atleta. (Fotos: Arquivo Pessoal)

“Nunca saí do armário, pois nunca me escondi de nada, estou sujeita à infecções, sendo por relações sexuais ou outras, como qualquer pessoa”. Se existe um “armário” para quem se esconde atrás de um diagnóstico, Raíza Medeiros desconhece. Médica veterinária e crossfiteira, ela nunca esteve dentro de um por encarar com muita naturalidade que é portadora do vírus HIV.

A confirmação veio quando ela tinha entre 27 e 28 anos, depois de vários exames para tentar descobrir porque a imunidade estava tão baixa. “Eu me sentia fraca, com muita dor muscular, fui fazendo exames e nunca dava nada. O médico pediu uma bateria e entre eles estava o HIV. Fiz tranquilamente, porque nunca imaginei que tivesse”, conta hoje aos 30 anos.

A infecção foi através de relação sexual. Depois de um ano de tratamento, o vírus se tornou indetectável. “Que é quando a pessoa faz o tratamento corretamente, toma as medicações e os exames começam a dar como se a carga viral estivesse praticamente nula”, explica.

Na prática, é vida normal. Tal qual Raiza leva. Ela pode ter filhos, se relacionar sexualmente, pode namorar, beber e fazer o que quiser. Inclusive crossfit, que ela faz muito bem.

Sobre nomenclaturas, Raiza diz que é indiferente dizer que ela é soropositiva para HIV, portadora ou que convive com o vírus, por levar a alteração de saúde como uma diabetes. “Não vejo muita diferença, é uma alteração de saúde, como qualquer outra”.

Raíza nunca esteve dentro de nenhum armário, porque acredita que não precisa se esconder de nada

Entre amigos, dentro e fora das redes sociais, a veterinária Raíza dá a cara para falar sobre o vírus da AIDS até para quem faz uma simples pergunta como por que ela não vai beber hoje. “Não posso, porque acabei de tomar medicamento, um antibiótico para garganta. E se perguntam por que, eu respondo ‘uai, sou soropositivo’. Não tem porque me esconder, não estou cometendo um crime”, assegura.

Ao receber o diagnóstico no primeiro exame, é claro que Raiza sentiu o baque, questionou, ficou triste e tentando entender como, até que resolveu aceitar tranquilamente a fazer disso uma bandeira contra a desinformação. “Eu sempre fui uma pessoa que gosta de ajudar o próximo com informação e de outras maneiras, agora especificamente de mim, eu gosto de passar conhecimento para as pessoas, então abordo sempre”, diz.

No Instagram, volta e meia, algum dos 18 mil seguidores de Raíza vêm desabafar, perguntar ou comentar alguma coisa. E é aí que ela entra para contar da própria experiência, de se informar ao máximo sobre o assunto para levar uma vida normal. Hoje o tratamento dela é tomar o antiretroviral a cada 12h e manter uma alimentação saudável.

Veterinária encara AIDS como qualquer outra alteração de saúde

A reportagem tentou encontrar outros personagens que contassem sua história. Bateu até no hospital que é referência para o tratamento de doenças infectocontagiosas, mas soube que entre eles, é difícil até de criar um simples grupo de WarsApp para trocar informações, porque a maioria prefere a discrição.

“Acredito que ainda exista um pensamento muito defasado, porque antigamente não tinha tratamento. Quem era diagnosticado, geralmente eram homens homossexuais. Hoje em dia não se vê mais dessa maneira. Não tem mais uma classe de risco, qualquer pessoa corre o risco de ser infectada”, acredita Raíza.

Justamente para tirar este estigma que Raíza resolveu falar. “Por que eu deveria me esconder? Se eu tivesse um câncer ou diabetes, ia me esconder?”.

O Instagram da Raíza é o @raizavet.

(Por Paula Maciulevicius Brasil, do Campograndenews)

 

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