Nova vida: Gilson se preparou para viver só até os 50 anos, mas teve de mudar de ideia

Gilson voltou a sorrir depois que o transplante deu certo: Vendedor passou mais de 15 anos na fila de espera por um transplante de rim e não aguentava mais o sofrimento – Fotos: Marina Pacheco

Gilson viveu 15 anos com a triste sensação de que morreria a qualquer momento. Diagnosticado com insuficiência renal, passou todo esse tempo enfrentando hemodiálise para sobreviver enquanto esperava pelo transplante de rim. O tempo de espera o fez pensar em morrer aos 50 anos. O olhar para a vida só mudou quando alguém decidiu pela doação de órgãos.

“Eu tinha esperança, mas depois de tanto tempo de espera eu me sentia cansado. Um dia, cheguei a pensar que se o rim aparecesse eu faria a cirurgia, mas se demorasse muito, eu torcia mesmo para viver só até os 50 anos e acabar logo com aquele sofrimento”, conta o vendedor Gilson Pereira da Silva.

Natural de Fátima do Sul, Gilson era comerciante no interior e diz que levava uma vida tranquila. Quando surgiram os primeiros sintomas, como dores e cansaço, ele foi ao médico e recebeu o diagnóstico. “Aquilo transformou a minha vida. Ao mesmo tempo em que eu tinha que continuar trabalhando precisava ser forte para seguir o tratamento. Mas não era nada fácil. A hemodiálise nem sempre é fácil”.

Gilson seguiu com o tratamento e a luta por um transplante. Além das angustias com a hemodiálise, o tempo de espera também foi massacrante. “Infelizmente eu não tinha ninguém próximo compatível ou que aceitasse a doação em vida. Dependia de alguém que autorizasse a doação em meio a dor de perder um ente querido”.

Foram 15 anos de espera. Altos e baixos. Esperança e depressão. Gilson diz que não sabia mais o que pensar, exceto viver bem menos do que se espera. “Chega um momento que a gente não quer mais sofrer, não quer se imaginar velho e cheio de dificuldades”.

Numa manhã de terça-feira, por volta das 7 horas da manhã, o telefone de Gilson toca e ele desaba em lágrimas, porém, de felicidade. “Era uma pessoa do hospital dizendo que um rapaz havia falecido e a esposa dele decidiu doar todos os órgãos. Eu não sei quem foi, mas naquele momento eu agradeci e desejei que essa família recebesse todo amor do mundo”.

Gilson se arrumou e foi até o hospital. A cirurgia ocorreu dentro do planejado. A recuperação foi mais fácil do que ele imaginava. Mas a alegria superou todas as expectativas. “Eu pensava que agora precisava viver. Pedi a Deus para que me deixasse continuar vivendo e honrasse o rim que uma família, que chorava por perder alguém querido, tinha acabado de me doar”.

Hoje, ele conta sua história e defende a doação de órgãos

O vendedor diz que não só voltou a viver, como já coleciona histórias pelos lugares onde passa. “Há alguns anos trabalhava como representante comercial e vendedor de joias. Então passei a trabalhar mais e dedicar meu tempo a viajar. Já conheci bons lugares desse nosso Brasil”.

Hoje, aos 50 anos, o sorriso é outro e a vontade de viver é imensa, diz ele. “Não há outra coisa no mundo que eu queira que não seja viver intensamente”.

Sobre a decisão de famílias sobre a doação de órgãos ele manda um recado. “Muitas vezes é difícil a gente pensar sobre isso num momento de dor. Mas todos nós podemos salvar uma vida. E isso deve ser conversado com a família sempre que necessário. Para que na hora da partida, todos saibam qual decisão tomar. Sem dúvidas, a doação de órgãos é um dos gestos mais lindos do ser humano”.

(Por Thailla Torres, do Campograndenews)

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