No MT, cacique Raoni e 45 povos indígenas lançam carta denunciando governo federal

Cacique Raioni assina manifesto dos povos indígenas que deverá ser entregue ao presidente Jair Bolsonaro – Foto: DW / Deutsche Welle

Redigido em encontro inédito de lideranças indígenas, documento denuncia ameaças de projetos propostos pelo governo e une povos em defesa dos territórios e da floresta.Depois de quatro dias de reunião na aldeia Piaraçu, norte de Mato Grosso, mais de 600 lideranças indígenas do país finalizaram na sexta-feira (17/01) um documento com reivindicações para ser entregue ao presidente Jair Bolsonaro.

Batizado como ˜Manifesto do Piaraçu”, o texto denuncia o projeto em curso do governo brasileiro de “genocídio, etnocídio e ecocídio”. Citando obras controversas executadas na Amazônia, como a hidrelétrica Belo Monte, Raoni disse que esses empreendimentos não foram bons para os povos indígenas.

“O homem branco é muito ganancioso”, disse o cacique Raoni Metuktire em seu último discurso antes de assinar o documento. Em diversos momentos, em pé no centro da Casa dos Homens, que sediou o evento, ele foi interrompido por aplausos das lideranças na plateia. Mais cedo, os participantes tinham homenageado o líder caiapó com danças e cantos típicos de suas etnias.

O documento ressalta o reconhecimento dos direitos indígenas nos artigos 231 e 232 da Constituição Federal de 1988, além da convenção internacional que estabelece que, em caso de projetos que impactem os indígenas, eles devem ser consultados previamente.

“O atual presidente da República está ameaçando os nossos direitos, a nossa saúde, o nosso território”, diz o manifesto, numa referência às intenções de Bolsonaro de liberar a mineração, o agronegócio e o arrendamento das terras, com redação de projetos de lei em andamento.

Assinado por representantes de entidades indígenas e extrativistas, como o Conselho Nacional dos Seringueiros, o manifesto busca união para proteger a floresta.

“Quem nasceu primeiro não foi o Brasil, fomos nós povos originários e nós fomos massacrados, mas continuamos a resistir para poder existir”, declara o texto.

Segundo o último censo nacional, cerca de 900 mil brasileiros se reconheceram como indígenas. Nas últimas décadas, porém, especialistas afirmam que esse número vem aumentando. Trata-se de famílias miscigenadas que foram expulsas de seus territórios ao longo do tempo e agora buscam recuperar a identidade coletiva.

Atualmente, 256 povos indígenas vivem no Brasil, com 150 línguas diferentes. No século 16, quando os portugueses aportaram no país, entre 2 e 4 milhões de indígenas viviam no território divididos em cerca de mil povos.

Respeito pelo presidente

Aritana Yawalapiti, cacique no Parque Indígena do Xingu, disse nunca ter visto tantas lideranças reunidas numa aldeia. “Eu fiquei emocionado”, disse ao final do encontro.

A preocupação de Raoni, que convocou a reunião inédita, com o futuro das terras indígenas, também é motivo de insônia para Aritana. Com o documento elaborado pelos indígenas e que será encaminhado a Brasília, ele aguarda o início de um diálogo.

“Eu nunca vou sair gritando com um presidente, falando coisas para ofender. Eu tenho respeito por um presidente da República”, disse o cacique Aritana à DW Brasil. “Gritando, a gente não se entende. Só no diálogo”, afirmou.

Em uma de suas aparições internacionais em 2019, Bolsonaro afirmou na Assembleia das Nações Unidas que não reconhecia o cacique Raoni como um líder indígena no Brasil.

Numa referência a esse episódio, o manifesto assinado na aldeia Piaraçu reafirma o papel central de Raoni em sua luta firme e pacífica pelos direitos dessas comunidades. “Por isso apoiamos sua candidatura ao Nobel da Paz”, atesta o documento.

(Fonte: Terra)

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