No rastro das palavras, algoritmos da UFMS começam a identificar fake news
Fake news. Esta expressão em inglês para “notícias falsas” é, talvez, uma das expressões do século. Por elas acabam se informando muitas pessoas, especialmente com a consolidação de redes sociais e por conta delas, muito estrago acontece. A verdade da informação em tempos de avalanche de conteúdo motiva pesquisa inovadora na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul): pesquisadores treinaram algoritmos e desenvolveram sistema que, lendo palavras, consegue identificar as fake news.
“São os algoritmos” é outra frase que a maioria das pessoas ouve ao utilizar as redes sociais e perceber que cada um de nós recebe conteúdo diferente. Na tradução livre para os não falantes de nova língua mundial, a linguagem da programação, os algoritmos são como uma receita com passo a passo para executar ou resolver uma tarefa.
A definição de quem fala essa linguagem é “sequência lógica, finita e definida de instruções, regras e operações” que devem ser seguidas para resolver um problema ou executar uma tarefa.
Por trás dessa pesquisa tão útil para nossa época está o professor e pesquisador da Facom (Faculdade de Computação) Bruno Magalhães Nogueira, 34 anos, professor da UFMS há 5 anos e meio. Bruno é doutor pela USP (Universidade de São Paulo) e pela Universidade do Porto, em Portugal. Estuda inteligência artificial e a aplicação de algoritmos de aprendizado de máquinas (machine learning, em inglês) que analisam textos.
Análise de sentimentos – Este professor explica que a ideia para a pesquisa surgiu em meio à outra: analisava, junto com equipe, os “sentimentos” em publicações do twitter. “Nessa pesquisa, trabalhávamos com o que chamamos de análise de sentimentos, que é tentar detectar, automaticamente, o sentimento (positivo, negativo ou neutro) expresso pelo autor de uma publicação a respeito de uma pessoa ou um produto, por exemplo”, disse.
“Nesses documentos, sempre encontrávamos publicações que compartilhavam notícias e opiniões acerca de publicações de veracidade duvidosa. Isso chamou a nossa atenção e resolvemos investigar, com um pouco mais de profundidade, estas publicações”, emendou.
O projeto é desenvolvido no LIA (Laboratório de Inteligência Artificial) da Facom e envolve alunos da graduação e pós-graduação.
O caminho da palavra – É pelos padrões deixados nas palavras que os algoritmos conseguem identificar as notícias falsas e, até agora, acertaram em até 90% dos casos. “Nós apresentamos aos algoritmos de Aprendizado de Máquina conjuntos de notícias checadas por portais especializados e classificadas como verdadeiras ou falsas. Os algoritmos, então, analisam as palavras contidas nessas publicações e tentam encontrar padrões que caracterizem as notícias verdadeiras e falsas. Quando uma nova notícia chega, os algoritmos procuram, no conteúdo dela, pelos padrões que aprenderam e dão o veredito”, explica.
“O objetivo da nossa pesquisa é o desenvolvimento de uma ferramenta capaz de dizer se uma determinada notícia em língua portuguesa é verdadeira ou potencialmente falsa. Para isso, nós utilizamos algoritmos de Inteligência Artificial conhecidos como algoritmos de Aprendizado de Máquina. Estes algoritmos conseguem aprender padrões a partir de uma coleção de dados do passado”, complementa Bruno.
A ideia é produzir um sistema que todos possam acessar, inserir o link das notícias e esperar o veredito da inteligência artificial. “Estamos, inclusive, trabalhando em um protótipo de uma ferramenta que auxilie neste processo”, disse.
O professor afirma que o uso das fake news é parte da história da comunicação humana e cita, por exemplo, a disseminação durante as duas guerras mundiais.
“A propagação de notícias falsas com intuito de desinformação é algo que acontece há vários séculos na história. Por exemplo, notícias falsas eram bastante comuns nas duas guerras mundiais, para tentar enganar os adversários. O que acontece hoje é que esses conteúdos se tornaram mais conhecidos e propagados devido à facilidade de criação e divulgação”, comenta.
Bruno acredita que a internet e as redes sociais representam melhora social, especialmente, lembra, ao terem democratizado o acesso à informação. O desafio, diz, é lidar com tanto conteúdo.
“Os usuários estão cada vez mais tendo acesso a uma gama maior de informações, sobre os mais diversos temas e das mais diferentes regiões do mundo. Basta abrir um aplicativo para termos acesso a uma verdadeira avalanche de informações. Hoje, o acesso a notícias e informações é bem mais democrático do que há alguns anos, mas demanda uma análise crítica dos conteúdos para filtrar o que é verdadeiro e útil ao leitor”.
O humano importa mais – O pesquisador faz questão de enfatizar, as máquinas e a inteligência artificial surgiram para auxiliar e aperfeiçoar o ser humano, mas não para substitui-lo. “Creio que sistemas inteligentes, aqueles que possuem alguma inteligência artificial por trás, vão assumir, cada vez mais, papéis importantes no auxílio ao ser humano para a realização das mais diferentes tarefas – desde as relações interpessoais, por meio de redes sociais e ferramentas de comunicação, até as suas atividades profissionais”.
“Como professor e pesquisador, sou bastante otimista quanto ao futuro dessas tecnologias, creio que teremos cada vez mais ferramentas melhores e mais eficientes para criação e compartilhamento de conhecimento. Entretanto, o protagonista é, e sempre será, o ser humano. Por mais poderosas e eficientes que sejam essas ferramentas inteligentes, estas são apenas para o apoio ao ser humano em suas tarefas, cabendo sempre aos usuários e aos desenvolvedores a sua utilização correta e ética”, finaliza.
(Fonte: Campograndenews/UFMS)